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Pazuello prevê aprovação de vacina pela Anvisa em fevereiro

8 de dezembro de 2020

Em encontro tenso com governadores, ministro bate boca com João Doria, que acusou pasta de atuar de maneira ideológica contra Coronavac. Líderes estaduais pressionam por um plano de distribuição de vacinas.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello
Pazuello ouviu de Doria que governo Bolsonaro menospreza vacina chinesa por "questão ideológica, política ou falta de interesse"Foto: Getty Images/A. Anholete

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta terça-feira (08/12) em reunião com governadores que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve levar cerca de 60 dias para aprovar a aplicação em massa de qualquer vacina contra a covid-19.

Em clima tenso, o encontro, realizado em parte por videoconferência, teve ainda bate boca entre Pazuello e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre o desinteresse do governo federal na vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, a Coronavac.

Enquanto São Paulo firmou um acordo com o laboratório chinês para compra e produção do imunizante no Brasil, em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, o governo federal deu preferência para a vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford. O tema está no centro de uma disputa política entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro, seu desafeto.

Após a reunião, o Ministério da Saúde disse que firmou um acordo com os governadores para garantir que o governo federal comprará qualquer vacina que for aprovada pela Anvisa e que obtiver seu registro no país, incluindo a vacina chinesa.

Pazuello, contudo, afirmou que a agência "vai precisar de um tempo cumprindo essa missão" e disse apostar no início da vacinação com a AstraZeneca/Oxford. "O registro gira em torno de 60 dias. Se tudo estiver redondo, teremos o registro efetivo da AstraZeneca no final de fevereiro, dando início à vacinação", antecipou o ministro.

A estimativa sobre o tempo de registro na Anvisa vai de encontro ao plano de imunização anunciado por Doria na segunda-feira, que prevê o início da campanha de vacinação no estado de São Paulo já em 25 de janeiro de 2021, com a Coronavac.

Bate boca com Doria

Em relação às escolhas do governo federal em relação a vacinas, o governador paulista questionou Pazuello, durante a reunião desta terça, se o governo Bolsonaro menospreza a vacina chinesa por uma "questão ideológica, política ou por falta de interesse".

"O que difere, ministro, a condição e a sua gestão como ministro da Saúde de privilegiar duas vacinas em detrimento de outra vacina? É uma razão de ordem ideológica, é uma razão de ordem política ou é uma razão de falta de interesse em disponibilizar mais vacinas", disse Doria.

Ele se referia ao imunizante de Oxford/AstraZeneca e ao consórcio Covax Facility, que reúne empresas e governos de diversos países e ao qual o governo federal destinou R$ 830 milhões. Ao listar esses acordos, o governador frisou que ambas as vacinas estão na mesma situação da Coronavac, ainda sem aprovação da Anvisa.

Doria também lembrou o episódio em que o ministro da Saúde foi desautorizado por Bolsonaro após anunciar a intenção do governo de comprar 46 milhões de doses da vacina chinesa, em outubro. Algumas horas depois da fala de Pazuello, o presidente vetou a compra do imunizante.

"O seu ministério pagou à AstraZeneca R$ 1,2 bilhão sem a vacina, e a CoronaVac, que é a vacina do Butantan, que já temos uma parcela considerável e que o senhor na última reunião com 24 governadores anunciou que compraria 46 milhões [de doses]... Infelizmente o presidente desautorizou o senhor, foi deselegante com o senhor em menos de 24 horas e impediu que sua palavra fosse mantida perante os governadores", declarou.

Questionado pelo líder paulista se o Ministério da Saúde vai comprar a Coronavac se ela for aprovada pela Anvisa, Pazuello respondeu que "se houver demanda e houver preço, nós vamos comprar". "Todas as vacinas, todas as produções serão alvo de nossa compra", disse, lembrando que o Butantan é o "maior fabricante de vacina do nosso país e é respeitado por isso".

Pressão de governadores

O encontro desta terça, com alguns governadores presentes no Palácio do Planalto e outros participando por videoconferência, teve como objetivo definir uma estratégia nacional de vacinação, um dia depois de São Paulo ter anunciado seu próprio plano estadual.

Segundo líderes presentes, o governo federal estabeleceu a meta de garantir 420 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, suficientes para imunizar toda a população, levando em conta que é necessária a aplicação de duas doses por pessoa.

Após sair da reunião, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), afirmou que gostaria de "tranquilizar os goianos que não vai ter essa de nenhum estado 'sair na frente'" em relação à vacinação contra o coronavírus. "Todos seguirão o Plano Nacional de Imunização. E não importa a origem da vacina, se autorizada pela Anvisa será adquirida", escreveu no Twitter.

Por sua vez, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), fez um apelo a Pazuello para que o Ministério da Saúde "tente um diálogo" com o Instituto Butantan em relação à Coronavac.

"O Butantan é uma instituição brasileira, uma das maiores fornecedoras de vacinas deste país. Se vai ser a vacina do Butantan que ficará pronta primeiro no país, que a gente possa utilizar a vacina do Butantan", afirmou Santana durante a reunião, segundo vídeo publicado nas redes sociais.

Pazuello reiterou, porém, que a aposta do governo é iniciar a vacinação nacional com o imunizante desenvolvido pela AstraZeneca. A previsão, segundo ele, é submeter o pedido de registro da vacina à Anvisa em dezembro, para uma aprovação em fevereiro.

O governador do Ceará disse que o governo anunciou a previsão de distribuir 100 milhões de doses da AstraZeneca até junho, e mais 160 milhões de doses no segundo semestre. Segundo Santana, o ministério também teria prometido negociar 112 milhões de doses com outros laboratórios.

Citados pelo jornal O Globo, governadores presentes informaram que o Ministério da Saúde planeja apresentar um plano nacional de vacinação mais detalhado nesta quarta-feira, incluindo datas para vacinação e dados sobre compra dos insumos necessários, como agulhas e seringas.

EK/ots

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