Petista é preso na Operação Custo Brasil, desdobramento da Lava Jato que investiga pagamento de propina a pessoas ligadas ao Ministério do Planejamento. Esquema teria movimentado 100 milhões de reais entre 2010 e 2015.
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A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã desta quinta-feira (23/06) o ex-ministro Paulo Bernardo, como parte de um desdobramento da 18ª fase da Lava Jato. Na operação, batizada de Custo Brasil, autoridades investigam o pagamento de propina, proveniente de contratos de prestação de serviços de informática, a pessoas ligadas a funcionários e agentes do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Paulo Bernardo, que comandou a pasta entre 2005 e 2011, foi detido em Brasília. A PF realizou ainda uma busca na casa do ex-ministro e de sua esposa, a senadora Gleisi Hoffmann, em Curitiba. Policiais cumprem também um mandato de busca e apreensão na sede nacional do PT, em São Paulo, e na sede do partido em Brasília.
O esquema de propina no ministério investigado pela PF teria movimentado 100 milhões de reais entre 2010 e 2015. Paulo Bernardo esteve à frente da pasta do Planejamento no governo Lula, até 2011, e depois comandou o Ministério das Comunicações, no governo Dilma Rousseff, até o início de 2015.
"Há indícios de que o ministério direcionou a contratação de uma empresa de prestação de serviços de tecnologia e informática para a gestão do crédito consignado na folha de pagamento de funcionários públicos federais com bancos privados", disse a Polícia Federal, em nota.
O ex-ministro deverá ser levado à sede da PF em São Paulo. Sua prisão é preventiva. Ao todo, policiais cumprem 11 mandatos de prisão preventiva, 14 de condução coercitiva e 40 de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal.
Além de Paulo Bernardo, a polícia cumpriu mandato de condução coercitiva contra o ex-ministro Carlos Gabas e contra o jornalista Leonardo Attuch, do site Brasil 247.
Os investigados na operação Custo Brasil poderão responder pelos crimes de tráfico de influência, corrupção ativa ou passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. As penas podem variar entre 2 a 12 anos de prisão.
Outras acusações
Essa não é a primeira vez que o nome de Paulo Bernardo aparece ligado à Lava Jato. Em março deste ano, o ex-ministro e sua esposa foram indiciados pela PF sob suspeita de serem beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras. Os dois negam as acusações.
A operação Custo Brasil é um desdobramento da 18ª fase da Lava Jato, conhecida como Pixuleco 2, instaurada em dezembro de 2015. Por determinação do STF, a documentação recolhida foi encaminhada para investigação em São Paulo.
CN/efe/rtr/abr/ots
Entenda a Operação Lava Jato
A Polícia Federal apura, desde 2014, um esquema bilionário de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos. Entenda a maior investigação sobre corrupção já conduzida no país.
Foto: AFP/Getty Images
O início
A Operação Lava Jato foi deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março de 2014. Começou investigando um esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro e descobriu a existência de uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. O nome vem de um posto de gasolina em Brasília, um dos alvos da PF no primeiro dia de operação.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
O esquema
Executivos da Petrobras cobravam propina de empreiteiras para, em troca, facilitar as negociações dessas empresas com a estatal. Os contratos eram superfaturados, o que permitia o desvio de verbas dos cofres públicos a lobistas e doleiros, os chamados operadores do esquema. Eles, por sua vez, eram encarregados de lavar o dinheiro e repassá-lo a uma série de políticos e funcionários públicos.
Foto: Reuters/S. Moraes
As figuras-chave
O esquema na Petrobras se concentrava em três diretorias: de abastecimento, então comandada por Paulo Roberto Costa; de serviços, sob direção de Renato Duque; e internacional, cujo diretor era Nestor Cerveró. Cada área tinha seus operadores para distribuir o dinheiro. Um deles era o doleiro Alberto Youssef (foto), que se tornou uma das figuras centrais da trama. Todos os citados foram condenados.
