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Descoberta a origem da gagueira no cérebro

16 de junho de 2024

Cientistas finlandeses encontraram mudanças estruturais em junções de uma rede cerebral em pessoas que gaguejam. Descoberta pode abrir portas para novas opções de tratamento.

Vista lateral do trato linguístico no cérebro.
A gagueira é um distúrbio neurológico da fala em que a regulação da produção da linguagem no cérebro é prejudicadaFoto: Sherbrooke Connecti/ Cultura/Image Source/picture alliance

A gagueira costuma gerar muito estresse para os afetados, sobretudo porque outras pessoas costumam reagir de forma desrespeitosa, agressiva ou incorreta a esse distúrbio da fala. As repetições involuntárias de sílabas e sons, o alongamento de fonemas e os bloqueios perceptíveis ou "silenciosos" podem trazer insegurança para quem sofre do problema. O mal-estar também pode se tornar fisicamente perceptível, através de rubor ou suor.

No entanto, a gagueira não permite tirar conclusões sobre o caráter ou a inteligência dos afetados. Quem gagueja sabe exatamente o que quer dizer, mas não consegue expressar isso de maneira fluente no momento.

Por muito tempo, a gagueira foi vista como um distúrbio psicológico ou emocional. Trata-se, porém, de um distúrbio da fala de origem neurológica que afeta a área do cérebro responsável pela regulação da produção da linguagem.

Encontrada a origem da gagueira

Pesquisadores finlandeses acreditam agora ter localizado a região do cérebro onde ocorre a gagueira. Em pessoas que gaguejam, foram descobertas mudanças estruturais em junções de uma determinada rede cerebral.

Segundo a equipe liderada por Juho Joutsa, da Universidade de Turku, seu centro fica na área do putâmen. O putâmen é uma das áreas centrais do telencéfalo [composto pelo córtex cerebral e pelos núcleos da base] e faz parte da substância cinzenta do cérebro. Ele é particularmente importante para as habilidades motoras faciais, ou seja, expressões faciais.

As diferentes causas da gagueira

O distúrbio da fala pode ter diversas causas. Existe uma predisposição genética que pode – embora não necessariamente – levar à ocorrência da gagueira. Além disso, doenças neurológicas como Parkinson ou derrames podem causar o distúrbio. Para o estudo, os pesquisadores finlandeses também examinaram pacientes que começaram a gaguejar após um acidente vascular cerebral. O acidente vascular cerebral afetou apenas a parte do cérebro onde está localizada a rede cerebral em questão.

Os participantes mostraram as mesmas mudanças estruturais nas junções desta rede cerebral que aqueles entre os quais a gagueira se desenvolveu já na infância. Segundo o estudo, isso mostra que a gagueira sempre surge nessa rede, independentemente de causas genéticas ou neurológicas.

Novos métodos de tratamento?

"O estudo finlandês confirma de forma impressionante que o hemisfério cerebral esquerdo é crucial na codificação da fala e na tradução de pensamentos para a fala e a linguagem falada", afirma o professor Martin Sommer, médico-chefe e diretor do Grupo de Trabalho Interdisciplinar sobre Distúrbios de Fluência do Departamento de Neurologia do Centro Médico Universitário de Göttingen (UMG). O estudo também mostra que as duas formas de gagueira, a gagueira neurogênica, ou seja, causada por um acidente vascular cerebral, e a gagueira na primeira infância, não diferem muito, segundo Sommer, que além de ser ele próprio afetado pela gagueira, também fornece aconselhamentos através da Associação Federal para Gagueira e Autoajuda (BVSS, na sigla em alemão).

Até o momento, não existem métodos de tratamento farmacológicos ou neuromoduladores eficazes contra a gagueira. Mas segundo os pesquisadores finlandeses, a localização da mudança estrutural abre portas para novas opções terapêuticas, como a estimulação cerebral profunda dirigida a esta rede cerebral.

O neurofisiologista Sommer acolhe com satisfação a nova abordagem de pesquisa, mas alerta: "É certamente possível derivar um tratamento a partir disto, mas são necessários alguns passos intermediários para compreender onde é necessário fixar qual eletrodo e com que polaridade. Isso não é assim tão fácil assim e ainda não chegamos lá", ressalta.

