Peru volta a ter a maior taxa de mortalidade por covid
1 de junho de 2021
Governo revisa dados e número de óbitos quase triplicam, passando dos oficiais 70 mil para mais de 180 mil. Mortalidade sobe para 551 mortes por 100 mil habitantes.
Em agosto do ano passado, Peru chegou a registrar também a maior taxa de mortalidade por covid-19 do mundoFoto: Oscar Rosario/AFP
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Após uma revisão de dados, o Peru voltou nesta segunda-feira (31/05) a ser o país com a maior taxa de mortalidade por covid-19 do mundo. Mais de 111 mil óbitos foram acrescentados ao total de mortos no país devido à nova metodologia adotada pelo governo, que quase triplicou o saldo no impacto do coronavírus desde o início da pandemia.
Para esclarecer o real impacto da pandemia, o governo peruano lançou em abril um grupo de trabalho técnico, formado por membros da sociedade civil e funcionários do setor da saúde. A equipe desenvolveu uma nova metodologia para a contagem de óbitos.
Até agora, o governo produzia um relatório diário de mortes causadas pela pandemia que incluía apenas óbitos de pacientes sintomáticos que testaram positivo para o vírus. Especialistas, no entanto, afirmam que esse tipo de abordagem gera uma subnotificação dos números.
Agora, o comitê técnico forneceu ao governo uma nova ferramenta de contagem de casos que utiliza o banco de dados do sistema nacional, mas o enriquece com outras informações. Além do teste molecular reativo para SARS-CoV-2, os especialistas acrescentaram seis outros critérios, incluindo casos suspeitos com quadros clínicos compatíveis com a doença, entre outros.
Foi com base na aplicação desta nova metodologia que o grupo de trabalho fez uma estimativa e apontou que 180.764 estava mais próximo do número real de mortes causadas pela covid-19. O número é muito maior do que os quase 70 mil óbitos registrados no último relatório oficial do governo.
Modelo para outros países
Com a mudança e a revisão dos dados, o Peru passou novamente a ser o líder da taxa de mortalidade pela doença no mundo, um recorde que o país chegou a manter em agosto do ano passado, durante a primeira onda de contágios.
A taxa agora subiu para 551 mortes por 100 mil habitantes, superando assim a taxa de países como Hungria e República Tcheca, que no início lideraram o ranking mundial, com taxas de 304 e 283 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Segundo a Universidade Johns Hopkins, o Brasil registra uma taxa de 219,28, a 10ª maior do mundo, se excluído o país nanico San Marino.
Após a apresentação do relatório, o ministro da Saúde peruano, Oscar Ugarte, afirmou que a nova metodologia é "um exemplo a ser seguido" e disse que pretende apresentar o modelo à Organização Mundial da Saúde (OMS) para que outros países possam enriquecer seus próprios dados.
Ugarte destacou ainda que o relatório final do grupo técnico não está dizendo que há mais mortes do que havia, mas que um número significativo delas não foi identificado como causado pela covid-19. "São identificadas como uma atualização das informações, e é assim que continuará a partir de amanhã", acrescentou.
cn (Efe, dpa, Lusa)
Pandemia no Brasil pelos olhos de um fotógrafo de guerra
Após cobrir conflitos em 35 países, o fotógrafo francês Jonathan Alpeyrie dirigiu suas lentes à evolução da pandemia de covid-19 no Rio de Janeiro e Manaus. Um painel contundente.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Um rosto aos mortos
Com uma média diária de quase 4 mil mortos, o Brasil é um dos países mais atingidos pela pandemia. O fotógrafo francês Jonathan Alpeyrie esteve lá no terceiro trimestre de 2020, também para dar um rosto às muitas vítimas da covid-19. Como neste enterro no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, um dos maiores da América do Sul.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Último adeus com distanciamento
Morto pelo novo coronavírus, um sexagenário, membro importante da comunidade da Favela Santa Marta, no bairro de Botafogo, é levado para o túmulo por funcionários de vestes protetoras. Os moradores dos bairros cariocas mais pobres têm sido vítimas numerosas da fúria do vírus e de uma política de saúde mais do que caótica.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Boas intenções não bastam
Não faltam iniciativas bem intencionadas de mitigar os efeitos letais do vírus potente, veloz e em frequente mutação. Porém elas não bastam para compensar as falhas de um sistema de saúde cronicamente deficiente e de uma liderança política contraditória e mesmo irresponsável. A pandemia avança: o Instituto Oswaldo Cruz não descarta que, em breve, as mortes diárias cheguem a 5 mil ou mais.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Em meio à guerra da pandemia
O francês Jonathan Alpeyrie é um repórter de guerra clássico. Suas foto-reportagens já o levaram à Síria, Ucrânia, Afeganistão e a focos de conflito na África, entre outros. Em 2020 ele esteve em Manaus, onde a variante P.1 do coronavírus foi detectada pela primeira vez. Cientistas temem que ela seja duas vezes mais contagiosa do que a cepa original.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Cavando novas sepulturas
Atualmente pesquisadores partem do princípio que a virulenta mutação P.1 seja a predominante em todo o Brasil. O presidente Jair Bolsonaro é com frequência cada vez maior responsabilizado pelo descontrole da pandemia, após ter minizado a ameaça por tanto tempo. Neste cemitério de Manaus, novas sepulturas tiveram que ser cavadas em ritmo acelerado, para comportar os muitos mortos a cada dia.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Impacto econômico no Norte
O coronavírus já alcançou os recantos mais distantes do Amazonas, vitimando em especial as populações mais frágeis, como a indígena. Os jovens da foto vivem em palafitas a uma hora da capital. A pandemia os atinge também economicamente, pois, com o desaparecimento dos turistas, vão-se também suas possibilidades de ganhar a vida.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Fé, a última que morre
Com tantas incertezas, a muitos brasileiros só resta mesmo a fé para ajudá-los a atravessar o dia a dia sem desesperar. Na Favela Santa Marta do Rio de Janeiro, este pastor abençoa os moradores: ao lado da pobreza, narcotráfico, ocupação policial e outras formas de violência, agora seu novo desafio é também sobreviver ao coronavírus.