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CatástrofeLíbano

Petição defende que França assuma controle do Líbano

7 de agosto de 2020

Suspeita de que desastre em Beirute foi causado por negligência eleva indignação dos libaneses, que pedem mandato francês pelos próximos dez anos no país. Apelo recebe mais de 50 mil assinaturas após visita de Macron.

Presidente da França, Emmanuel Macron, visita o porto de Beirute, local da megaexplosão que abalou a capital libanesa
Presidente da França, Emmanuel Macron (camisa branca), visita o local da megaexplosão no porto de BeiruteFoto: picture-alliance/dpa/AP/T. Camus

Quase 60 mil pessoas assinaram uma petição online que pede que "o Líbano seja colocado sob um mandato francês pelos próximos dez anos". O número é do início desta sexta-feira (06/08), e as assinaturas começaram a ser recolhidas no mesmo dia da visita do presidente da França, Emmanuel Macron, à capital libanesa.

A petição na ferramente de mobilização social global Avaaz foi supostamente criada por cidadãos libaneses na quarta-feira, dia seguinte à megaexplosão que abalou Beirute e causou a morte de ao menos 140 pessoas e ferimentos em outras cinco mil.

"As autoridades do Líbano mostraram claramente uma total incapacidade de proteger e gerenciar o país", diz um trecho da petição. "Com um sistema falido, corrupção, terrorismo e milícias, o país acaba de dar seu último suspiro."

"Acreditamos que o Líbano deve voltar a estar sob mandato francês para estabelecer um governo limpo e durável." A área que compõe atualmente o Líbano esteve sob domínio francês entre as duas guerras mundiais – trata-se de um mandato da Liga das Nações criado após a Primeira Guerra e a partilha do Império Otomano.

Na quinta-feira, Macron fez o que nenhum líder político libanês havia feito desde a explosão no porto de Beirute. E, cobrando reformas políticas por parte dos governantes, se permitiu ser indagado pelos moradores de um dos bairros mais atingidos da capital.

Dezenas de pessoas cantando "revolução" e pedindo ajuda faziam força contra o cinturão de seguranças, enquanto Macron caminhava pela área de Gemmayzeh, a mais atingida pela explosão, por cerca de 45 minutos.

"Se reformas não forem realizadas, o Líbano continuará a se afundar", disse Macron. "O que também é necessário aqui é uma mudança política. Esta explosão deve ser o início de uma nova era".

A raiva latente contra os líderes libaneses está em alta desde a explosão, que parece ter sido causada por negligência e é amplamente vista como a manifestação mais trágica até agora da corrupção e incompetência da classe dominante.

A França há tempos procura apoiar sua antiga colônia e enviou ajuda de emergência desde a explosão. Mas, ao mesmo tempo, se uniu a outros países ocidentais em pressionar por reformas para erradicar a corrupção, cortar os gastos públicos e reduzir as enormes dívidas do Líbano.

Várias facções políticas, incluindo o grupo radical Hisbolá, apoiado pelo Irã, governam o país desde a guerra civil de 1975-1990. Quase todas as instituições públicas do país estão divididas entre essas facções, que as utilizam como capital político e para benefício de seus apoiadores.

Presidente da França, Emmanuel Macron, é recebido no aeroporto de Beirute pelo presidente do Líbano, Michel AounFoto: Reuters/D. Nohra

Pouco progresso real de fato ocorre nas instituições, e tudo que requer ação conjunta muitas vezes se torna um emaranhado de conflito. Como resultado, até mesmo serviços básicos como eletricidade e coleta de lixo estão imersos em disputas políticas.

O pequeno país mediterrâneo é, além disso, assolado pelo aumento do desemprego e por uma crise financeira que dizimou a qualidade de vida de parte significativa da população.

Os prejuízos causados pela explosão foram estimados pelo governo de Beirute entre 10 e 15 bilhões de dólares. Mais de 300 mil pessoas estão desabrigadas.

O desastre também pode acelerar a epidemia de coronavírus no país, já que milhares de pessoas foram levadas para os hospitais. Dezenas de milhares tiveram que se mudar para a casa de parentes e amigos depois que suas casas foram danificadas, aumentando ainda mais os riscos de exposição ao vírus. 

A jornalista Dima Tarhini, do departamento árabe da DW, disse que a petição pedindo que a França assuma o controle do Líbano circulou amplamente pelas redes sociais libanesas.

"Isso mostra o quanto os libaneses estão desesperados", disse Tarhini. "Tanto se perdeu de onde já havia tão pouco. Eles perderam suas casas, perderam suas propriedades, não podem salvar seus filhos. Eles não sabem o que fazer."

A petição foi endereçada ao presidente francês, que na quinta-feira se tornou o primeiro líder estrangeiro a visitar Beirute após o desastre. Macron alertou que o Líbano "continuará afundando" sem reformas. Ele prometeu que a França ajudará a mobilizar ajuda para a capital libanesa, cujos danos foram estimados em ao menos 10 bilhões de dólares.

Perante a uma multidão enraivecida no centro de Beirute, Macron disse que buscará um novo acordo com as autoridades políticas. "Eu garanto isso: a ajuda não irá para mãos corruptas", disse Macron. "Vou falar com todas as forças políticas para lhes pedir um novo pacto. Estou aqui hoje para propor um novo pacto político para eles."

A massa popular que protestava nas ruas de Beirute pediu que Macron ajudasse a derrubar a liderança do país. O choque pela megaexplosão rapidamente se transformou em raiva na cidade, com muitos críticos e manifestantes dizendo que a corrupção e a incompetência nas classes políticas foram responsáveis pelo desastre de terça-feira.

Promotores franceses abriram uma investigação sobre as explosões. Pelo menos 21 cidadãos franceses ficaram feridos e um morreu.

Mesmo antes da pandemia do coronavírus, o Líbano se via numa onda de protestos de cidadãos irritadas com o governo e a crise econômica no país. Uma recente desvalorização da moeda local fez com que muitos libaneses perdessem milhares de dólares em poupanças.

PV/afp/rtr

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