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Petróleo pode ser arma do Irã contra os EUA

Ashutosh Pandey
8 de janeiro de 2020

Assassinato de general iraniano por americanos, seguido de ameaça de vingança e ataque a bases dos EUA no Iraque, afeta mercados de petróleo. Uma das opções de Teerã poderia ser interromper o fornecimento do produto.

Iran | Britischer Tanker Stena Impero
Petroleiro Stena Impero interceptado por navios iranianos em julho de 2019Foto: picture-alliance/Photoshot/ISNA/M. Akhoundi

O preço do barril de petróleo atingiu US$ 70 na última segunda-feira (06/01). Esse é o valor mais alto desde setembro, quando ataques de drones a refinarias da Arábia Saudita, supostamente apoiados pelo Irã, cortaram pela metade o fornecimento petrolífero de Riad.

Os Estados Unidos alertaram que Teerã pode retaliar com outro ataque às instalações sauditas para vingar a morte do general iraniano Qassim Soleimani. Os mercados de petróleo estão nervosos desde que ataques aéreos dos EUA mataram o alto militar que liderava a força de elite da Guarda Revolucionária (Quds), em 3 de janeiro. 

Após o Irã atacar duas bases americanas no Iraque na madrugada, os preços do petróleo voltaram a subir no início das negociações desta quarta-feira. Após atingir o maior valor desde setembro, US$ 71,75, o preço do barril de petróleo Brent (principal referência internacional do produto) caiu novamente para US$ 68,53 às 9h08 do horário GMT.

"É provável que o Irã realize ataques, que se atribuem às vezes aos rebeldes houthis do Iêmen, contra instalações energéticas, de dessalinização, marítimas e de aviação nos Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, usando mísseis de cruzeiro e drones armados", disseram Ege Seckin e Firas Modad, respectivamente analista e diretor do portal de energia do Oriente Médio IHS Markit.

Os dois especialistas advertem, no entanto, que esses ataques podem levar a um confronto em grande escala na região. "Ao contrário dos ataques entre maio e setembro de 2019, é mais provável os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita se sentirem encorajados a responder ao Irã, se forem atacados."

Há temores de que Teerã possa ter como alvo o Estreito de Ormuz – o ponto de passagem mais importante do mundo para o fornecimento global de petróleo.

No passado, o Irã ameaçou bloquear o canal localizado entre Omã e Irã, através do qual é transportado mais de um quinto do petróleo mundial. Embora os analistas duvidem da capacidade do Irã de fechar o estreito, o que pode ser visto como um ato de guerra pelos EUA e seus aliados na região, eles concordam que Teerã poderia ter como alvo os navios petroleiros que atravessam a hidrovia, como fez no passado.

Em junho, os EUA culparam o Irã de atacar dois petroleiros perto do Estreito de Ormuz. Teerã negou qualquer participação no ataque. Um mês depois, o Irã interceptou o petroleiro Stena Impero, de bandeira britânica, para retaliar contra a captura de um navio iraniano por parte do Reino Unido.

"A indústria naval está extremamente preocupada. Há discussões intermináveis entre as autoridades de segurança das empresas, expressando medo do que está por vir", observa Dimitris Maniatis, diretor comercial da Diaplous, uma das maiores companhias privadas de segurança marítima.

"Todo mundo está tentando encontrar a melhor solução para proteger seus navios na região, mas, para ser honesto, há muito pouco que um navio mercante possa fazer para evitar uma agressão estatal." Ao mesmo tempo, Maniatis considera "altamente improvável" os iranianos praticarem um ataque aberto a um navio comercial na região: "O pior que eles podem fazer é um ato semelhante ao incidente do Stena Impero."

Um quinto do fornecimento mundial de petróleo passa pelo Estreito de OrmuzFoto: picture-alliance/dpa/NASA/The Visible Earth

Contornar o estreito?

Qualquer tentativa do Irã de bloquear o Estreito de Ormuz ou interromper o transporte de petróleo pela hidrovia deverá prejudicar seriamente o suprimento global de petróleo, pois há poucas opções para contornar esse ponto crítico de passagem.

Só a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos possuem oleodutos que podem transportar petróleo para fora do Golfo Pérsico, de acordo com a Administração de Informações sobre Energia dos EUA (EIA). Contudo, essas vias só possuem capacidade para transportar 6,8 milhões de barris de petróleo por dia. Em comparação, o fluxo diário de petróleo bruto no Estreito de Ormuz foi em média de 17,3 milhões de barris diários em 2018.

Quase 80% do petróleo bruto e condensado transportados pelo estreito em 2018 foram para países asiáticos, incluindo China, Índia e Japão, deixando os EUA, que importaram apenas 1,4 milhão de barris diários de petróleo bruto pela hidrovia, menos vulneráveis a qualquer interferência iraniana.

Mas o Irã pode ter como alvo navios porta-contêineres com bandeira dos EUA que servem ao Comando Militar de Transporte Marítimo dos EUA (MSC) e cruzam regularmente o estreito em direção ao Golfo Pérsico.

"Os navios com bandeira dos EUA ou de interesses claramente americanos são os que identificamos como correndo o maior risco de qualquer ação de retaliação", aponta Maniatis. "Muitos manifestaram preocupação frente a embarcações com bandeira das Ilhas Marshall, já que esse Estado é tido como estreitamente ligado aos EUA."

Com base na fraca demanda global e no aumento da produção em países não membros da Opep, vários analistas esperam que os preços do petróleo caiam dos níveis atuais. "Prevemos que qualquer aumento nos preços do petróleo resultante dessa escalada deva ser, provavelmente, efêmero", opina Stewart Glickman, analista de energia da empresa de pesquisa empresarial CFRA Research.

"Em nossa opinião, essa escalada – que certamente tem potencial de expansão – não afeta o crescimento da oferta em outras áreas fora da Opep, como Brasil, Guiana ou Mar do Norte, nem melhora as perspectivas de demanda de petróleo em 2020", observou Glickman.

Para enfatizar seu argumento, o analista lembrou o ataque de setembro às instalações sauditas. "Embora o ataque tenha registrado um impacto maciço positivo de um dia no preço do petróleo, o impulso foi corroído apenas algumas semanas depois."

O grupo financeiro Goldman Sachs sugere que o prêmio de risco já havia sido incluído nos preços do petróleo, sendo necessária uma interrupção real do suprimento do produto para manter os preços nos elevados níveis atuais.

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