Fortes chuvas na cidade fluminense danificaram Casa da Princesa Isabel e Palácio Rio Negro. Iphan avalia estragos, mas análise ainda não é definitiva. Solo segue encharcado, podendo provocar novos deslizamentos.
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As intensas chuvas que atingiram Petrópolis nesta semana, matando ao menos 120 pessoas e deixando centenas desalojadas, também provocaram danos ao patrimônio histórico da cidade.
Entre os prédios danificados estão a Casa da Princesa Isabel e o Palácio Rio Negro. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) realiza vistorias para mapear o impacto.
O Museu Imperial, o mais conhecido da cidade, não sofreu danos, mas permanece fechado em luto. Dois prédios do complexo, onde funcionam o refeitório e vestiário dos funcionários, estão comprometidos em decorrência de um deslizamento no terreno anexo. Ambos foram interditados por medidas de segurança.
A Casa da Princesa Isabel foi a mais danificada. Um muro caiu, atingindo uma exposição sobre a colonização germânica em Petrópolis. Um carro levado pela correnteza atingiu os jardins.
O local pertenceu primeiro ao Barão do Pilar e foi adquirido em 1876 pela Princesa Isabel e o Conde d'Eu. Uma das últimas fotos da família imperial no Brasil foi tirada nas escadarias da varanda, pouco tempo antes da Proclamação da República e do exílio na Europa. Nos jardins, é possível observar camélias brancas, símbolo do movimento abolicionista.
As chuvas também provocaram danos no Palácio Rio Negro, no Centro Histórico. O piso térreo ficou inundado, e deslizamentos de terra atingiram a parte superior do terreno. De acordo com o jornal Extra, o prédio principal e o acervo, porém, não foram atingidos. Os móveis foram levados para o andar superior, abrigados da água.
Funcionários precisaram passar a noite no andar superior do palácio, impedidos de voltarem para suas casas por causa de enchentes e deslizamentos. Trabalhadores do Museu Imperial também ficaram ilhados e precisaram passar a noite no local, segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que administra o espaço.
O local onde seria construído o Palácio Rio Negro foi adquirido menos de três meses antes da Proclamação da República, em 1889, por Manoel Gomes de Carvalho, o Barão do Rio Negro. Apenas seis anos depois, o palácio foi vendido ao estado do Rio de Janeiro e passou a servir como residência oficial do governante – na época, a capital do Brasil era o Rio.
Em 1903, o local foi incorporado ao governo federal e passou a ser utilizado como residência oficial de verão dos presidentes da República.
Desde então, por ali passaram Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Brás, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luiz, Getúlio Vargas, Gaspar Dutra, Café Filho, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Costa e Silva e Fernando Henrique Cardoso.
Entre os presidentes, o mais assíduo frequentador foi Getúlio Vargas, que em seus 18 anos de governo passou todos os verões em Petrópolis. Em 2005, o local passou a ser administrado pelo Iphan.
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Chuvas dificultam avaliação dos danos
Petrópolis foi criada por decreto de Dom Pedro 2º em 1843. Apenas dois anos depois, começou a construção do Palácio Imperial, residência de verão preferida da família imperial brasileira – em 1940, o local foi transformado em museu. Atualmente, o espaço abriga o principal acervo do país relativo ao império brasileiro, com cerca de 300 mil itens.
A cidade tem cerca de mil imóveis tombados, de acordo com o Iphan. As vistorias para análise dos danos que estão sendo realizadas após o temporal não são conclusivas, pois ainda chove na cidade. Além disso, o solo continua muito encharcado, o que pode provocar mais deslizamentos, mesmo sem chuvas ou com chuvas fracas.
Outros museus da cidade apresentam pontos de alagamento, mas sem danos estruturais. Um dos mais conhecidos, a Casa de Santos Dumont, não foi danificado.
Novo temporal gera preocupação
Na quinta-feira (17/02), um novo temporal atingiu Petrópolis, provocando novas enchentes. Ruas do centro histórico precisaram ser interditadas devido a alagamentos. Sirenes tocaram em alguns locais e pessoas tiveram que sair de suas casas em locais como a Quitandinha. Na comunidade 24 de Maio, um novo deslizamento foi registrado.
