Passeata acaba em tumulto após enterro de dançarino no Rio
25 de abril de 2014Uma marcha de protesto pela morte do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira terminou em confronto entre os participantes e policiais militares nas ruas de Copacabana nesta quinta-feira (25/04).
De acordo com a imprensa brasileira, a marcha começou depois do enterro de Douglas, sepultado em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, e foi realizada por pessoas que voltavam do cemitério São João Batista, rumo à favela Pavão-Pavãozinho.
Por causa do confronto, o trânsito em algumas ruas de Copacabana foi interrompido por menos de meia hora. A poucos metros da subida da favela, após desentendimentos, a polícia recorreu ao uso de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Manifestantes atiraram objetos, como pedras e sacos de lixo, contra os policiais.
Segundo a imprensa brasileira, mesmo depois dos confrontos a situação continuava tensa na região junto à comunidade e praticamente todo o comércio estava de portas fechadas.
Antes, ainda no cemitério, já havia ocorrido um protesto, com centenas de pessoas gritando "Justiça!" e "polícia assassina!" durante o enterro do dançarino, conhecido como DG e que tinha ido à favela visitar a filha de 4 anos.
Cerca de 400 pessoas participaram da cerimônia. O caixão foi colocado em um jazigo simples. Antes de fecharem a sepultura, as pessoas presentes seguraram o caixão no alto e cantaram o Funk da paz, enaltecendo o amigo e protestando contra a violência policial.
Suspeita de assassinato
Douglas morreu na madrugada desta terça-feira, mas seu corpo só foi localizado no início da tarde, numa creche na comunidade do Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. A suspeita de que tenha sido assassinado pela Polícia Militar gerou uma onda de revolta por parte da comunidade.
O laudo preliminar do Instituto Médico-Legal (IML) apontou que o jovem foi morto por um objeto que atravessou o seu pulmão, possivelmente uma bala. Segundo o laudo do IML, o rapaz morreu devido a uma hemorragia interna decorrente "de laceração pulmonar proveniente de ferimento transfixante do tórax".
O delegado Gilberto Ribeiro, responsável pelas investigações sobre a morte do dançarino, disse que, com base nas análises da perícia feitas até o momento, não há indícios de que o jovem tenha sido espancado. Segundo Ribeiro, Douglas pode ter sofrido escoriações durante queda de uma laje.
"Ainda vamos aprofundar melhor isso. Vou conversar com o legista e tomar outras providências que me permitam ter uma conclusão definitiva, mas, a priori, pelo tipo de lesão apresentada, não há indicação de espancamento."
A mãe do dançarino, a técnica de enfermagem Maria de Fátima Silva, defende a tese de que o filho foi torturado antes de morrer.
Policiais foram ouvidos
O delegado já ouviu oito policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro do Pavão-Pavãozinho, zona sul do Rio, envolvidos no confronto com traficantes. Mais um policial prestará depoimento nesta sexta.
"Hoje estive na quadra onde houve o confronto para entender o local, estive na laje onde supostamente DG [Douglas] se encontrava no momento do confronto e de onde viriam disparos de arma de fogo na direção dos policiais militares", contou o delegado. "Não existem divergências, existem lacunas que teremos que procurar preencher com as investigações. Eles [PMs] admitem ter trocado tiros com os criminosos que atiraram na direção deles", completou Ribeiro, citado pela Agência Brasil.
Segundo o delegado, os policiais disseram ter visto um vulto pulando de uma laje para outra, vizinha à creche onde o corpo do dançarino foi encontrado, e que não atiraram na pessoa.
Na manhã desta quinta-feira foram entregues as armas dos militares usadas no confronto que serão analisadas pela perícia: seis fuzis e dez pistolas.
O delegado confirmou que a ação da PM no Pavão-Pavãozinho foi feita para encontrar o chefe do tráfico na comunidade, Adauto do Nascimento Gonçalves, o Pitbull, de 34 anos, que estava no local segundo informação recebida pelo Disque-Denúncia.
Ribeiro também investiga as circunstâncias da morte de Edilson Silva dos Santos, 27 anos, na terça-feira à noite durante manifestação para cobrar apuração do caso Douglas. "Essa investigação está prejudicada, pois dependo desse rapaz [testemunha que carregou o corpo] para me indicar o local e ele até agora não o fez."
AS/abr/lusa/afp