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Pesquisas eleitorais elevam pessimismo no mercado financeiro

Karina Gomes/Marina Estarque2 de outubro de 2014

Com Dilma à frente nas sondagens, analistas preveem que Ibovespa deve continuar em queda. Setor também vê Marina Silva com desconfiança. Previsão é que cenário só mude após resultado das eleições.

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Foto: ebc/Agencia Brasil

As seguidas quedas da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) e a valorização do dólar, verificadas nesta semana, devem continuar, afirmam especialistas. Eles atribuem o pessimismo do mercado à recuperação de Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas de intenção de voto.

Na segunda-feira (29/09), o Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira, teve queda de 4,52%, a maior desvalorização diária em três anos. Em setembro, a baixa foi de 11,7%, o pior resultado desde maio de 2012. Nesta quarta, o dólar comercial foi a 2,483 reais, maior valor desde dezembro de 2008.

"O mercado se preocupa com a posição do governo em relação a princípios econômicos. Os investidores estão cautelosos, e o resultado está na forte ascensão do dólar e na queda na bolsa de valores", diz Miguel Daoud, economista e diretor da Global Financial Advisor.

No início da semana, três levantamentos indicaram que Marina Silva (PSB), agora com cerca de 25% das intenções de voto, manteve a tendência de queda acentuada e está cada vez mais distante da candidata à reeleição pelo PT.

Ao mesmo tempo, Dilma cresceu ou permaneceu estável, dependendo da sondagem, com uma média de 40% das intenções de voto. Aécio Neves (PSDB) aparece em terceiro lugar, oscilando entre 19% e 20%.

Reeleição

Para Luíz Nelson Porto Araújo, economista e sócio da Delta Economia e Finanças, o mercado "precificou" a reeleição de Dilma, o que significaria uma continuidade da política econômica.

"Há uma herança maldita e um quadro de desânimo e incerteza com quem vai conduzir o Banco Central e o Ministério da Fazenda em um segundo mandato. O mercado ainda não precificou isso totalmente. Vai esperar até janeiro, ou seja, até lá, a bolsa segue caindo", aponta.

Segundo ele, a tendência é de desvalorização do real, inflação no teto da meta e crescimento abaixo do PIB. "Pode até melhorar de vez em quando, ter alguns picos com anúncios positivos, mas em geral o cenário será esse."

O economista destaca também a possibilidade de as agências de classificação de risco rebaixarem a nota do Brasil. "A Moody’s e S&P [Standard & Poor's] devem ser as primeiras a fazer isso. Já estão sinalizando uma mudança de neutro para negativo", alerta.

O especialista acredita que 2015 será um dos piores anos em termos econômicos desde a redemocratização.

Já o economista Rogério Sobreira, professor da FGV/RJ, acredita que a reação das bolsas ao desempenho eleitoral da petista é "irracional". Para ele, o pessimismo do mercado é exagerado.

"Por mais que a economia venha apresentando um resultado muito aquém do esperado, não acredito que o próximo governo, mesmo que comandado por Dilma, estacione na zona de mediocridade e não faça nada", analisa. "O mercado precisa ganhar um pouco de racionalidade, o que tende a acontecer depois das eleições."

Para Sobreira, até o fim dessa semana pré-eleições, não devem ocorrer mudanças substanciais no comportamento dos mercados. "O setor tende a encontrar um equilíbrio depois de 5 de outubro", diz.

Candidatos preferidos

Entre a maioria dos analistas, Dilma é considerada a pior candidata para o setor. Entretanto, eles discordam sobre a preferência do mercado por Marina Silva ou Aécio Neves.

Para Daoud, nem o tucano nem a ambientalista são boas opções. "O que o setor não quer é a Dilma, o PT no poder. Não é uma questão de preferência entre um e outro", afirma.

A opinião é compartilhada por Sobreira, que também considera que o mercado é indiferente em relação aos dois principais adversários da petista.

"Ambos trazem consigo uma agenda mais conservadora, aprovada pelo mercado. Eles apostariam em quem pode levar a eleição para o segundo turno e tem mais chances de vencer Dilma na segunda etapa do pleito", opina o economista.

Já Araújo afirma que Aécio Neves é o candidato preferido do mercado. No entanto, o setor considerou que o tucano teria poucas possibilidades de ganhar e, por isso, comemorou a entrada de Marina na disputa, em agosto.

"A ex-senadora, com essas propostas ortodoxas, conquistou a simpatia do mercado, que, apesar da preferência por Aécio, passou a ver nela uma alternativa", explica Araújo.

Ainda assim, o setor vê a ambientalista com incerteza por acreditar que a candidata teria problemas para governar com um partido pequeno e formar uma coalizão no Congresso, afirma o economista.

Mas, para ele, a leitura do mercado é que o melhor cenário de Marina seria superior ao melhor desempenho possível de Dilma – isto é, se a presidente realizasse as mudanças na política econômica que o setor demanda.

Por outro lado, por Marina ser considerada uma incógnita, um governo sem maioria no Congresso seria ainda mais negativo do que a manutenção da matriz econômica atual. Araújo, no entanto, discorda dessa avaliação do setor.

"O PT pode usar a legitimidade da reeleição para radicalizar o modelo econômico atual. Isso o mercado ainda não precificou. Acho que o pior cenário da Dilma está subestimado", diz.

Para o economista, um eventual problema de governabilidade de uma gestão de Marina é superestimado. Daoud concorda: "P PMDB, o partido mais forte no Congresso, sinalizou que vai apoiá-la, caso seja eleita. Ela já deu mostras de que não vai ficar mais do que quatro anos no poder e vai criar conselhos de responsabilidade fiscal. É um cenário bom."

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