Somente entre abril e junho, bloco europeu recebeu mais de 213 mil solicitações de refugiados, mais de um terço delas na Alemanha. Croácia se diz sobrecarregada e afirma que deixará migrantes atravessarem o país.
Anúncio
Mais de 213 mil pessoas pediram asilo na Europa entre abril e junho deste ano, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (18/09) pelo Departamento de Estatísticas da União Europeia (Eurostat). O número é 85% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado e 15% maior em relação aos três primeiros meses do ano. Desse total de pedidos, mais de um terço foi feito na Alemanha, que se tornou o principal destino dos migrantes que chegam à Europa.
Nos três meses avaliados, o país registrou 80,9 mil pedidos, o que equivale a 38% do total da UE. A Hungria está em segundo lugar, com 32,7 mil solicitações (15%), seguida da Áustria, com 17,4 mil (8%). Itália, França e Suécia registraram mais de 14 mil pedidos, ou seja, 7% do total.
A Hungria registrou a maior média de solicitações de asilo per capita: 3.317 por milhão de habitantes – à frente da Áustria, Suécia e Alemanha. Em comparação aos três primeiros meses do ano, o maior aumento no total de pedidos foi observado na Holanda e na Lituânia, onde os números mais do que dobraram.
Dos 213.200 pedidos de asilo feitos na UE, 43.995 foram de cidadãos da Síria, o que representa quase 20% dos requerentes. A maioria busca refúgio na Alemanha, Hungria, Áustria e Suécia. Em segundo lugar estão os refugiados afegãos, com 26.995 pedidos – 13% do total. Mais da metade deles pediu asilo à Hungria.
Os albaneses formam o terceiro maior contingente, com 17.665 pedidos (8%), ainda que o país seja candidato a se tornar membro da UE. Quase todos pediram asilo na Alemanha.
Entretanto, os cidadãos de países dos Bálcãs são os que têm maiores chances de terem seus pedidos negados, uma vez que muitos deles são os chamados "migrantes econômicos", que não têm direito à proteção internacional. Além disso, os países da região fazem parte de uma lista de "países seguros" que está sendo preparada pela UE, o que inviabilizaria a concessão de asilo a seus cidadãos.
Muitos membros do bloco europeu têm tido dificuldades para processar os pedidos de asilo. Até o final de junho, quase 600 mil requisições estavam pendentes, segundo o Eurostat – mais da metade na Alemanha.
Croácia "saturada" com grande número de refugiados
O primeiro-ministro da Croácia, Zoran Milanovic, declarou nesta sexta-feira que seu país está sobrecarregado com o número de refugiados que recebeu nos últimos dias e afirmou que irá redirecionar os migrantes para a Hungria e a Eslovênia.
"O que mais podemos fazer?", questionou Milanovic, explicando que seu país não consegue mais registrar as pessoas de acordo com as regras da EU. Ele disse, no entanto, que permitirá que os refugiados atravessem a Croácia.
"São bem-vindos aqui e podem passar pela Croácia, mas não fiquem aqui. Não porque não gostamos de vocês, mas porque a Croácia não é seu destino final", disse Milanovic. Não ficou esclarecido como o redirecionamento deverá ocorrer, uma vez que os governos húngaro e esloveno estão adotando medidas para impedir a entrada dos refugiados.
O ministro croata do Interior, Ranko Ostojic, informou que cerca de 13 mil migrantes entraram na Crácia desde quarta-feira. "Isso significa que nossa capacidade está mais do que saturada", observou.
Milanovic reitera que o país não irá selar suas fronteiras, mas disse que a situação está "além das nossas capacidades". Ele lançou um apelo à UE para que ajude Zagreb a lidar com o fluxo migratório.
RC/dpa/afp/ap
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.