Berlim aprova lei voltada a melhorar condições para aqueles que andam a pé. Ao lado dos ciclistas, pedestres são as principais vítimas de acidentes de trânsito na capital alemã.
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Ao assumir o governo da capital alemã em 2016, a coalizão formada pelo Partido Social Democrata (SPD), Partido Verde e A Esquerda prometeu uma revolução na mobilidade urbana de Berlim. Carros deixariam ser o foco principal de medidas públicas nesta área, que dariam prioridade ao transporte público, ciclistas e pedestres.
A mudança seria voltada não somente a atender as necessidades da população, cuja maioria não tem carro, mas também a diminuir as emissões que causam o aquecimento global, fazendo com que Berlim alcançasse, assim, a neutralidade do carbono.
Desde então, alguns passos foram dados nessa direção: foi lançando um plano de investimento bilionário para o transporte público; uma lei de mobilidade urbana focada no transporte público e bicicletas; mais ruas estão sendo transformadas em "ciclorruas" – nas quais ciclistas têm prioridade –; e o sistema de ciclovias está sendo expandido, embora a uma velocidade bem mais lenta do que muitos esperavam.
Agora, no último ano do mandato da atual coalizão, o governo da capital alemã aprovou a primeira legislação para pedestres da Alemanha. A lei, que recebeu luz verde no fim de janeiro, é voltada a melhorar as condições no trânsito para esse grupo. Ao lado dos ciclistas, os pedestres são as maiores vítimas de acidentes de trânsito na cidade. Dos 50 mortos em acidentes no ano passado em Berlim, 19 eram pedestres.
"Com essa emenda, um estado alemão [Berlim é uma cidade-estado] regulamenta pela primeira vez sua política para pedestres numa base legal. Com isso, pedestres ganham um valor completamente novo", afirmou a secretária estadual de Transportes de Berlim, Regine Günther, quando a lei foi aprovada.
Entre as implicações legais, a nova legislação determina o aumento do tempo do semáforo verde para pedestres em cruzamentos, a ampliação de meios-fios adaptados para cadeirantes, a implementação de mais faixas de pedestres e também de mais bancos para descanso em áreas públicas.
Autoridades deverão ainda combater com mais rigor carros estacionados em locais proibidos, principalmente em esquinas, e violações de regras de trânsito que coloquem em risco pedestres e ciclistas. Para isso, a prefeitura pretende contratar mais funcionários que se dedicarão exclusivamente a monitorar essas infrações.
Com a nova lei, além de trazer mais segurança nas ruas para crianças idosos e deficientes, Berlim pretende se tornar mais atraente para pedestres, que correspondem ao maior grupo do trânsito, sendo 30% das distâncias percorridas na cidade a pé, enquanto transporte público corresponde a 27%, carros a 26% e bicicletas 18%.
Os impactos da nova legislação não devem ser notados de imediato, afinal, ainda deve demorar para todas essas mudanças saírem do papel – ainda mais em tempos de pandemia. Porém, apesar dos passos lentos, Berlim vai se tornando uma cidade cada vez mais voltada para o futuro.
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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter.
A história do metrô na Alemanha
A primeira linha subterrânea para transporte público na Alemanha foi inaugurada em 1902, em Berlim, cerca de 40 anos depois de a primeira do mundo ser aberta em Londres. Os alemães chamam o metrô de U-Bahn.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kalker
Berlim, pioneira na Alemanha
No dia 15 de fevereiro de 1902, foi inaugurado o metrô berlinense, partindo da estação da Praça de Postdam em direção à estação Stralauer Tor. Três dias depois, o meio de transporte foi aberto ao público. Até dezembro do mesmo ano, foram abertas nove estações na rede metroviária. Na Alemanha, o trem subterrâneo chama-se Untergrundbahn ou U-Bahn.
Foto: Imago/G. Leber
Londres, primeiro metrô do mundo
Em 1863, começaram a circular os metrôs em Londres, na época, locomotivas a vapor. Como a fumaça incomodava os passageiros, a linha foi encerrada precocemente. Em 1890, os túneis da capital londrina foram eletrificados. Em Paris, a primeira linha da rede de metrô foi inaugurada em 1900. O Chemin de Fer Métropolitain (caminho de ferro metropolitano) deu origem à abreviatura no português, metrô.
Foto: picture-alliance/Heritage-Images
Da Berlim Ocidental à Oriental
O metrô de Berlim, primeiro trem subterrâneo da Alemanha, cresceu com a expansão de seus trilhos, que inicialmente percorriam pouco mais de 10 quilômetros. Ele sobreviveu a duas guerras mundiais e o Muro de Berlim. Durante a divisão da cidade, o trem só chegava ao lado oriental, comunista, após inspeções rigorosas. A segurança foi redobrada, para evitar que alemães do leste fugissem para o oeste.
Foto: DW/Kate Brady
Hamburgo
A eficiência dos trens elétricos em Berlim inspirou a cidade portuária de Hamburgo, que inaugurou sua rede ferroviária subterrânea em 15 de fevereiro de 1912. Por causa do rio Elba, no entanto, grande parte da malha foi construída sobre viadutos e aterros.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Colônia e outras
Em outras grandes cidades alemãs, o metrô subterrâneo foi introduzido após a Segunda Guerra, por conta da reconstrução dos centros urbanos. A Stuttgart, ele chegou em 1966; a Essen, em 1967; e a Frankfurt e Colônia, em 1968. Na foto, a escada rolante da estação de metrô Heumarkt, em Colônia.
Foto: Imago/blickwinkel/S. Ziese
Munique
À capital da Baviera, o sistema de metrô subterrâneo só chegou na década de 1970. Inicialmente ele estava previsto para ser inaugurado em 1974, mas, devido aos Jogos Olímpicos de 1972, começou a funcionar já em 1971. Na foto, a estação Münchner Freiheit, decorada pelo designer e artista alemão Ingo Maurer, com espelhos no teto e luzes azuis.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Warmuth
A rede mais longa do mundo
Desde dezembro de 2017, a mais extensa malha metroviária do mundo é a de Xangai, na China, com 637 quilômetros. Na Alemanha, a maior rede de metrô é a de Berlim, com 144 quilômetros, 12ª colocada no ranking mundial.
Foto: Imago/Xinhua/D. Ting
O mais longo trecho subterrâneo
A mais longa linha subterrânea da Alemanha é a U7 (foto), de Berlim, com 31,8 km. Já a linha de metrô mais longa, que corre embaixo e sobre o solo, é a linha U1 em Hamburgo, com 55,8 km. Em termos de inclinação, a linha U3, entre Frankfurt e Hohemark, supera uma altura de 204 metros.
Foto: Imago/R. Peters
Bunker de guerra
Estações de metrô especialmente profundas sob o solo foram construídas nos antigos países socialistas durante a Guerra Fria, para servirem também de abrigo numa eventual guerra nuclear. O recorde mundial de profundidade é a estação de metrô Arsenalna, em Kiev, na Ucrânia, com 105,5 metros. Na foto, a escada rolante de uma estação de metrô em São Petersburgo.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
A estação alemã mais profunda
Já nos países ocidentais, os metrôs não são tão profundos devido a questões arqueológicas (Atenas e Roma) ou geológicas (Oslo e Washington). A estação mais profunda da Alemanha é a Messehallen, em Hamburgo, 26 metros abaixo do solo. Também suas escadas-rolantes são recorde alemão, com 22 metros de extensão.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Nesta coluna, ela escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.