Pesquisadores descobrem muro da era do gelo sob Mar Báltico
13 de fevereiro de 2024
Construção de mais de 10 mil anos e 971 metros de extensão teria sido usada para caça de animais e seria um dos mais antigos vestígios de uma obra humana na região.
Anúncio
Pesquisadores anunciaram a descoberta de uma muralha de pedras no Mar Báltico com mais de 10 mil anos e 971 metros de extensão no extremo norte da Alemanha, localizada à altura entre as cidades litorâneas de Rostock e Rerik, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.
Trata-se, segundo o grupo, dos mais antigos vestígios de uma construção humana na região e de um achado incomparável a nível europeu. A muralha é formada por 1.673 pedras, a maioria pesando menos de 100 kg, e cujo tamanho varia entre uma bola de tênis e uma bola de futebol, empilhadas de forma organizada entre algumas rochas.
Ainda segundo comunicado assinado pelo Instituto Leibniz de Pesquisa Marinha em Warnemünde, pela Universidade de Rostock e pela Universidade Christian-Albrechts em Kiel, instituições responsáveis pela descoberta, a obra tem pouco menos de 1 metro de altura e até 2 metros de profundidade, e está a 21 metros do nível do mar.
A idade do muro não pôde ser determinada com precisão, mas os cientistas afirmaram, em estudo publicado nesta terça-feira (12/02), que havia bosques na região há aproximadamente 9.800 anos.
Provavelmente um dispositivo de caça
Acredita-se que a construção tenha sido feita por humanos que viviam da caça e da coleta. A região ainda não havia sido inundada pelo Mar Báltico naquela época, como explicam os pesquisadores.
Batizada de Muro de Blinker, a obra pode ter servido para encurralar e abater renas próximas a um lago. Técnicas de caça semelhantes são conhecidas em outros lugares, como nos Estados Unidos. Lá, arqueólogos encontraram um muro de pedra em um lago em Michigan, construído para a caça de caribus, uma espécie de cervo.
A estrutura de pedra foi descoberta por acaso em setembro de 2021 durante levantamentos cartográficos. Segundo os cientistas, ela teria desaparecido com a subida do nível do mar após a última era do gelo, há 8.500 anos.
ra/as (AFP, DPA)
Obras de arte da era do gelo
Os mais antigos artefatos feitos por humanos, de 40 mil anos atrás, foram encontrados na Suábia, no sul da Alemanha. As seis cavernas onde objetos foram localizados são candidatas a patrimônio cultural da Unesco.
Foto: LAD, Y. Mühleis
A Vênus de Hohle Fels
Descoberta em 2008, a figura de Vênus da gruta de Hohle Fels data de 35 mil anos atrás. A mais antiga representação de figura humana é o mais conhecido dos 50 artefatos encontrados nas grutas da Suábia. Esculpida em marfim de mamute, a estatueta de 6 cm tem seios volumosos. Um pequeno aro substitui a cabeça, uma indicação de que a peça tenha sido usada como pingente.
Foto: Hilde Jensen, Universität Tübingen
A caverna Hohle Fels
Os arqueólogos encontraram a figura feminina nesta caverna. A maioria dos artefatos encontrados representa animais e remonta ao período aurignaciano (início do paleolítico superior) um tempo em que o neandertal e o homo sapiens viveram, em parte, lado a lado, e procuravam abrigo em cavernas. Já naquela época havia inúmeras grutas na região de Schwäbische Alb (montanhas da Suábia).
Foto: H. Parow-Souchon
O vale do rio Ach
Durante a era do gelo havia poucas florestas nesta região, coberta de estepes e habitada por mamutes e renas. Hoje em dia, a área, que tem mais de duas mil cavernas, é coberta por bosques. Seis das grutas onde aconteceram os achados espetaculares são candidatas a patrimônio cultural da humanidade. A candidatura foi oficializada no início do ano passado pelo estado alemão de Baden-Württemberg.
Foto: LAD, Chr. Steffen
Instrumento musical pré-histórico
O ser humano já fazia música há 40 mil anos. A prova são três flautas encontradas no abrigo rochoso Geißenklösterle, no sul da Alemanha, em 2009. A mais bonita delas, feita de marfim, pode ser vista junto com a Vênus no Museu da Pré-História da cidade alemã de Blaubeuren. O abrigo rochoso Geißenklösterle está bloqueado por uma cerca, mas, como não é muito profundo, pode ser visto a partir de fora.
Foto: Claus Rudolph, Urmu
Gruta Sirgensteinhöhle
A gruta Sirgensteinhöhle, de 42 m de comprimento, é aberta a visitantes e fecha só no inverno europeu, para a proteção dos morcegos que ali vivem. Os arqueólogos descobriram que o homem pré-histórico permanecia principalmente na entrada da caverna, onde fazia fogo, trabalhava e dormia. Há 500 anos, acreditava-se que na caverna havia vivido um monstruoso ciclope (gigante imortal com um só olho).
Foto: LAD, M. Steffen
Vale do rio Lone
As três outras grutas indicadas a patrimônio da humanidade ficam no vale do rio Lone, perto de Heidenheim. Elas se chamam Vogelherd, Hohlenstein Stadel e Bockstein. Da mesma forma como no vale do Ach, os sítios são área protegida. Não podem ser feitas alterações na área sem consentimento das autoridades de defesa do patrimônio. Sem essa garantia, a candidatura à Unesco não teria chance.
Foto: LAD, O. Braasch
A gruta Hohlenstein Stadel
As escavações nas cavernas da Suábia começaram no século 19. Os arqueólogos descobriram ali restos de fogueiras, armas, ferramentas e adornos feitos de pedra, chifre, marfim e osso. Em 1861, foram encontrados na gruta Hohlenstein 10 mil ossos de ursos. Apenas uma parte da caverna é aberta a visitantes.
Foto: Museum Ulm
Figura com traços humanos e de leão
A maior peça encontrada na gruta Hohlenstein Stadel é este artefato em marfim, de 31 cm de altura. Na foto, ele é visto de diferentes perspectivas. A peça, que faz parte do acervo do museu em Ulm, foi reconstruída quase completamente a partir de mais de 300 pedaços. Os arqueólogos não conseguiram identificar se se trata de homem ou mulher, por isso o chamam "Löwenmensch", "humano leão".
Foto: LAD, Y. Mühleis
Gruta Vogelherd
A localização da gruta Vogelherd era perfeita para o homem pré-histórico porque oferece uma ótima vista para o vale. Já se podia avistar os perigos de longe. Ou localizar a caça. Ali foram encontradas dez pequenas figuras de animais feitas de marfim de mamute. Um leão e uma figura de mamute podem ser vistos no parque temático arqueológico que fica junto à caverna.
Foto: LAD, Th. Beutelspacher
Cavalo selvagem
Uma figura de cavalo selvagem de cerca de cinco centímetros é considerada a principal peça encontrada na gruta Vogelherd. Seu pescoço curvado e as formas redondas e elegantes refletem a habilidade artesanal do homem pré-histórico. Ele está exposto no castelo de Tübingen, juntamente com outros achados das cavernas.
Foto: Hilde Jensen, Universität Tübingen
Gruta Bockstein
No rochedo Bockstein, no vale do Lone, há várias cavernas que podem ser acessadas. Os artefatos encontrados apontam que ali já moraram neandertais há mais de 60 mil anos. Em julho próximo, a Unesco vai decidir se "as cavernas com a mais antiga arte da era do gelo" virarão patrimônio cultural da humanidade.