PF indicia Samarco e Vale por crime ambiental em Mariana
14 de janeiro de 2016
Além das mineradoras, Polícia Federal também denuncia empresa de consultoria responsável pelo laudo que atestou a estabilidade da barragem. Após descumprir duas vezes o prazo, Samarco entrega planos de emergência.
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A Polícia Federal (PF) indiciou, nesta quarta-feira (13/01), a mineradora Samarco e sete de seus executivos e técnicos por crimes ambientais decorrentes do derramamento de 32 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no rio Doce. Entre os indiciados está o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi.
A Vale, uma das donas da empresa, e a consultoria VogBR, responsável pelo laudo que atestou a estabilidade da barragem que se rompeu, também foram indiciadas.
Em comunicado, a Vale diz que recebeu com surpresa a notícia do indiciamento e que a responsabilização da empresa "reflete um entendimento pessoal do delegado e ocorre em um momento em que as reais causas do acidente ainda não foram tecnicamente atestadas e são, portanto, desconhecidas". A nota também diz que a empresa vai demonstrar tecnicamente que as premissas da PF "não têm efetivo nexo de causalidade com o acidente".
A Samarco informou, por meio de nota, que não concorda com o indiciamento de profissionais da empresa pela Polícia Federal. Segundo a mineradora, até o momento "não há uma conclusão pericial técnica das causas do acidente". A VogBR disse que a empresa aguardará o comunicado oficial da PF para se pronunciar.
Os indiciados estão sendo acusados pelo crime de poluir causando danos à saúde humana, a morte de animais e a destruição da flora, previsto no Artigo 54 da Lei de Crimes Ambientais, entre outras infrações. A pena para esse delito é reclusão de seis meses a cinco anos, além do pagamento de multa.
O colapso da barragem de Fundão em 5 de novembro, em Mariana, causou a morte de 17 pessoas, devastou municípios, prejudicou o abastecimento de água em dezenas de cidades e continua causando impactos ambientais graves no rio Doce e no litoral brasileiro.
Samarco entrega planos de emergência
Após descumprir duas vezes o prazo de entrega dos planos de emergência das barragens de Santarém e do Germano, a Samarco entregou nesta quarta-feira os documentos à Justiça mineira. As barragens, também localizadas na região de Mariana, sofreram danos na estrutura após o rompimento da Barragem de Fundão.
Os planos de emergência indicam as possíveis consequências de um novo colapso e apresentam as ações imediatas que serão tomadas pela mineradora para diminuir os impactos, caso isso ocorra.
Pela manhã, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) havia informado que pediria a elevação da multa inicial de 1 milhão de real por dia de atraso na entrega dos planos para 5 milhões de reais diários.
O MPMG havia definido o 3 de dezembro como prazo para entrega do estudo, mas, após pedido da empresa à Justiça, a multa foi suspensa e o prazo prorrogado para 9 de janeiro. Como a data caiu no fim de semana, venceu nesta segunda-feira.
PV/abr/ots
Tragédia em Mariana
Enxurrada que atingiu Mariana após rompimento de barragem do Fundão, em 5 de novembro, deixou rastro de destruição. Cidade ainda está enterrada na lama.
Foto: DW/N. Pontes
Dificuldades para chegar aos locais atingidos
A reportagem da DW Brasil acompanhou a primeira visita da Defesa Civil de Mariana ao distrito de Paracatu, que fica a 35 quilômetros do centro e foi arrasado pela tragédia. Foi preciso vencer muitas dificuldades na estrada para chegar ao local. Devido ao risco, barreiras de terra foram construídas pela empresa para evitar que ex-moradores trafegassem pelo local.
Foto: DW/N. Pontes
Tentativa de recuperação
Máquinas e homens da Samarco, mineradora responsável pela barragem que se rompeu, trabalham diariamente tentando recuperar as estradas destruídas. Todos os corpos d'água que cruzavam a região ganharam um tom vermelho escuro por causa da presença de minérios. Com as chuvas, o terreno fica ainda mais instável.
Foto: DW/N. Pontes
Lama perigosa
Caminhar pela lama é perigoso. O material despejado sobre o solo endurece quando o sol bate, mas praticamente se liquefaz quando entra em contato com a água. Segundo especialistas, o rejeito de mineração é um material inerte e que não pode ser usado em nenhum setor, como na construção civil. Moradores reviram os escombros sem luva ou qualquer outro equipamento de proteção.
Foto: DW/N. Pontes
Campo de futebol
No antigo campo de futebol, hoje tomado pelos rejeitos, o helicóptero da empresa Samarco pousou para avisar os moradores que eles tinham cinco minutos para fugir antes que a enxurrada de lama chegasse. Vizinhos deixaram tudo para trás e correram pela vizinhança para ajudar crianças e idosos a chegarem ao ponto mais alto do vilarejo.
Foto: DW/N. Pontes
Igreja havia sido reformada
A igreja do vilarejo de Paracatu, construída há mais de 100 anos, havia sido reformada há pouco tempo. Uma cratera ocupa hoje a antiga praça, onde moradores se reuniam todas as noites. Cerca de 70 famílias moravam em Paracatu. Expulsas pela lama, elas estão hospedadas em hotéis de Mariana e querem que o distrito seja reconstruído em outro local.
Foto: DW/N. Pontes
Santos perdidos
Marca na parede do interior da igreja mostra onde a altura que a enxurrada de lama atingiu. De volta ao vilarejo pela primeira vez após a catástrofe, antigos moradores lamentam a destruição e tentam recuperar imagens de santos escondidas na lama. É preciso se equilibrar sobre os assentos que restaram para não afundar.
Foto: DW/N. Pontes
À espera dos donos
Animais de estimação de antigos moradores perambulam pelos escombros das casas, à espera da volta dos donos. Sem água ou comida, eles reviram a lama em busca do que comer. Veterinários de São Paulo fizeram uma campanha e arrecadaram três toneladas de suprimentos para tratar dos animais que estão sendo resgatados.
Foto: DW/N. Pontes
"Eu não sei se esse barro um dia irá sair"
Antigos moradores buscam objetos pessoais enterrados na lama. Depois de uma manhã revirando os escombros, uma moradora mostra o que encontrou: talheres, um aparelho de celular, livros, fotos e até dinheiro. "Eu não sei se esse barro um dia irá sair", diz Uliane Marcelino Tete, que fazia a busca com a ajuda de uma enxada.
Foto: DW/N. Pontes
Centros de doações lotados
Voluntários trabalham no ginásio da cidade para separar roupas e outros objetos destinados aos desabrigados. Em Mariana, os dois centros recebem doações já estão lotados. Mas apesar da grande quantidade de gêneros alimentícios, é provável que o estoque se esgote em trinta dias. Segundo a prefeitura, cidade precisa de mais voluntários para ajudar na separação dos itens.
Foto: DW/N. Pontes
Cidade debaixo da lama
Casas do distrito de Paracatu ainda estão debaixo da lama. A enxurrada atingiu o vilarejo no começo da noite do dia 5 de novembro. Moradores contaram que ouviram um barulho forte se aproximando, mas não conseguiam ver a destruição que ele causava porque já começava a escurecer. Todos os residentes do distrito conseguiram escapar com vida.