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Pedro Parente pede demissão da presidência da Petrobras

1 de junho de 2018

Executivo era criticado por causa de política de preços que elevou valores dos combustíveis e culminou na greve dos caminhoneiros. Ivan Monteiro é indicado para presidir estatal interinamente.

Pedro Parente Nachfolge Brasilien
Foto: Reuters/A. Machado

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão do cargo na manhã desta sexta-feira (1º/06), durante uma reunião com o presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto. A demissão foi comunicada pela Petrobras por meio de fato relevante divulgado ao mercado financeiro.

Parente vinha enfrentando críticas devido à sua política de combustíveis. Colocada em prática em julho de 2017, ela determinou que os preços de derivados de petróleo comercializados pela empresa poderiam acompanhar diariamente as oscilações internacionais da cotação do óleo cru.

Com a alta do petróleo no mercado externo, a gasolina e o diesel sofreram mais de uma centena de reajustes no período. Os aumentos acabaram alimentando a insatisfação social no Brasil e deram impulso à greve de caminhoneiros que paralisou o país.

Nos últimos dias, pedidos de demissão de Parente vinham se multiplicando no meio político. As críticas partiram até mesmo de membros da base aliada.

Em sua carta de demissão, entregue a Temer, Parente disse que sua permanência na Petrobras "deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente".

"A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento", escreveu Parente.

Em comunicado, a Petrobras anunciou que o Conselho de Administração da estatal indicou Ivan Monteiro para a presidência interina da empresa. O engenheiro é o atual diretor executivo da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores e acumulará as duas funções.

Monteiro começou a trabalhar na estatal junto com o ex-presidente Aldemir Bendine, nomeado pela então presidente Dilma Rousseff. Alvo de investigação na Operação Lava Jato, Bendine perdeu o cargo. Monteiro, porém, permaneceu na estatal. Ele já passou pelo Banco do Brasil e em diversas instituições do mercado financeiro.

Trajetória e crise

Veterano do governo Fernando Henrique Cardoso que foi três vezes ministro, Parente assumiu a presidência da Petrobras em maio de 2016 com a missão de recuperar a empresa, que acumulava prejuízos bilionários e vinha perdendo valor de mercado por causa das políticas de subvenções de combustíveis promovidas pelo governo Dilma Rousseff e escândalos de corrupção.

A nomeação agradou o mercado. Temer se comprometeu a deixar para trás o intervencionismo na empresa que marcou o governo Dilma e garantir independência a Parente. A nova política ajudou a rechear os cofres da empresa, que viu seu valor de mercado se recuperar. Há apenas duas semanas, Temer afirmou que "salvou a vida" da Petrobras ao garantir que a empresa pudesse fixar preços sem interferência do governo. 

No entanto, o Planalto não parece ter levado em conta o impacto social dessa política e a possibilidade de altas sucessivas do petróleo, ainda mais num país tão dependente do transporte rodoviário – em que mais de 60% da carga transportada depende de caminhões.

Nos últimos 11 meses, o valor do diesel que abastece os caminhões acabou saltando 56% na bomba. Caminhoneiros passaram a se queixar do valor e de reajustes frequentes – algumas vezes até cinco por semana. Empresários começaram a apontar que tanta flutuação impedia qualquer previsibilidade no planejamento.

Diante da força da greve, que paralisou o país a partir de 21 de maio, a política de preços naufragou. Parente anunciou no dia 23 de maio que a Petrobras iria reduzir o valor do diesel em 10% por 15 dias. Segundo ele, não houve pressão do governo. Mas investidores não acreditaram. Diante do temor de que a empresa havia retornado aos dias de interferência política, os papéis da Petrobras desabaram. 

O governo ainda decidiu ampliar as medidas e anunciou que os reajustes do diesel vão agora ser mensais e que o governo vai bancar as subvenções, completando a desmoralização de Parente. No domingo passado, o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, disse que tal "colchão" de compensação para a Petrobras pode virar uma política permanente.

A empresa acabou perdendo 173 bilhões de reais do seu valor de mercado, anulando boa parte do trabalho de recuperação dos últimos dois anos. Nos últimos dias, membros do governo afirmaram que saída de Parente não estava na pauta do Planalto, mas analistas apontavam que era apenas uma questão de tempo para que o executivo deixasse o cargo.  

Após o anúncio da saída do presidente, as ações da Petrobras sofreram nova queda de 11,5% nesta sexta-feira. 

AS/JPS/CN/abr/efe

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