Autoridades americanas afirmam que grande parte da produção petrolífera do "Estado Islâmico" é vendida ao governo da Síria. Ataque aéreo da coalizão mata líder das finanças do grupo jihadista.
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As autoridades americanas calculam que a organização extremista "Estado Islâmico" (EI) tenha arrecadado mais de 500 milhões de dólares através da venda de petróleo no mercado negro. Grande parte disso teria ido parar nas mãos do regime do presidente sírio Bashar al-Assad, afirmou nesta quinta-feira (10/12) Adam Szubin, do departamento do Tesouro americano, que atua como subsecretário para o Terrorismo e Crimes Financeiros.
Numa das mais detalhadas explicações públicas do comércio de petróleo promovido pela organização terrorista, Szubin contou que os jihadistas arrecadam 40 milhões de dólares por mês com caminhões-tanque que vão além das frentes de batalha da guerra civil na Síria.
"O EI vende grande parte desse petróleo ao regime de Assad", afirmou Szubin. "Ambos se esforçam para eliminar um ao outro, e ainda assim, estão envolvidos em um comércio de milhões e milhões de dólares."
Parte do petróleo produzido pelos jihadistas é consumida internamente nas áreas controladas pelo grupo, enquanto outra parcela da produção chega até as regiões curdas ou à Turquia, afirmou a autoridade do Tesouro americano.
Além dos mais de 500 milhões de dólares obtidos com as vendas de petróleo, os rendimentos do EI advêm de saques a bancos nos territórios que ocupam e da prática de extorsões.
"Atacamos essas duas frentes: a habilidade do EI de gerar renda e de utilizar esses rendimentos", explicou Szubin. "Recentemente, a coalizão lançou uma nova campanha militar que inclui ataques de precisão a bens essenciais de energia do EI, como campos de petróleo, refinarias e caminhões-tanque", contou.
EUA eliminam "ministro das Finanças" do EI
Abu Salah, considerado a principal autoridade financeira da organização extremista, foi morto em um ataque aéreo liderado pelos Estados Unidos. Autoridades americanas informaram que, além dele, dois outros membros do alto escalão do EI morreram em ataques aéreos no Iraque e na Síria, no mês passado.
Salah era "um dos membros mais proeminentes e experientes da rede financeira do EI e vinha como um legado da Al Qaeda", afirmou o coronel Steve Warren, porta-voz das Forças Armadas americanas. "Sua morte e a de seus antecessores esgota o conhecimento e talento necessários para coordenar o financiamento da organização."
Os outros dois membros foram identificados como Abu Mariam, que liderava as redes de extorsão do EI, e Abu Waqman al-Tunis, que seria uma autoridade executiva do grupo.
RC/rtr/afp
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.