Pesquisadores decifram páginas de diário de Anne Frank
16 de maio de 2018
Com técnicas da fotografia digital, pesquisadores solucionam mistério de duas páginas que foram cobertas com papel pardo. Trechos descobertos abordam sexo e prostituição e incluem piadas atrevidas.
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Depois de mais de 70 anos, pesquisadores decifraram o conteúdo de duas páginas do diário de Anne Frank que haviam sido escondidas debaixo de um papel pardo, anunciou nesta terça-feira (15/05) a Fundação Anne Frank, em Amsterdã. A descoberta foi possível graças à fotografia digital.
As páginas escritas pela jovem judia continham piadas atrevidas e uma explicação franca sobre sexo, contracepção e prostituição. "Os textos nos aproximam mais da garota e da escritora Anne Frank. Ela era uma jovem de 13 anos em plena puberdade”, afirmou o diretor da fundação, Ronald Leopold.
Anne escreveu as páginas que foram ocultadas em 28 de setembro de 1942, menos de três meses depois de ela e a família se esconderem dos nazistas no fundo de uma casa em Amsterdã. Provavelmente temendo que alguém pudesse ler o que escreveu, Anne cobriu as páginas com papel pardo.
O conteúdo das páginas permaneceu um mistério por décadas. Nelas, além de um texto sobre sexualidade feminina, os pesquisadores descobriram quatro piadas sobre sexo, que Anne classificou como sujas.
Em uma das passagens, a jovem descreveu como uma menina de cerca de 14 anos menstrua, dizendo que esse "é um sinal de que ela está pronta para ter relações com um homem, mas não se faz isso antes de casar". No trecho sobre prostituição, Anne afirma que todos os homens normais têm relações "com mulheres que abordam nas ruas".
Especialistas disseram que os novos textos, quando analisados no contexto diário como um todo, revelam mais sobre a evolução de Anne como escritora do que sobre seu interesse por sexo.
Anne escreveu em outras partes do diário sobre sua sexualidade florescente e seu corpo. Essas passagens haviam sido censuradas por seu pai antes da publicação do diário em 1947, mas aparecem em edições mais recentes.
Para decifrar as páginas, pesquisadores do Instituto para Guerra, Holocausto e Estudos de Genocídio fotografaram as páginas, iluminadas por um flash, e depois usaram um software de processamento de imagens para decifrar as palavras.
Anne escreveu em seu diário por mais de dois anos durante a Segunda Guerra Mundial. Em agosto de 1944, o esconderijo da família foi descoberto e eles foram deportados para o campo de extermínio de Auschwitz. Somente o pai de Anne, Otto Frank, sobreviveu. Anne e a irmã morreram no campo de concentração de Bergen-Belsen no início de 1945, provavelmente de tifo. Anne tinha 15 anos.
Depois da guerra, Otto publicou o diário da filha, que se tornou um símbolo de esperança e resiliência. A obra foi traduzida para dezenas de idiomas. A casa onde a família se escondeu em Amsterdã foi transformada em museu e é uma das atrações turísticas mais populares da cidade.
CN/afp/ap/dpa
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Quem foi Anne Frank?
Jovem alemã escondeu-se na Holanda durante 25 meses, até que a família foi descoberta e deportada para Auschwitz. Graças ao diário que escreveu, Anne Frank ainda é conhecida mundo afora, 90 anos após seu nascimento.
Foto: picture-alliance/dpa
Fugindo dos nazistas
Em 1933, Anne Frank e a família fugiram da Alemanha para Holanda. Para escapar dos nazistas, eles tiveram de se esconder durante a Segunda Guerra Mundial. Viveram dois anos nos fundos de uma casa em Amsterdã. Mas alguém denunciou o esconderijo, e, em 4 de agosto de 1944, a família foi descoberta, presa e deportada para o campo de extermínio de Auschwitz.
Foto: Anne Frank Fonds Basel
A família
Anne (na frente, à esquerda) tinha uma irmã três anos e meio mais velha, Margot (no fundo, à direita). O pai Otto Frank tirou esta foto no aniversário de oito anos de Margot, em fevereiro de 1934, quando a família já estava na Holanda.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Escondidos em Amsterdã
Em Amsterdã, o pai de Anne assumiu a filial da empresa Opekta (foto). Quando a perseguição aos judeus começou, ele montou um esconderijo nos fundos da casa. De 1942 a 1944, os quatro membros da família viveram no local junto com outros quatro judeus. No esconderijo, Anne escreveu seu famoso diário. Desde 1960, a casa é um museu.
Foto: Getty Images
O esconderijo
No museu em Amsterdã, os visitantes podem visitar hoje uma réplica do antigo esconderijo nos fundos da casa. Por meses, Anne dividiu um quarto apertado com o dentista judeu Fritz Pfeffer, que no diário ganha o nome "Albert Dussel". À direita, vê-se a escrivaninha sobre a qual ela escrevia quase todos os dias.
Foto: DW/H. Mund
Diário como confidente
O diário tornou-se uma espécie de amiga e confidente de Anne, que ela batizou de Kitty. A vida no esconderijo era totalmente diferente da que a jovem levava antes dele. "O melhor de tudo é que ao menos posso escrever o que penso e sinto, senão, ficaria completamente sufocada", diz um trecho do diário.
Foto: picture-alliance/dpa
Morte no campo de concentração
Em 30 de outubro de 1944, Anne e a irmã Margot foram levadas de Auschwitz para Bergen-Belsen, onde mais de 70 mil pessoas morreram. Após a libertação do campo de concentração sob a supervisão de soldados britânicos, caminhões transportaram as vítimas para valas comuns. Anne, que tinha apenas 15 anos, e a irmã estavam entre os mortos, em decorrência do tifo.
Foto: picture alliance/dpa
Vida interrompida
Em Bergen-Belsen, há uma lápide com o nome de Anne, que imaginava que a própria vida correria de maneira diferente. "Não quero ter vivido em vão como a maioria das pessoas. Quero ser útil e trazer alegria para as pessoas que vivem à minha volta e não me conhecem. Quero continuar viva, mesmo depois da morte", diz um trecho do diário do dia 5 de abril de 1944.
Foto: picture-alliance/dpa
Famosa pelo diário
O sonho de Anne era ser jornalista ou escritora. Graças ao pai, seu diário foi publicado pela primeira vez em 1947, com o título "Das Hinterhaus"("A casa dos fundos"). Depois, vieram diversas edições e traduções, e Anne tornou-se símbolo das vítimas do nazismo. "Todos vivemos com o objetivo de sermos felizes. Vivemos de maneira diferente e igual ao mesmo tempo", escreveu em 6 de julho de 1944.