Cáucaso
13 de agosto de 2008Apesar do fato de a Geórgia não produzir petróleo, o país é peça-chave para as exportações de petróleo e gás natural do Azerbaijão para os mercados ocidentais. Relatórios controversos de planos bélicos russos apontando ataques próximos ao oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC), o segundo maior do mundo, puseram particularmente a Europa em alerta.
Inaugurado em 2006, o oleoduto BTC transporta petróleo das margens do Mar Cáspio para o Ocidente através do porto mediterrâneo de Ceyhan, na Turquia. O oleoduto tem capacidade de bombear 1,2 milhão de barris de petróleo por dia.
A Europa é um dos principais compradores do petróleo transportado pelos oleodutos do sul do Cáucaso. Eles foram construídos como forma de tornar o Ocidente menos dependente das exportações da Rússia, que já ameaçou cortar o fornecimento em disputas anteriores com outros antigos Estados soviéticos.
Apesar de haver especulações de que o recente conflito do Cáucaso foi orquestrado pela Rússia com a finalidade de bombardear o BTC, forçando uma maior dependência européia de suas exportações, Natalia Leshchenko, analista russa da empresa de consultoria econômica Global Insight, afirmou que fatores geopolíticos estão por trás do conflito.
Fatores geopolíticos
"A destruição do BTC ofereceria, sem dúvida, um bônus à Rússia por desviar as exportações de petróleo do Afeganistão para rotas russas, mas o ganho não justificaria todas as perdas humanas e de reputação pelo governo russo através de sua operação na Geórgia", comentou a analista.
Além disso, alguns especialistas afirmaram que a importância da região em termos de produção tem sido superestimada e que, se por um lado o aumento do fornecimento de petróleo e gás natural do Cáucaso serviria ao objetivo europeu de diversificar suas importações energéticas, por outro a importância futura da região como um relevante fornecedor energético é duvidosa.
"Muitos dizem que há abundantes jazidas carboníferas intocadas no Mar Cáspio em sua fronteira com o Azerbaijão", afirmou Arriana Checci, pesquisadora de segurança energética do Centro de Estudos Políticos Europeus, com sede em Bruxelas. "Para outros, os recursos da região não seriam suficientes para justificar projetos maiores de exportação como o gasoduto Nabucco, que partirá do Mar Cáspio e atravessará o Cáucaso e a Turquia até chegar à Europa central e à Itália", comentou.
Checchi, no entanto, acresceu que a região do Cáucaso continuaria um importante corredor, conectando países ricos em energia da Ásia Central com a Europa.
Atrasos, mas nenhuma conseqüência séria
O efeito do conflito pode ainda ter algumas conseqüências negativas para a Europa, afirmou a analista. O aumento da instabilidade poderá provocar um maior atraso do projeto Nabucco, que está sendo apoiado maciçamente pela União Européia como forma de fortalecer a segurança do fornecimento energético do continente.
"A guerra na Geórgia pode confirmar as dúvidas existentes quanto a sua confiabilidade como país de trânsito", afirmou a Checchi, acrescendo que "isto pode levar não somente à relutância política perante o projeto Nabucco, mas também à diminuição da confiança dos investidores."
Se a Geórgia – como esperado – continuar um Estado soberano e o status da Ossétia do Sul mudar devido às dolorosas negociações, especialistas acreditam que, em termos de fornecimento de petróleo, a situação na região não sofrerá grandes alterações.
Preço do petróleo determinado por outros fatores
Checchi afirmou que seria difícil estabelecer uma conexão entre o preço do petróleo e o conflito entre a Rússia e a Geórgia. "É muito cedo para prever de que forma a guerra na Geórgia afetará o preço geral do petróleo", afirmou.
A pesquisadora explicou ainda que os preços do petróleo deverão ser afetados somente de forma temporária, deixando-se a responsabilidade pela determinação do novo nível de preços a outras tendências e fatores, tais como o recente decréscimo da demanda energética norte-americana e o aumento da produção de petróleo na Arábia Saudita.