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Pedaço da Grécia antiga resplandece em Berlim

Augusto Valente11 de junho de 2004

A beleza do Altar de Pérgamo é legendária. Desde o século 19 ele merece um museu próprio em Berlim. Porém, ferrugem e corrosão o ameaçavam há cinco décadas. Após dez anos de trabalhos está concluída sua restauração.

O Altar de PérgamoFoto: AP

Pérgamo (hoje Bergama, Turquia) era uma pequena cidade da Ásia Menor, situada diante da Ilha de Lesbos. Ao lado de Alexandria e Antióquia foi o terceiro dos principais centros culturais do Helenismo. O chamado Altar de Pérgamo, construído por Eumenes II entre 160 e 180 a.C., prestava-se aos sacrifícios a Zeus, o rei do Olimpo. Tratava-se de uma estrutura quase quadrada, de 38 x 36 metros, com uma grande escadaria rodeando a ara propriamente dita.

Um dos aspectos mais relevantes desse edifício eram as esculturas de mármore em meio-relevo, decorando os frisos do pódio. Com 2,30 metros de altura e 113 de comprimento, são um magnífico exemplo de expressividade, movimento e narrativa detalhada. Seu tema aparente é a Gigantomaquia, ou a vitória de Zeus e Atenas sobre seus inimigos, os Gigantes.

Divindade atribulada

Na realidade trata-se de um símbolo dos embates entre os gregos e os bárbaros, com o próprio rei Eumenes no papel do deus vencedor, tendo Atenas como protetora. De autor desconhecido, estima-se que sua execução esteve a cargo de uns 40 mestres, que conseguiram manter uma unidade de estilo admirável.

Em seus 2200 anos de existência, os deuses combatentes do Altar de Pérgamo têm tido um destino atribulado, que deixou marcas sensíveis. Ainda na Antigüidade Clássica, a estrutura foi desmontada e suas pedras empregadas na construção de um muro. No século 19, o engenheiro alemão Carl Humann descobriu os fragmentos: os trabalhos de escavação duraram de 1878 a 1886.

Das 117 placas originais dos frisos, pesando até 2,5 toneladas, cerca de 100 encontravam-se em estado mais ou menos completo. Através de um processo oficial, elas foram entregues aos Museus de Berlim, que construíram o Museu de Pérgamo especialmente com o fim de abrigar as preciosas esculturas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os fragmentos do altar ficaram primeiro guardados num depósito, sendo mais tarde levados para a União Soviética, que os devolveu em 1958 à então República Democrática Alemã, sob regime comunista. Já na época reconheceu-se a necessidade de uma restauração, sem que nada fosse feito. Assim, a ferrugem das peças de ligação e a corrosão natural continuaram agindo até a reunificação da Alemanha.

O quebra-cabeças de Pérgamo

Visitantes podem admirar novamente o Altar a Zeus, em BerlimFoto: AP

A restauração propriamente dita – com o apoio financeiro do Museu de Belas-artes de São Francisco e do Metropolitan Museum de Nova York – teve que esperar até 1994. Encerrados dez anos de trabalhos, os frisos do altar de Pérgamo resplandecem agora em toda a sua antiga glória.

Os relevos tiveram que ser desmembrados, livrados de fragmentos de cimento e limpados, e retiraram-se as buchas de latão e ferro que ameaçavam atacar a obra-prima da Antigüidade Clássica.

Durante a recomposição dos frisos foi até possível integrar fragmentos do altar até então relegados ao depósito da Coleção de Antigüidades de Berlim. Assim, um Gigante com cabeça de leão ganhou uma perna em forma de serpente, cuja função e lugar no gigantesco quebra-cabeças de mármore não pudera ser definida, até então.

E agora, a Ilha dos Museus

Segundo o curador Volker Kästner, os fragmentos do relevo retornaram ao estado em que se encontravam "quando de sua chegada em Berlim, no século 19". O diretor-geral dos Museus Estatais de Berlim, Peter-Klaus Schuster, elogiou em especial a sugestão do restaurador Silvano Bertolin, de Munique, de expor os frisos diante de uma superfície de calcário italiano cinza claro, valorizando ainda mais sua plasticidade. Até então eles estavam montados sobre uma parede de cimento.

O Museu de Pérgamo recebe mais de 800 mil visitantes por ano. Para surpresa da direção dos museus de Berlim, o processo não custou mais do que os 2,3 milhões de euros calculados em meados da década de 90.

Ilha dos Museus (Museumsinsel), BerlimFoto: Illuscope

Trata-se contudo apenas da ponta do iceberg de um projeto muito mais ambicioso: a restauração completa da Ilha dos Museus (Museumsinsel), de que o de Pérgamo faz parte. Ela deverá realizar-se entre 2008 e 2013, com custos estimados em dois bilhões de euros.