O Instituto Médico Legal (IML) identificou 57 dos 117 corpos de vítimas que tinham sido encaminhados ao local até o início da manhã desta sexta-feira. Destes, 30 já foram liberados para sepultamento, de acordo com informações da Polícia Civil.
Dos 117 corpos que chegaram ao IML, 77 são mulheres e 40 são homens. Entre as vítimas há 20 crianças e adolescentes.
A Polícia Civil também está trabalhando na busca por desaparecidos.
Mensagens de solidariedade
O papa Francisco enviou nesta sexta-feira uma mensagem de condolências pelas vítimas e um desejo de serenidade e consolo pela tragédia, em telegrama enviado ao bispo da cidade de Petrópolis, Gregório Paixão.
O texto, assinado pelo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, em nome do líder da Igreja Católica, expressa profunda dor "pelas trágicas consequências" das inundações, além das condolências "pelas numerosas vítimas e todos os que perderam seus bens".
Francisco, além disso, transmite "consolo para todos os afetados, a quem deseja um rápido reestabelecimento e serenidade diante do doloroso teste que estão passando".
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou uma mensagem a Bolsonaro lamentando a tragédia. "Neste momento difícil, transmito, através de Vossa Excelência, em nome de todo o povo português e no meu próprio, meus mais sentidos pêsames a todos os afetados por essa catástrofe", disse em comunicado.
le/ek (Efe, ots)
Tesouros culturais e históricos destruídos
Incêndios, guerras, terremotos e enchentes destruíram parte da história da humanidade. Confira algumas perdas das últimas décadas, de museus a catedrais.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Correa
Catedral de Notre-Dame, Paris (2019)
Sobrevivente quase intacta de várias guerras, a Catedral de Notre-Dame, em Paris, foi parcialmente destruída por um incêndio em 15 de abril de 2019. A igreja começou a ser construída em 1163 e só foi concluída em 1345. Segundo o governo francês, o dano só não foi maior porque alguns funcionários colocaram suas vidas em perigo e entraram nas duas torres para combater o incêndio de dentro.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Camus
Museu Nacional, Rio de Janeiro (2018)
Um incêndio destruiu cerca de 90% do acervo e boa parte do prédio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 2 de setembro de 2018. Com 20 milhões de peças e documentos, era o quinto maior museu do mundo em acervo. Lá estavam, por exemplo, o fóssil de mais de 11 mil anos de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, e o sarcófago da sacerdotisa Sha-amun-en-su, mumificada há 2.700 anos.
Foto: Reuters/R. Moraes
Museu de História Natural, Nova Déli (2016)
Todo o acervo do Museu de História Natural da Índia, localizado em Nova Déli, foi consumido em um incêndio em 26 de abril de 2016. Entre as perdas incalculáveis, está um osso de dinossauro saurópode, com idade estimada em 160 milhões de anos.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Gupta
Museu da Língua Portuguesa, São Paulo (2015)
Em 21 de dezembro de 2015, o Museu da Língua Portuguesa, localizado na centenária Estação da Luz, em São Paulo, foi destruído por um incêndio, no qual morreu um bombeiro civil. Mais de 100 homens e 60 viaturas trabalharam no local. A maior parte do acervo, no entanto, por ser virtual, pode ser recuperada de cópias de segurança. A previsão é de que ele seja reaberto no primeiro semestre de 2020.
Foto: Getty Images/AFP/M. Schincariol
Hatra, Iraque (2015)
Entre os muitos patrimônios culturais destruídos pelo grupo "Estado Islâmico" está a cidade histórica de Hatra, no Iraque. Em abril de 2015, os extremistas divulgaram um vídeo em que aniquilavam o local (foto). Construída por volta do ano 300 a.C., a cidade foi capital do primeiro reino árabe da região, um dos únicos a resistir à invasão do Império Romano no segundo século depois de Cristo.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Militant video
Palmira, Síria (2015)
Em 2015, a organização terrorista Estado Islâmico destruiu várias construções da antiga cidade-oásis de Palmira, na Síria. Entre elas, os templos de Bel e Baalshamin (foto), erguidos há 2 mil anos, e um arco do triunfo construído por volta do ano 200. O EI também executou Khaled al-Assad, que por 50 anos foi chefe de arqueologia de Palmira, por ele ter escondido dos extremistas tesouros culturais.
