Peru embarga R$ 190 milhões da Odebrecht e sete empresas
19 de fevereiro de 2017
Todas estão envolvidas na Lava Jato. Jornal afirma que governo de Alan García adicionou 1,9 bilhão de dólares ao orçamento da estrada interoceânica, a cargo da Odebrecht.
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Autoridades do Peru ordenaram o embargo de mais de 150 milhões de sóis (142 milhões de reais) em propriedades e contas bancárias da construtora brasileira Odebrecht no país, informou nesta sexta-feira (17/02) o site peruano Ojo Público.
O valor total chega a 200 milhões de sóis (190 milhões de reais) se forem incluídas outras sete empresas brasileiras envolvidas no caso Lava Jato. Os nomes não foram divulgados para não atrapalhar as investigações, segundo o site. Segundo o jornal El Comercio, entre elas estão a Queiroz Galvão e a OAS.
Do total embargado da Odebrecht, cerca de 60 milhões de sóis correspondem a terrenos no departamento de Lambayeque, no noroeste do país.
A Odebrecht declarou à Justiça dos Estados Unidos que pagou subornos no valor de 29 milhões de dólares no Peru entre 2005 e 2014, um período que compreende os governos de Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (2006-2011) e Ollanta Humala (2011-2016).
Neste domingo, El Comercio informou que o governo do presidente Alan García acrescentou 1,9 bilhão de dólares ao orçamento original para a construção da estrada interoceânica, a cargo da Odebrecht. Uma investigação do jornal revelou que o governo destinou esse valor, equivalente a 45% do custo total do projeto, para variados custos de construção, manutenção e juros da obra.
O ex-presidente, que neste sábado retornou à Espanha após responder a uma convocação da procuradoria peruana por outro caso vinculado à Odebrecht, assinou uma série de decretos de urgência e cerca de 15 adendos nos contratos que significaram ampliações de prazos de execução.
Entre 2008 e 2010, o governo de García autorizou dois empréstimos do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), no valor de 234 milhões de dólares, que incorporou ao orçamento da interoceânica, além de outros 200 milhões de dólares.
Os diretores da Odebrecht visitaram García em 16 oportunidades no palácio de governo, e o ex-mandatário também foi convidado à capital paulista pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com todas as despesas pagas, em 2008, segundo El Comercio.
Consultado pelo jornal, García respondeu que quem maneja com exatidão os dados sobre a interoceânica é o então ministro dos Transportes e Comunicações, Enrique Cornejo, que está afastado da cúpula do Partido Aprista desde que revelou suas intenções de querer dirigir a legenda.
García atribuiu a Cornejo a designação de seu então vice-ministro de Comunicações, Jorge Cuba, detido em Lima por supostamente ter recebido uma propina de 2 milhões de dólares da Odebrecht para a construção da linha 1 do metrô da capital peruana.
Por sua vez, o ex-presidente Toledo tem uma ordem de captura internacional, uma vez que mora nos Estados Unidos, por supostamente ter recebido 20 milhões de dólares para conceder à Odebrecht a construção dos trechos 2 e 3 da interoceânica.
AS/efe/ots
Entenda a Operação Lava Jato
A Polícia Federal apura, desde 2014, um esquema bilionário de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos. Entenda a maior investigação sobre corrupção já conduzida no país.
Foto: AFP/Getty Images
O início
A Operação Lava Jato foi deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março de 2014. Começou investigando um esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro e descobriu a existência de uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. O nome vem de um posto de gasolina em Brasília, um dos alvos da PF no primeiro dia de operação.
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O esquema
Executivos da Petrobras cobravam propina de empreiteiras para, em troca, facilitar as negociações dessas empresas com a estatal. Os contratos eram superfaturados, o que permitia o desvio de verbas dos cofres públicos a lobistas e doleiros, os chamados operadores do esquema. Eles, por sua vez, eram encarregados de lavar o dinheiro e repassá-lo a uma série de políticos e funcionários públicos.
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As figuras-chave
O esquema na Petrobras se concentrava em três diretorias: de abastecimento, então comandada por Paulo Roberto Costa; de serviços, sob direção de Renato Duque; e internacional, cujo diretor era Nestor Cerveró. Cada área tinha seus operadores para distribuir o dinheiro. Um deles era o doleiro Alberto Youssef (foto), que se tornou uma das figuras centrais da trama. Todos os citados foram condenados.