Gagueira: mais comum do que se pensa

Na Alemanha, com quase 84 milhões de habitantes, estima-se que 800 mil pessoas gaguejam permanentemente. Mais de 5% das crianças pequenas gaguejam, ou seja, cerca de 50 em cada mil crianças, sendo que meninos são afetados com mais frequência do que as meninas.

A gagueira geralmente começa repentinamente entre os 2 e os 6 anos de idade, geralmente desaparecendo por si só nos dois anos seguintes. Mas cerca de 1% das pessoas afetadas continua a gaguejar na vida adulta.

Há métodos de terapia da gagueira que são eficazesFoto: Jens Kalaene/dpa/picture alliance

Como a gagueira é tratada?

Medicamentos, terapias respiratórias ou de relaxamento ou quaisquer outras terapias de cura não são realmente eficazes contra a gagueira. "Ainda existem ofertas de tratamento duvidosos que prometem curas milagrosas, por isso é preciso ter cuidado”, alerta Sommer.

"Mesmo a gagueira mais grave pode ser evitada com métodos simples, como a fala com metrônomo, mas a gagueira, neste caso, não desaparece, está apenas camuflada atrás de um modo de fala modificado. E quem quer falar assim o dia todo? Então é necessário ter cuidado para não cair nas mãos erradas", avisa o especialista.

Mudando o comportamento da fala

No entanto, há dois métodos de terapia da gagueira que são eficazes e também podem ser combinados: modelagem da fluência (Fluency Shaping) e modificação da gagueira. Ambos os métodos se "baseiam na ideia de que o controle consciente do processo muscular da fala na laringe e na boca permite um uso suave da voz como profilático ou quando ocorrem sintomas de gagueira”, explica a terapeuta de gagueira Frauke Kern.

Tais métodos podem reduzir a duração e a gravidade do sintoma real e reduzir o medo da gagueira, recuperando o controle sobre o processo de fala, diz Kern. Ela faz parte do conselho federal da Associação Federal Alemã de Fonoaudiologia.

O método de modelagem de fluência muda a maneira como se fala, por exemplo, usando uma "voz suave" no início de uma palavra ou alongando conscientemente uma sílaba ou um som. O objetivo deste método é evitar a ocorrência de gagueira ao falar.

Já com o método de modificação da gagueira, os afetados aprendem as chamadas técnicas de liberação de bloqueio para sair de uma situação estressante "de forma controlada e um tanto administrável. Este é um método interessante que envolve, por assim dizer, conhecer eventos de gagueira", diz o neurofisiologista Sommer. Isso reduz a tensão e supera o momento de gagueira. A vantagem desta técnica, segundo a terapeuta Kern, é que ela preserva a fala natural.

Enfrentando o desafio

Por vergonha ou medo de se expor, muitos afetados acabam evitando certas palavras ou situações de fala. Isto pode fazer com que quem sofre de gagueira se retire da vida quotidiana e fique socialmente isolado.

Pessoas que gaguejam, portanto, também aprendem a enfrentar situações difíceis. "O maior perigo quando se gagueja é ficar de boca fechada, e muita gente faz isso. Mas é uma pena, porque quem fica de boca fechada não é visto ou ouvido. Quem fica calado não vai muito longe. Esse comportamento de evitar exposição é lamentável porque limita significativamente as oportunidades de desenvolvimento das pessoas. É por isso que é importante não ficar de boca fechada, mas dizer o que se quer dizer”, aconselha o neurologista Sommer.

Grupos de apoio também podem ajudar a superar o medo de falar. Lidar com a gagueira de forma aberta e confiante entre familiares, amigos ou colegas de trabalho também costuma ser útil.

O que de fato não ajuda?

As pessoas que gaguejam não precisam de conselhos – nem mesmo os bem-intencionados. Elas não precisam respirar fundo, concentrar-se ou se acalmar. Conselhos como esses só servem para irritar ou deixar os afetados ainda mais inseguros.

"O melhor é esperar, observar e ouvir. Quem gagueja precisa de mais tempo, é assim mesmo! Sempre tem gente que tenta continuar a palavra ou a frase. Em primeiro lugar, interromper alguém é muito ofensivo. Além disso, talvez nem seja isso que eu realmente quisesse dizer. Então fica complicado", diz Sommer.

Estimulação cerebral como terapia

05:35

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