Foto: imago/Fotoarena
As empreiteiras
As grandes construtoras do país formaram uma espécie de cartel: decidiam entre si quem participaria de determinadas licitações da Petrobras e combinavam os preços das obras. Os executivos da estatal, por sua vez, garantiam que apenas o cartel fosse convidado para as licitações. Entre as empresas investigadas estão Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Vários executivos foram condenados.
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Os políticos
O núcleo político era formado por parlamentares de diferentes partidos, responsáveis pela indicação dos diretores da Petrobras que sustentavam a rede de corrupção dentro da estatal. Os políticos envolvidos recebiam propina em porcentagens que variavam de 1% a 5% do valor dos contratos, segundo os investigadores. O dinheiro foi usado, por exemplo, para financiar campanhas eleitorais.
Foto: J. Sorges
De Cunha a Dirceu...
A investigação só entrou no mundo político em 2015, quando a Lava Jato foi autorizada a apurar mais de 50 nomes, entre deputados, senadores e governadores de vários partidos. Desde então, viraram alvo de investigação políticos como os ex-parlamentares Eduardo Cunha (foto) e Delcídio do Amaral, ambos cassados, os senadores Renan Calheiros, Fernando Collor e o ex-ministro José Dirceu.
Foto: Reuters/A. Machado
... e Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu em dez processos relacionados à Lava Jato, sendo acusado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. As denúncias indicam que Lula teria recebido benefícios das empreiteiras OAS e Odebrecht, envolvendo imóveis no Guarujá e São Bernardo do Campo. Em 2018, ele foi preso e teve uma nova candidatura à Presidência barrada.
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As prisões
A Lava Jato quebrou tabus no Brasil ao encarcerar altos executivos de empresas e importantes figuras políticas. Entre investigados e aqueles já condenados pela Justiça, estão o executivo Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht; Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara; Sérgio Cabral, ex-governador do Rio; os ex-ministros José Dirceu (foto) e Antonio Palocci, entre outros.
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As delações
Os acordos de delação premiada são considerados a força-motriz da operação. Depoimentos como o de Marcelo Odebrecht (foto) chegam com potencial para impactar fortemente a investigação. O acordo funciona assim: de um lado, os delatores se comprometem a fornecer provas e contar o que sabem sobre os crimes, além de devolver os bens adquiridos ilegalmente; de outro, a Justiça reduz suas penas.
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O juiz
Responsável pela Lava Jato na 1° instância, o ex-juiz federal Sergio Moro logo ganhou notoriedade. Em manifestações, foi ovacionado pelo povo e chegou a ser chamado de "herói nacional". Mas também foi acusado de agir com parcialidade política. Em 2018, deixou o cargo e aceitou ser ministro do presidente Jair Bolsonaro, cuja candidatura foi beneficiada pela prisão de Lula no ano anterior.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Expansão internacional
Se começou num posto de gasolina em Brasília, a Lava Jato ganhou proporções internacionais com o aprofundamento das investigações. Segundo dados do Ministério Público Federal levantados a pedido da DW Brasil, a investigação já conta com a cooperação de pelo menos outros 40 países (veja no gráfico acima). Além disso, 14 países, fora o Brasil, investigam práticas ilegais promovidas pela Odebrecht.
Um terremoto político
Ao longo de cinco anos, a Lava Jato influenciou o impeachment de Dilma Rousseff, enfraqueceu o governo Michel Temer e contribuiu para a derrocada de velhos caciques do PT, MDB e PSDB. Em 2018, Lula, então favorito para vencer as eleições presidenciais, foi preso e teve a candidatura barrada. As investigações também fortaleceram um discurso antissistema que beneficiou a campanha de Bolsonaro.
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Críticas e revelações
A Lava Jato também acumulou acusações de parcialidade e de abusos em seus métodos. Em 2019, os procuradores da força-tarefa foram duramente criticados por tentarem criar uma fundação para gerenciar uma multa bilionária da Petrobras. No mesmo ano, conversas reveladas pelo site "The Intercept" apontaram suspeita de conluio entre Moro e os procuradores na condução dos processos, o que é proibido.