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As empreiteiras
As grandes construtoras do país formaram uma espécie de cartel: decidiam entre si quem participaria de determinadas licitações da Petrobras e combinavam os preços das obras. Os executivos da estatal, por sua vez, garantiam que apenas o cartel fosse convidado para as licitações. Entre as empresas investigadas estão Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Vários executivos foram condenados.
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Os políticos
O núcleo político era formado por parlamentares de diferentes partidos, responsáveis pela indicação dos diretores da Petrobras que sustentavam a rede de corrupção dentro da estatal. Os políticos envolvidos recebiam propina em porcentagens que variavam de 1% a 5% do valor dos contratos, segundo os investigadores. O dinheiro foi usado, por exemplo, para financiar campanhas eleitorais.
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De Cunha a Dirceu...
A investigação só entrou no mundo político em 2015, quando a Lava Jato foi autorizada a apurar mais de 50 nomes, entre deputados, senadores e governadores de vários partidos. Desde então, viraram alvo de investigação políticos como os ex-parlamentares Eduardo Cunha (foto) e Delcídio do Amaral, ambos cassados, os senadores Renan Calheiros, Fernando Collor e o ex-ministro José Dirceu.
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... e Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu em dez processos relacionados à Lava Jato, sendo acusado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. As denúncias indicam que Lula teria recebido benefícios das empreiteiras OAS e Odebrecht, envolvendo imóveis no Guarujá e São Bernardo do Campo. Em 2018, ele foi preso e teve uma nova candidatura à Presidência barrada.
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As prisões
A Lava Jato quebrou tabus no Brasil ao encarcerar altos executivos de empresas e importantes figuras políticas. Entre investigados e aqueles já condenados pela Justiça, estão o executivo Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht; Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara; Sérgio Cabral, ex-governador do Rio; os ex-ministros José Dirceu (foto) e Antonio Palocci, entre outros.
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As delações
Os acordos de delação premiada são considerados a força-motriz da operação. Depoimentos como o de Marcelo Odebrecht (foto) chegam com potencial para impactar fortemente a investigação. O acordo funciona assim: de um lado, os delatores se comprometem a fornecer provas e contar o que sabem sobre os crimes, além de devolver os bens adquiridos ilegalmente; de outro, a Justiça reduz suas penas.
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O juiz
Responsável pela Lava Jato na 1° instância, o ex-juiz federal Sergio Moro logo ganhou notoriedade. Em manifestações, foi ovacionado pelo povo e chegou a ser chamado de "herói nacional". Mas também foi acusado de agir com parcialidade política. Em 2018, deixou o cargo e aceitou ser ministro do presidente Jair Bolsonaro, cuja candidatura foi beneficiada pela prisão de Lula no ano anterior.
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Expansão internacional
Se começou num posto de gasolina em Brasília, a Lava Jato ganhou proporções internacionais com o aprofundamento das investigações. Segundo dados do Ministério Público Federal levantados a pedido da DW Brasil, a investigação já conta com a cooperação de pelo menos outros 40 países (veja no gráfico acima). Além disso, 14 países, fora o Brasil, investigam práticas ilegais promovidas pela Odebrecht.
Um terremoto político
Ao longo de cinco anos, a Lava Jato influenciou o impeachment de Dilma Rousseff, enfraqueceu o governo Michel Temer e contribuiu para a derrocada de velhos caciques do PT, MDB e PSDB. Em 2018, Lula, então favorito para vencer as eleições presidenciais, foi preso e teve a candidatura barrada. As investigações também fortaleceram um discurso antissistema que beneficiou a campanha de Bolsonaro.
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Críticas e revelações
A Lava Jato também acumulou acusações de parcialidade e de abusos em seus métodos. Em 2019, os procuradores da força-tarefa foram duramente criticados por tentarem criar uma fundação para gerenciar uma multa bilionária da Petrobras. No mesmo ano, conversas reveladas pelo site "The Intercept" apontaram suspeita de conluio entre Moro e os procuradores na condução dos processos, o que é proibido.