Pesquisadores identificam zika em cérebro de microcéfalo
11 de fevereiro de 2016
Cientistas europeus detectam grande quantidade do vírus em tecidos cerebrais de feto. Mãe teria contraído o vírus no Brasil e solicitou aborto por suspeita de microcefalia, confirmada em autópsia.
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A ciência pode estar mais perto de desvendar o mistério que vem intrigando cientistas mundo afora: a possível ligação entre o vírus zika e a microcefalia. Em artigo publicado no New England Journal of Medicine nesta quarta-feira (10/02), cientistas da Eslovênia afirmam ter detectado a presença do patógeno no cérebro de um feto de uma mulher europeia que ficou grávida no Brasil.
Uma autopsia no feto comprovou a microcefalia e também revelou diversas lesões cerebrais graves e a presença de níveis elevados do vírus zika em tecidos cerebrais. A quantidade de agentes infecciosos no cérebro do feto era maior do que a normalmente encontrada em amostras de sangue, afirmaram os pesquisadores do Centro Médico Universitário, em Liubliana.
Segundo a cientista que coordenou o estudo, Tatjana Avsic Zupanc, a descoberta de sua equipe pode apresentar "a evidência mais convincente até agora" de que os defeitos de nascimento associados à infecção de zika na gravidez podem ser causados pela replicação do vírus no cérebro. Ela ressaltou, porém, que mais estudos são necessários para confirmar essa hipótese.
De acordo com a pesquisa da Eslovênia, a mulher que estava no Brasil apresentou sintomas da infecção durante a 13ª semana de gravidez. As ultrassonografias realizadas entre a 14ª e a 20ª semana apresentaram, porém, resultados normais.
Somente quando ela retornou à Europa, graves anomalias no feto foram verificadas na ultrassonografia, na 29ª semana de gestação. A mulher também notou a redução dos movimentos fetais. Ela solicitou um aborto, que foi aprovado pelo Estado e por uma comissão de ética médica e realizado na 32ª semana de gravidez.
Resultado positivo
De fato, o feto tinha microcefalia, e a mãe não tinha nenhum histórico familiar de anormalidades genéticas. Numa autópsia, pesquisadores descobriram que a superfície cerebral de feto era mais uniforme do que o normal e que havia várias calcificações.
Amostras cerebrais também deram resultado positivo para o zika. A equipe não encontrou o vírus em nenhum outro órgão do feto, o que sugere que o vírus ataca somente o tecido cerebral. Os pesquisadores ainda não sabem como isso ocorre.
Os exames de outros vírus da mesma classe, como dengue ou febre amarela, e de outras doenças infecciosas que podem causar microcefalia, como rubéola ou toxoplasmose, deram negativo.
A partir das amostras cerebrais, os pesquisadores identificaram ainda a sequência genética completa do genoma do vírus, que era semelhante à do presente na Polinésia Francesa e no Brasil.
Num editorial do New England Journal of Medicine, que acompanhou a publicação do artigo da Eslovênia, pesquisadores de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts afirmaram que a descoberta ajuda a fortalecer a associação biológica entre o zika e a microcefalia. Para os pesquisadores, o estudo sugere também que anomalias fetais só podem ser identificadas pelo ultrassom quando a gravidez já está em estado adiantado.
Em janeiro, pesquisadores do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz Paraná, confirmaram que o zika consegue ultrapassar a placenta durante a gestação e identificaram sua transmissão placentária. Estudos anteriores haviam revelado a presença do vírus no líquido amniótico.
CN/rtr/ots
Os 10 vírus mais perigosos do mundo
Embora a covid-19 seja muito contagiosa, sua taxa de mortalidade é relativamente baixa em comparação com esses dez vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Vírus de Marburg
O vírus mais perigoso do mundo é o Marburg. Ele leva o nome de uma pequena cidade alemã às margens do rio Lahn, onde o vírus foi documentado pela primeira vez. O Marburg provoca febre hemorrágica e, assim como o ebola, causa convulsões e sangramentos das mucosas, da pele e dos órgãos. A taxa de mortalidade do vírus chega a 88%.
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Ebola
O vírus do ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo por uma equipe de pesquisadores belgas. A doença foi batizada com o nome do rio que passa pelo vilarejo onde ela foi identificada pela primeira vez. Ele pode ocorrer em cinco cepas distintas, denominadas de acordo com países e regiões na África: Zaire, Sudão, Bundibugyo, Reston, Floresta de Tai. A cepa Zaire é a mais fatal.
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Hantavírus
O hantavírus descreve uma ampla variedade de vírus. Assim como o ebola, ele também leva o nome de um rio – neste caso, onde soldados americanos foram os primeiros a se infectarem com a doença durante a Guerra da Coreia, em 1950. Os sinais são doenças pulmonares, febre e insuficiência renal.
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Gripe aviária
Com uma taxa de mortalidade de 70%, o agente causador da gripe aviária espalhou medo durante meses. Mas o risco real de alguém se infectar com o vírus H5NI é muito baixo. Os seres humanos podem ser contaminados somente através do contato muito próximo com as aves. Por esse motivo, a maioria dos casos ocorre na Ásia, onde pessoas e galinhas às vezes vivem juntas em espaço pequeno.
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Febre de Lassa
Uma enfermeira na Nigéria foi a primeira pessoa a se infectar com o vírus Lassa. A doença é transmitida aos humanos através do contato com excrementos de roedores. A febre de Lassa ocorre de forma endêmica na África Ocidental, como é o caso, atualmente, mais uma vez na Nigéria. Pesquisadores acreditam que 15% dos roedores dali sejam portadores do vírus.
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Junin
O vírus Junin é associado à febre hemorrágica argentina. As pessoas infectadas apresentam inflamações nos tecidos, hemorragia e sépsis, uma inflamação geral do organismo. O problema é que os sintomas parecem ser tão comuns que a doença raramente é detectada ou identificada à primeira vista.
Crimeia-Congo
O vírus da febre hemorrágica Crimeia-Congo é transmitido por carrapatos. Ele é semelhante ao ebola e ao Marburg na forma como se desenvolve. Durante os primeiros dias de infecção, os doentes apresentam sangramentos na face, na boca e na faringe.
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Machupo
O vírus Machupo está associado à febre hemorrágica boliviana. A infecção causa febre alta, acompanhada de fortes sangramentos. Ele desenvolve-se de maneira semelhante ao vírus Junin. O Machupo pode ser transmitido de humano para humano, e é encontrado com frequência em roedores.
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Doença da floresta de Kyasanur
Cientistas descobriram o vírus da floresta de Kyasanur na costa sudoeste da Índia em 1955. Ele é transmitido por carrapatos, mas supõe-se que ratos, aves e suínos também possam ser hospedeiros. As pessoas infectadas apresentam febre alta, fortes dores de cabeça e musculares, que podem causar hemorragias.
Dengue
A dengue é uma ameaça constante. Transmitida pelo mosquito aedes aegypti, a doença afeta entre 50 e 100 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. O vírus representa um problema para os dois bilhões de habitantes que vivem nas áreas ameaçadas, como Tailândia, Índia e Brasil.