Tribunal Penal Internacional
30 de julho de 2008Depois de uma noite de excessos com numerosos feridos devido a protestos contra a extradição do ex-líder sérvio-bósnio Radovan Karadzic para ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional da ONU, em Haia, a paz retornou a Belgrado na manhã desta quarta-feira (30/07).
Na noite anterior, por volta de 15 mil nacionalistas sérvios participaram da manifestação contra a deportação de Karadzic, que se encontra agora em mãos do tribunal da ONU na Holanda. De Belgrado, o avião que levava o ex-líder sérvio-bósnio partiu para Roterdã na madrugada desta quarta-feira. Pela manhã, Karadzic foi levado à prisão da ONU para criminosos de guerra em Scheveningen, nas proximidades de Haia.
Entre os pontos de acusação do Tribunal Penal Internacional da ONU contra Radovan Karadzic estão genocídio e crimes contra a humanidade. Karadzic é o quadragésimo quarto sérvio a ser julgado pelo tribunal de Haia.
Nos últimos anos, o ex-líder político dos sérvios na Bósnia, considerado um dos responsáveis pelo pior crime de guerra na Europa após a Segunda Guerra Mundial – o massacre de Srebenica – trabalhara livremente, sob nome falso, como "Dr. Dragan Dabic", médico de medicina alternativa em Belgrado.
Pontos de acusação
Nove dias após sua prisão num ônibus de Belgrado, Radovan Karadzic foi entregue ao tribunal responsável pelo julgamento de criminosos de guerra da ONU. O governo de Belgrado anunciou que concordara em entregar Karadzic ao tribunal de Haia na noite de terça-feira.
Poucas horas depois, o acusado de crimes contra a humanidade foi transferido da prisão no centro da capital Sérvia para Scheveningen. Espera-se, que em um ou dois dias, ele seja levado perante um juiz. Seu advogado declarou que, inicialmente, Karadzic não se pronunciará sobre as acusações que lhe são feitas.
São 11 os pontos mencionados pelo tribunal na ata de acusação contra Karadzic: genocídio (massacre em Srebenica e outras localidades da Bósnia); cumplicidade em genocídio; crimes contra a humanidade (assassinato e extermínio); assassinato em violação de leis ou ao direito de guerra; homicídio premeditado em violação grave da Convenção de Genebra; perseguição; deportação e outras práticas inumanas; terrorismo contra civis; e seqüestro.
Batalhas de rua
Karadzic tem 30 dias para se pronunciar sobre as acusações. Da mesma forma que o ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, que morreu na prisão da ONU em 2006, o ex-líder político dos sérvios na Bósnia anunciou querer dispensar advogado e que pretende assumir sua própria defesa.
Radovan Karadzic é acusado de genocídio desde 1995. Em 1998, ele entrou na clandestinidade. O outro considerado responsável pelas atrocidades da guerra da Bósnia entre 1992 e 1995, o ex-chefe militar sérvio-bósnio Ratko Mladic, continua foragido.
Nos protestos contra a deportação de Karadzic, algumas centenas de jovens manifestantes atacaram policiais no centro de Belgrado. Durante as batalhas de rua, ficaram feridos 27 policiais, 21 manifestantes e dois jornalistas. Após os tumultos, a manchete da imprensa local foi "Caos em Belgrado".