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Perspectivas difíceis

DW (nw/av)24 de dezembro de 2008

Foi um ano de apertos para as relações exteriores: Afeganistão, China, Rússia. Seus protagonistas – Merkel e Steinmeier – discordam entre si, e no próximo ano serão adversários abertos na disputa pela chefia de governo.

O ministro do Exterior e a premiê: duas políticas externas?Foto: AP

O evento mais espetacular da política externa alemã em 2008 teve como protagonista, não o governo federal em Berlim, mas sim um estrangeiro até então relativamente desconhecido: Barack Obama. Como candidato democrata à presidência norte-americana, ele visitou a capital alemã em julho e discursou perante um público de 200 mil pessoas.

Dificilmente tantos haveriam comparecido, ainda que todo o governo alemão resolvesse apresentar-se de uma vez diante da Coluna da Vitória. Obama enfatizou em seu texto a cooperação transatlântica. Que George W. Bush arruinara – pelo menos é esta a opinião de muitos alemães.

Afeganistão: no, we can't

Em conseqüência, a atenção pública alemã praticamente ignorou a visita de despedida de Bush à chanceler federal alemã, Angela Merkel. Em diversas ocasiões ela já deixara claro onde ficam os limites absolutos para a política externa alemã. Por exemplo, no tocante à presença militar no Afeganistão: em hipótese alguma enviaria tropas ao sul do país, o foco dos combates. Um radical "no, we can't" do qual ainda falta convencer o novo presidente Obama.

Obama em BerlimFoto: AP

Berlim considera seu empenho pela estabilização do Afeganistão já bem acima da média: em outubro, o mandato da Bundeswehr foi ampliado para um máximo de 4.500 homens. Na opinião do ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, os aliados deveriam reconhecer tal engajamento.

"Não só o que a Bundeswehr faz, mas também o que alcançamos com a numerosa ajuda para a reconstrução. Isso impõe respeito, também nos Estados Unidos, também a seu novo presidente", afirmou. Ainda sim, o Afeganistão permaneceu o tema mais penoso para a política de segurança alemã em 2008: dificuldades na formação da polícia e exército afegãos, e ataques do Talibã contra acampamentos e patrulhas alemãs.

Merkel obscurecida por Sarkozy

A atuação militar da Alemanha se estendeu também ao Kosovo, à Bósnia, o Chifre da África e diante da costa libanesa, além do envio de observadores desarmados ao Sul do Sudão e à Geórgia. E sua participação na missão antipirataria da UE na costa da Somália encerrou o ano.

Porém, no geral, a política externa de Berlim em 2008 pareceu muitas vezes reservada, por outras até mesmo indecisa. Uma parte do que o país alcançara no ano anterior – quando ocupou a presidência rotativa da União Européia – sucumbiu sob a crise financeira e o "não" da Irlanda ao tratado constitucional da UE.

Merkel à sombra de SarkozyFoto: AP

Merkel deixou de ser a figura de ação, no centro da ribalta; seu relativo brilho foi ofuscado pelo hiperativo presidente francês, Nicolas Sarkozy. Pela hesitação em fechar o bilionário pacote de apoio à conjuntura, como resposta à crise global, Merkel foi repreendida abertamente por Paris.

Quando, como punição, a presidência francesa da UE exclui-a de determinados encontros de cúpula, Steinmeier comentou assim a situação: "Para dizer a verdade, não acho nem um pouco bonito a Alemanha e a chanceler federal não estarem presentes".

Aliados ou adversários?

Um outro obstáculo também marcou o ano diplomático de 2008 na Alemanha: a discordância parcial entre seus protagonistas, a democrata-cristã Merkel e o chefe da diplomacia, o social-democrata Steinmeier. Sobretudo no modo de lidar com países como a China, a Rússia ou a Síria, as opiniões de ambos chocam-se de frente.

Merkel tende ou à franqueza total, ou se retrai totalmente. Steinmeier aposta na aproximação através da diplomacia e do diálogo. O fato não é novo, porém agravou-se em 2008, levando a impasses bastante embaraçosos. Um prato cheio para a oposição: a Alemanha não tem uma, mas sim duas políticas externas, atiçou por exemplo o líder da bancada verde no Parlamento, Jürgen Trittin.

Steinmeier: radiante candidato à Chancelaria Federal em 2009Foto: AP

Até mesmo o Dalai Lama sentiu na pele tal discrepância: em sua segunda visita ao país, a ministra do Desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul foi a única figura do gabinete governamental a recebê-lo. Em 2007, o encontro entre Merkel e o líder espiritual tibetano irritara seriamente a Pequim. E também ao ministro alemão do Exterior, em cuja opinião é alto demais o preço de tais reuniões para a política externa.

O fato de Steinmeier haver sido indicado para concorrer à Chancelaria Federal não deixa esperar muito das relações exteriores alemãs em 2009. Em ano eleitoral, o candidato do Partido Social Democrata (SPD) terá que forçosamente se destacar em relação à chefe de governo em exercício. O que de certo abafará a força de impacto da política externa da Alemanha.

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