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CriminalidadeBrasil

PF confirma que restos mortais são de Dom Phillips

17 de junho de 2022

Material foi identificado por peritos do Instituto Nacional de Criminalística, por exame da arcada dentária. Preso suspeito pelo desaparecimento do jornalista britânico e de indigenista brasileiro confessou crime.

Pessoas carregam um caixão
Na quinta-feira, o avião com os remanescentes humanos encontrados durante as buscas pousou em BrasíliaFoto: Ueslei Marcelino/REUTERS

A Polícia Federal (PF) confirmou nesta sexta-feira (17/06) que os restos mortais que foram encontrados na Amazônia são do jornalista britânico Dom Phillips. O material foi identificado por peritos do Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, por meio de exame da arcada dentária. 

"A confirmação foi feita com base no exame de odontologia legal combinado com a antropologia forense. Encontram-se em curso os trabalhos para completa identificação dos remanescentes, para a compreensão das causas das mortes, assim como para indicação da dinâmica do crime e ocultação dos corpos", informou a PF. 

O trabalho de perícia continua para a identificação dos remanescentes humanos do indigenista Bruno Araújo Pereira. 

Na quinta-feira, o avião com os remanescentes humanos encontrados durante as buscas pela dupla pousou, por volta das 18h30, no Aeroporto de Brasília. O material foi levado ao Instituto Nacional de Criminalística.

Os restos mortais foram encontrados durante buscas na quarta-feira, após um dos presos suspeito pelo desaparecimento, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como "Pelado", ter confessado o crime na noite anterior. Ele acompanhou agentes até o local onde teria enterrado os corpos, uma área de mata fechada e difícil acesso, a cerca de três quilômetros da calha do rio Itaquaí, afluente do rio Javari.

Jornalista veterano e colaborador do The Guardian, Phillips tinha 57 anos e vivia no Brasil há 15 anosFoto: Joao Laet/AFP/Getty Images

Mais cedo, a Polícia Federal havia informado que a investigação sobre os assassinatos não trouxe indícios de ter havido um mandante ou organização criminosa por trás das mortes.

Em nota, a PF disse que as diligências continuam e que, apesar de não haver um mandante, outras pessoas podem estar envolvidas no crime e novas prisões podem ocorrer nos próximos dias.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) disse que discorda da conclusão da PF. Segundo a entidade, foram repassadas à polícia informações sobre organizações criminosas que estariam atuando na região e que poderiam estar ligadas às mortes. No documento, a Univaja solicita que as investigações continuem e que nenhuma hipótese seja descartada.

"Exigimos a continuidade e o aprofundamento das investigações. Exigimos que a PF considere as informações qualificadas que já repassamos a eles em nossos ofícios. Só assim teremos a oportunidade de viver em paz novamente em nosso território, o Vale do Javari."

Bruno Pereira fazia parte da Univaja e, segundo a entidade, era alvo de ameaças constantes de madeireiros, garimpeiros e pescadores da região.

O desaparecimento

Dom Phillips e Bruno Pereira foram vistos pela última vez em 5 de junho, enquanto viajavam pelo Vale do Javari, uma região remota do estado do Amazonas palco de conflitos entre indígenas e invasores de terras. 

Amarildo da Costa Oliveira foi preso em 7 de junho por suspeita de envolvimento no desaparecimento. A polícia chegou ao nome de Amarildo ainda no início das investigações. Testemunhas ouvidas pelas autoridades policiais disseram que viram Amarildo ameaçando Pereira. Uma testemunha também relatou que Amarildo foi visto em uma lancha, navegando logo atrás da embarcação de Pereira e Phillips.

Em 14 de junho, a PF informou que prendeu mais um suspeito. Ele foi identificado como Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos", de 41 anos. Ele é irmão do pescador Amarildo da Costa Oliveira.

De acordo com a agência Pública, o delegado Alex Peres afirmou que "testemunhas" colocaram "os dois no local, supostamente, onde ocorreu o crime". 

Phillips e Pereira

Jornalista veterano e colaborador do The Guardian, Phillips tinha 57 anos e vivia no Brasil há 15 anos. Ao longo da sua carreira, ele também escreveu para vários outros veículos internacionais, incluindo Financial TimesNew York Times Washington Post, além de ter produzido reportagens para o serviço em inglês da Deutsche Welle (DW).

Antes de desaparecer, Phillips trabalhava num livro sobre preservação da Amazônia, com apoio da Fundação Alicia Patterson, que lhe concedeu uma bolsa de um ano para reportagens ambientais, que durou até janeiro. Phillips deixa uma viúva, Alessandra, que nos últimos dias divulgou diversos apelos para que as autoridades se empenhassem mais pela busca dos desaparecidos.

Bruno Araújo Pereira era considerado por organizações ambientais e indígenas um dos funcionários mais experientes da Fundação Nacional do Índio (Funai) que atuava na região do Vale do Javari. Em 2018, ele se tornou o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados da Funai, mas acabou exonerado do cargo em outubro de 2019, após pressão de setores ruralistas.

le (Agência Brasil, DW, ots)

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