Alemães lançam estudo sobre renda básica universal
19 de agosto de 2020
Projeto pago por doações dará mais de 9.300 reais por mês a 120 pessoas durante três anos. Candidatos devem morar na Alemanha e ter no mínimo 18 anos. Teste visa descobrir como dinheiro muda vida dos beneficiários.
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Economistas e ativistas alemães lançaram nesta terça-feira (19/08) em Berlim um projeto anunciado como o primeiro estudo de longo prazo da Alemanha sobre a renda básica universal incondicional.
Interessados podem se inscrever através de um site na internet para participar do estudo, que vai pagar mensalmente 1.433 euros (mais de 9.300 reais) para 120 voluntários durante um período de três anos, segundo o Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), que conduz o projeto piloto, em conjunto com a associação Mein Grundeinkommen (minha renda básica), e pesquisadores do Instituto Max Planck e da Universidade de Colônia.
Os candidatos devem ter seu primeiro domicílio na Alemanha e idade mínima de 18 anos. O processo de escolha começa assim que um milhão de candidatos se registrarem para participar do projeto.
Os escolhidos começarão a receber o dinheiro, financiado por doações privadas, a partir do início do próximo ano. "Queremos saber o que isso faz com o comportamento e as atitudes, e se a renda básica pode ajudar a lidar com os desafios atuais em nossa sociedade", disse Michael Bohmeyer, da Mein Grundeinkommen.
Os pesquisadores querem realizar sondagens regulares com os participantes do experimento, para saber se há transformações no cotidiano deles através do dinheiro recebido, incluindo os aspectos profissionais, financeiros, familiares, sociais e psíquicos. Os testes incluem ainda exames de mostras de cabelo dos participantes para medir o nível de estresse.
Ao apresentar o projeto, Jürgen Schupp do DIW observou que, embora já existam estudos em todo o mundo sobre a proposta, que prevê uma renda básica incondicional para todo cidadão, eles tiveram caráter limitado. "Ou eles estão desatualizados, ou não são generalizáveis ou estudam a renda básica apenas para os desempregados. Nesse sentido, estamos realmente desbravando terreno científico inédito na Alemanha com este estudo", disse.
Um dos principais debates em torno da ideia de uma renda universal básica, paga incondicionalmente, é se ela motiva as pessoas se envolver mais nas economias ou sociedades locais, ou se incentiva a preguiça.
Também seria uma proposta extremamente cara para implantar, custando, por exemplo, quase um trilhão de euros por ano se a população da Alemanha, de pouco menos 83 milhões, fosse receber uma renda mensal de mil euros (mais de 6,5 mil reais). Atualmente, a despesa anual total do Estado alemão está pouco abaixo de 1,5 trilhão de euros, de acordo com o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis).
As diferenças nos padrões de vida entre países da União Europeia são extremas. Mas, dependendo de como a riqueza é medida, há algumas surpresas – até quando se trata das nações em crise do bloco.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kalker
Bulgária: salários baixíssimos
A Bulgária é considerada o país mais pobre da União Europeia e também aquele onde a corrupção é mais generalizada no bloco. Segundo a Germany Trade and Invest (GTAI), a renda bruta média em 2018 foi de apenas 580 euros por mês. Desde que o país ingressou na UE, vários jovens búlgaros deixaram sua terra natal, sendo muitos deles profissionais qualificados.
Foto: BGNES
Romênia: o penúltimo lugar no ranking econômico da UE
Não se deixe enganar pela riqueza de cidades pitorescas cuidadosamente restauradas, como Brasov (foto), na Transilvânia. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de 11.440 euros per capita (2019), o país está, de fato, numa posição melhor do que a Bulgária (8.680 euros). Mas com um salário médio bruto de 1.050 euros em 2019, ainda fica bem atrás da Alemanha (3.994 euros).
Foto: Imago Images/Design Pics/R. Maschmeyer
Grécia: saindo de uma crise para entrar em outra
Quando o país estava apenas começando a se recuperar dos efeitos da crise da dívida, em grande parte graças ao turismo dos últimos anos, veio a crise do coronavírus. Ainda que tenha um PIB per capita de cerca de 17.500 euros - aproximadamente o dobro do da Bulgária -, o país é considerado pobre se comparado à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/VisualEyze
França: país de proprietários de imóveis
Quando o assunto é riqueza média, os franceses estão muito à frente dos alemães. Com um patrimônio líquido de 26.500 euros (2018) per capita, os franceses possuem quase 10.000 euros a mais, de acordo com dados da Allianz, em parte devido à baixa participação imobiliária dos alemães. Na França, muitos chegam a ter até uma segunda casa no interior.
Foto: picture alliance/prisma/K. Katja
Itália: sem crescimento e altas dívidas
Entre os países europeus, a Itália foi particularmente atingida pela covid-19, com a cidade de Bérgamo rendendo manchetes como o epicentro da pandemia. Após cerca de duas décadas de estagnação econômica, o país é hoje um dos que defendem a distribuição de ajuda devido à pandemia entre os membros da UE. Com um PIB de 29.610 euros (2018) per capita, a Itália fica pouco abaixo da média do bloco.
Foto: AFP/P. Cruciatti
Espanha: o pavor de uma segunda onda
Após um forte aumento nas infecções por covid-19, as autoridades da Catalunha reimpuseram limitações de circulação em julho. O país é extremamente dependente do turismo, que representa cerca de 15% do PIB. Com uma produção econômica per capita de 26.440 euros (2018), a Espanha fica abaixo da média da UE, de pouco menos de 31.000 euros.
Foto: Reuters/N. Doce
Suécia: muita prosperidade, altos impostos e sem confinamento
A Suécia resolveu enfrentar a crise do coronavírus sem lockdown, o que, em comparação com seus vizinhos, acabou provocando muitas mortes. Com um PIB de 46.180 euros per capita, a Suécia fica em quinto lugar na Europa, atrás de Luxemburgo, Irlanda, Dinamarca e Holanda. Apesar dos altos impostos, os suecos ficaram à frente dos franceses em 2018, com um patrimônio líquido de 27.511 euros.
Foto: imago images/TT/J. Nilsson
Países Baixos: riqueza e produção econômica elevadas
Ao lado da Suécia, Dinamarca e Áustria, os holandeses estão entre os países que rejeitam transferências bilionárias sem contrapartida de reformas para países como a Itália. Com um PIB de 46.800 euros per capita (2019) e um patrimônio líquido de mais de 60.000 euros per capita (2018), eles estão no topo do ranking da UE.
Foto: picture-alliance/robertharding/F. Hall
Alemanha: uma nação rica, mas os cidadãos nem tanto
Até agora, o país tem contornado a pandemia com sucesso. Os custos econômicos, no entanto, são enormes: as exportações caíram, e muitas empresas lutam para sobreviver. Detentora da maior economia da UE, a Alemanha teve um PIB de 41.340 euros (2019) per capita. Em 2018, porém, os alemães possuíam um patrimônio líquido de apenas 16.800 euros per capita - metade do observado na Itália.