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Perspectivas sombrias para o Brasil

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
23 de janeiro de 2020

Quatro pesquisas de institutos renomados indicam crescimento lento da economia e perda de importância como destino de investimentos. Sem aumento da produtividade, desemprego não deve diminuir nos próximos anos.

Brasil ameaça ter mesmo destino de Espanha e Grécia quanto ao alto desempregoFoto: picture-alliance/D. Cesare/Estadao Conteudo

A reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos é sempre uma boa ocasião para um registro do momento econômico e para um prognóstico: como a economia global continuará a crescer, quais são os maiores problemas? Pois pontualmente para o encontro nos Alpes suíços, inúmeras organizações e empresas fornecem suas previsões para o desenvolvimento da economia global. 

Essas previsões podem, claro, estar erradas. Por exemplo, é surpreendente que o Fundo Monetário Internacional (FMI) preveja que a economia global cresça 3,3% este ano. Por outro lado, o Banco Mundial – a entidade "irmã" do FMI em Washington e responsável pelo financiamento de projetos de desenvolvimento – espera apenas 2,5%.

As análises da perspectiva brasileira levam a uma constatação chocante: as perspectivas para a maior economia da América Latina são sombrias. As únicas boas notícias vêm do FMI, que aumentou levemente a projeção de crescimento do Brasil para este e próximo ano: de 2% para 2,2% neste ano e para 2,3% em 2021.

Isso faz do Brasil um dos poucos países cuja perspectiva melhorou nos últimos meses. As previsões para a Índia, México ou África do Sul, por exemplo, foram revisadas significativamente para baixo.

Mas a melhora não é realmente um motivo de alegria para o país. Com 2,2% este ano, o Brasil deverá crescer muito mais lentamente do que a economia global como um todo (3,3%). 

Em comparação com os mercados emergentes, ou seja, com as outras economias em ascensão, a situação do Brasil é ainda pior: o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro será provavelmente apenas metade daquele registrado por esse grupo de países, que precisam de um crescimento particularmente alto para reduzir a pobreza em seus territórios.

A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, disse que, por um lado, a reforma previdenciária e as baixas taxas de juros no Brasil melhoraram as perspectivas de crescimento. Mas isso está longe de ser o suficiente para permitir que o país cresça de forma duradoura. Segundo Gopinath, novas reformas no setor público são urgentemente necessárias.

A pesquisa realizada pela empresa de consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC) entre 1.581 líderes empresariais em todo o mundo também foi decepcionante: quando indagados sobre qual país desempenharia um papel importante nos negócios globais, o Brasil passou de 6º no ano passado para 9º lugar em 2020. 

Durante anos, o Brasil esteve no topo da lista, ao lado da China, dos EUA e da Alemanha, como um dos locais de investimento mais importantes do mundo. Agora, polos e mercados como Japão, Austrália ou França deixaram o Brasil para trás.

Os prognósticos são ainda mais pessimistas quando se analisam isoladamente as previsões dos líderes empresariais brasileiros na pesquisa: 78% dos CEOs disseram esperar que o faturamento aumente este ano. Mas a maioria dos chefes de empresas deseja alcançar esse aumento de receita através do crescimento orgânico. 

Em linguagem simples, isso significa que as empresas não estão planejando nenhum investimento para expandir suas capacidades este ano. Elas ainda se encontram subutilizadas após seis anos de recessão e estagnação.

As consequências sociais dessa baixa disposição para o investimento ficam evidentes na pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostrando que o desemprego pouco diminuirá no Brasil nos próximos cinco anos. Em vez de 12% de taxa de desemprego, 11,4% dos brasileiros em idade ativa ​​ainda estarão sem trabalho em 2025. 

Ou seja, em vez dos 12,8 milhões de desempregados de 2019, haverá "apenas" 12,6 milhões de pessoas à procura de trabalho daqui a cinco anos. A OIT diz sucintamente: "Não vemos razão para supor que o desemprego caia abaixo do nível de 2014 nos próximos anos."

No início da recessão, a taxa de desemprego de 6,7% no Brasil era pouco menos da metade do que vem sendo há três anos. No país, essa taxa é atualmente cerca de três vezes maior que a média global. O Brasil ameaça ter o mesmo destino da Espanha ou da Grécia, onde o desemprego ainda é extremamente alto, mesmo uma década depois da crise financeira global.

Para esclarecer o quadro sombrio: é impressionante que tanto o FMI quanto o Banco Mundial como a OIT vejam a quase paralisada produtividade da economia brasileira como o principal obstáculo para a criação de mais empregos e rápido crescimento: além da formação profissional, são as condições básicas da economia que precisam ser urgentemente melhoradas.

A implantação do 5G e da inteligência artificial, como também a digitalização do setor público e da economia devem agora ser promovidos o mais rápido possível.

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

 

 

 

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.

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