Sondagem realizada com 17 mil pessoas em 14 países apresenta resultado claro: maioria prefere que crise nuclear seja solucionada pela diplomacia e não com meios militares, apesar das provocações de Kim Jong-un.
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"A mensagem para o meio político, incluindo o americano, é: 'Dedique mais tempo à diplomacia e encontre uma maneira pacífica de resolver o conflito com a Coreia do Norte'", afirma Kancho Stoychev, presidente da Gallup International Association (GIA), uma aliança global de empresas de pesquisa de opinião, sediada em Zurique, na Suíça.
O fato de os resultados da pesquisa, realizada em 14 países, serem publicados no dia do anúncio do Prêmio Nobel da Paz é pura coincidência, afirma Stoychev. "Não foi intencional. Mas talvez isso contribua para que se lide de forma cautelosa com a crise", afirma.
O levantamento entrevistou, de 20 de setembro a 1º de outubro, um total de 17.107 pessoas em 14 países, incluindo a Rússia e os Estados Unidos. A opinião pública do principal aliado da Coreia do Norte, a China, não entrou na pesquisa. Segundo Stoychev, o motivo é a restrição a pesquisas de opinião no país, por razões políticas.
Medo de Kim Jong-un
Duas perguntas estiveram no centro da sondagem: "Quão provável você acha que é o uso de armas nucleares pela Coreia do Norte?" e "você ainda defende uma solução diplomática ou considera necessária a opção militar?" A questão sobre se a Casa Branca também representa uma ameaça não foi incluída na pesquisa por razões de tempo.
O resultado é claro: apesar das provocações contínuas de Pyongyang, uma esmagadora maioria dos entrevistados continua a defender negociações diplomáticas. Para Johnny Heald, diretor científico da GIA, sobretudo a personalidade de Kim Jong-un influenciou o resultado. "Uma resposta militar parece algo muito arriscado para muitas pessoas, tendo em vista um líder que dispõe de ogivas nucleares e já testou mísseis de longo alcance", explica.
De fato, o medo dele é grande. Nos EUA, 46% dos inquiridos acreditam que o uso de armas nucleares é provável. Na Alemanha, eles são 48%, e no Paquistão, 51%. O maior medo do uso da bomba atômica está no Vietnã, com 54%. Curiosamente, o medo é menor nos vizinhos imediatos da Coreia do Norte. Na Coreia do Sul, 35% população temem um ataque e na Rússia, apenas 23%.
"A Rússia está no alcance dos foguetes norte-coreanos, mas as agressões norte-coreanas nunca tiveram a Rússia como alvo", pondera Stoychev. Ele também tem uma explicação para a serenidade sul-coreana: o país é exposto à ameaça do norte há décadas e se acostumou com isso.
No Japão, por outro lado, 45% da população consideram possível um ataque nuclear de Pyongyang. "As pessoas estão aterrorizadas desde que um míssil de médio alcance voou sobre seu território, em setembro", diz Stoychev. Segundo ele, esta pode ser a razão pela qual uma grande parte da população apoia uma solução militar para o conflito. No Japão e também no Paquistão, 49% apoiam uma operação militar contra a Coreia do Norte.
Para Stoychev essa situação é compreensível, mas não muito promissora. Ele aponta para as negociações longas, mas bem-sucedidas, sobre o acordo nuclear com o Irã, em julho de 2015. "O acordo com o Irã é um bom exemplo para mim, as negociações com a comunidade internacional demoraram muito, mas ao fim houve um acordo", lembra Stoychev. "O Irã suspendeu seu programa de desenvolvimento de bombas nucleares."
Verdades e mitos sobre a dinastia Kim
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo
No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
Foto: Getty Images/AFP/JIJI Press
Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
Foto: picture-alliance/dpa
Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Yu
Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.