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Pegida e outros são consequência de falhas na Reunificação

Kay-Alexander Scholz (ca)20 de fevereiro de 2015

Por que movimentos de protesto xenófobos e eurocéticos possuem mais seguidores no leste alemão? Encarregada de Berlim para os estados da ex-RDA afirma que tal se deve a experiências negativas após a Reunificação.

Foto: picture-alliance/AP/J. Meyer

Pode-se dizer que Iris Gleicke é o rosto oficial dos alemães do leste no governo em Berlim: a política social-democrata da Turíngia é a "encarregada pelos novos estados alemães". Munida de sua experiência no movimento de oposição cidadã da ex-República Democrática Alemã (RDA), sob governo comunista, ela partiu para a política, lutando para que a unificação do país realmente englobasse todos os cidadãos e cidadãs.

Ela não esconde suas vivências pessoais atrás do cargo oficial, e também gosta de falar de si. Ao apresentar em Berlim o novo estudo Alemanha 2014: Somos um povo?, Gleicke disse ter mostrado aos homens no oeste que, como profissional e mãe solteira, pode-se muito bem conciliar ambos: carreira e filhos.

Segundo ela, após a queda do Muro de Berlim, as vivências de muitos alemães do leste podem explicar a maior desconfiança destes diante da política, como afirma o estudo. Isso ficaria evidenciado na maior aceitação, em comparação ao oeste, de movimentos políticos de protesto, como o Pegida (sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do ocidente"), ou de partidos populistas, como o Alternativa para a Alemanha (AfD).

Gleicke afirmou também entender que muitos alemães do leste se sintam desconsiderados, o que os leva a ofender os "lá de cima". Com isso, no entanto, enfatiza, ela não quer desculpar os alemães da antiga Alemanha Oriental por "caírem na lábia" dos sedutores neonazistas.

Debates ofensivos

Um bom exemplo de como tal atitude possa vir a surgir, prossegue, seria a recente discussão sobre a RDA como "Estado ilegítimo". Mesmo concordando-se a Alemanha Oriental foi uma ditadura, isso é apenas uma afirmação sobre o sistema, mas não sobre as pessoas que ali viveram. Para estas, a discussão funciona como uma "desvalorização da própria autobiografia". Quanto a seus próprios pais, Gleicke enfatiza que "eles foram pessoas decentes".

Há desigualdade também nas condições de vida. Quando o debate público ignora isso, os alemães do leste reagem com desaprovação. Salários, aposentadoria, pensão maternal: todos eles diferem entre o leste e o oeste do país. A adoção de um salário mínimo unificado para toda a Alemanha é, segundo a encarregada, "um sinal que já estava mais do que na hora" de ser dado.

Iris Gleicke é "rosto" do leste no governo em BerlimFoto: imago/epd

Além disso, entre os alemães do leste ainda repercute a experiência com a Treuhand, a sociedade fiduciária que privatizou o antigo "patrimônio do povo" da Alemanha Oriental. Em vez de ajudar as empresas do Estado extinto, até então em regime de economia controlada, a entrarem na economia de mercado, na década de 1990 a Treuhand se tornou "sinônimo de liquidação e falência". Segundo Gleicke, a sociedade fiduciária "não cometeu apenas erros, mas também fracassos fragorosos".

Politicamente fora de casa

A encarregada do governo alemão para o leste não está sozinha em suas avaliações: ela conta com o respaldo dos cientistas do oeste que realizaram o estudo sob sua encomenda e encabeçados pelo cientista político Everhard Holtmann. Por ocasião do 25° aniversário da queda do Muro de Berlim, entre setembro e outubro de 2014 eles entrevistaram 2 mil pessoas por telefone.

A equipe constatou características entre os alemães do leste que podem explicar indiretamente fenômenos como o partido AfD ou o movimento Pegida. Segundo Richard Hilmer, do instituto de pesquisa de opinião Infratest Dimap, a pesquisa demonstrou que tanto os cidadãos do leste como do oeste sabem avaliar bem suas condições de vida.

Politicamente, no entanto, eles se posicionaram de forma diferente. Além disso, os alemães do leste de meia-idade têm a sensação de carregar uma "carga de preocupação maior quanto a temas como aposentadoria, filhos, imigração e integração".

Salário mínimo unificado na Alemanha passou a valer no início de 2015Foto: picture-alliance/dpa

Céticos, críticos, pessoais

O estudo apontou que quase três quartos dos alemães do oeste se sentem "politicamente em casa" na República Federal da Alemanha – contra apenas cerca da metade dos alemães do leste. Além disso, 28% deles não tem a menor confiança na democracia. Segundo Oscar W. Gabriel, da Universidade de Stuttgart, "esse é o potencial a partir do qual podem nascer movimentos sociais ".

Os pontos de vista dos alemães do leste seriam "efetivamente mais céticos, críticos e pessoais", resumiu Iris Gleicke. Embora a pesquisa tenha mostrado que muito já foi alcançado, ela faz questão de não quer esconder os déficits. Por exemplo, o fato de a força econômica do leste ainda estar bem longe do nível do oeste. No geral, entretanto, a Unificação Alemã seria "um desdobramento bom e bem-sucedido".

Ela diz desejar um amplo debate sobre a questão que dá o título ao estudo: somos um povo? Sua próxima luta é para que, até 2019, as leis de aposentadoria sejam unificadas no leste e no oeste, como estabeleceu o acordo da coalizão de governo em Berlim.

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