Foto: picture alliance/AP Photo
Katmandu, Nepal (2015)
Cerca de 60% do patrimônio mundial da Unesco no Nepal foi destruído por um terremoto em 25 de abril de 2015, que também matou pelo menos 8,7 mil pessoas. Nas cidades reais de Bhaktapur, Patan e Katmandu, vários templos e estátuas dos séculos 12 até o 18 foram danificados ou completamente destruídos, entre eles, a Praça de Darbar (foto).
Foto: picture-alliance/dpa/N. Shrestha
Tombuctu, Mali (2012)
Em 2012, as cidades históricas de Tombuctu (foto) e Gao, no Mali, sofreram danos irreparáveis nas mãos de jihadistas. Entre os patrimônios destruídos, estão mausoléus – como o de Sidi Mahmoud Ben Amar –, a porta da mesquita Yahia, de centenas de anos, e milhares de manuscritos dos séculos 14, 15 e 16 sobre islamismo, filosofia, poesia, matemática, astronomia e medicina.
Foto: Getty Images
Áquila, Itália (2009)
Em 2009, uma série de abalos sísmicos (sendo o mais forte no dia 6 de abril) atingiu a região da cidade de Áquila, na Itália, causando a morte de cerca de 300 pessoas e destruindo centenas de prédios históricos. Entre os patrimônios danificados estão a igreja das Almas Santas e a Basílica de Santa Maria di Collemaggio.
Foto: dapd
Catedral de Nossa Senhora da Assunção, Porto Príncipe (2010)
Em janeiro de 2010 um terremoto no Haiti deixou mais de 220 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados. O sismo também destruiu prédios históricos da capital Porto Príncipe, como o Parlamento, o Palácio Nacional, que teve seus escombros implodidos em 2012, e a Catedral de Nossa Senhora da Assunção (foto), construída entre 1884 e 1914.
Foto: AP
Biblioteca e Arquivo Nacional, Bagdá (2003)
No início da ocupação liderada pelos Estados Unidos, em 2003, quando o caos se instaurou na capital, a Biblioteca Nacional de Bagdá (foto) foi incendiada, destruindo cerca de 25% de seus livros e de 60% dos arquivos, incluindo registros otomanos inestimáveis. No mesmo ano, cerca de 15 mil peças foram saqueadas do Museu Nacional de Bagdá. Um terço delas foi recupera e o museu reabriu em 2012.
Foto: cc-by-sa-nd-DAI
Budas de Bamiyan, Afeganistão (2001)
Entalhados em rochas há mais de 1.500 anos, duas estátuas de Buda no vale de Bamiyan, no Afeganistão, foram destruídas pelo Talibã em 2001 por serem consideradas afrontas ao Alcorão. Um dos homens que participou forçado do crime relatou que, primeiro, os Budas foram atingidos com tanques e disparos. Quando viram que não fazia efeito, colocaram explosivos para destruí-los.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Ahmed
Capela do Santo Sudário (1997)
A Capela do Santo Sudário, em Turim, na Itália, foi construída no século 17 para abrigar o tecido que teria envolvido o corpo de Jesus após a crucificação. O local foi destruído por um incêndio na madrugada de 11 para 12 de abril de 1997, mas a relíquia religiosa foi salva por bombeiros que entraram no prédio em chamas para resgatá-la. Somente após 21 anos, a capela foi reaberta.
Foto: picture-alliance/dpa/Ansa
Obras de arte, livros e manuscritos, Florença (1966)
Chuvas torrenciais atingiram a Itália e 80 milhões de metros cúbicos de água invadiram Florença em 4 de novembro de 1966, após o rompimento de um dique do rio Arno. Além de deixar dezenas de mortos, a água invadiu igrejas, galerias, museus e bibliotecas. Pelo menos 1.500 obras de arte ficaram danificadas ou se perderam para sempre, assim como milhares de livros, manuscritos e esculturas.