Em termos proporcionais, bombardeio aliado sobre a pequena cidade no sudoeste da Alemanha foi pior até que os de Dresden e Hamburgo. Passados 70 anos, moradores se esforçam para que tragédia não seja esquecida.
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Durante 22 minutos ininterruptos, os sinos tocam em Pforzheim, no sudoeste alemão. Milhares de moradores se reuniram nesta segunda-feira (23/02) para recordar o bombardeio de 1945. Nesse dia, em apenas 22 minutos a cidade foi praticamente eliminada do mapa pelos projéteis lançados pelos aviões dos Aliados.
Setenta anos depois, o acontecimento ainda emociona profundamente os habitantes da localidade a cerca de 40 minutos de carro de Stuttgart. No centro da Praça 23 de Fevereiro, eles depositam velas, formando uma pomba.
"Para Deus, para o meu povo e a minha cidade", diz a septuagenária Ulla, ao ser indagada para quem é a homenagem. "Eu era pequena demais para lembrar, mas sei, pela minha família e pelo que veio depois, o quanto esse dia nos machucou."
"Estamos aqui para recordar", explica Larissa, que veio com seis amigas. "É isso, não se precisa dizer mais nada", conclui, ainda ao som dos sinos, com seriedade insólita para uma adolescente de 17 anos.
"Apagada do atlas"
Um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial, o autor e médico alemão Alfred Döblin escrevia numa carta: "Desaparecida da face da terra, raspada, reduzida a pedacinhos. Nenhuma alma humana mais lá. Pforzheim, você pode apagá-la do atlas."
Entre as 19h50 e as 20h12 do dia 23 de fevereiro de 1945, 379 aviões da Força Aérea britânica lançaram sobre a localidade 1.575 toneladas de bombas altamente explosivas e incendiárias. O mar de chamas resultante é considerado, hoje, um dos mais devastadores da história militar.
Segundo as estatísticas oficiais, 17.600 pessoas morreram, dezenas de milhares ficaram feridas. A praça do mercado e o núcleo histórico foram aniquilados e completamente despovoados. No total, 80% da arquitetura então existente foram reduzidos a escombros.
Em termos proporcionais, esse foi o pior caso de destruição pelos Aliados ao fim da Segunda Guerra. Mas, enquanto os bombardeios de Dresden e Hamburgo foram bem documentados e permanecem na consciência coletiva, a pequena Pforzheim é raramente lembrada, na Alemanha ou no exterior.
Importância estratégica
Publicado em 1943 e 1944 pelo Ministério de Economia de Guerra do Reino Unido, o assim chamado Bomber’s Baedeker era um guia da importância econômica de diversas cidades alemãs, com vista ao bombardeio estratégico. Nele, Pforzheim aparecia na 57ª colocação, entre 101 localidades avaliadas.
A cidade tinha 80 mil habitantes, não produzia munição nem possuía qualquer tipo de indústria pesada, fora uma fábrica de tubos de metal da Metallindustrie Richter.
No entanto, ela abrigava numerosas instalações de manufatura técnica, que produziam, entre outros, lentes para periscópios e componentes para submarinos. Além disso, era um importante nó ferroviário e rodoviário na região de Baden.
Por que Pforzheim?
A pergunta "por que Pforzheim" irrita Anton, um dos participantes da vigília: "Você acha mesmo que alguém se importa com isso? Essa é uma questão para os políticos e estrategistas da época, para historiadores e jornalistas."
"É uma pergunta para gente que faz as perguntas erradas. O entulho do bombardeio ainda está aqui, num monte fora da cidade", complementa, referindo-se ao Wallberg, de 40 metros de altura, apelidado pela população de "Monte Scherbelino" (algo como "Monte Entulhino").
Num outro monte próximo, denominado Wartberg, cerca de cem neonazistas e ativistas de extrema direita se reúnem numa contramanifestação à vigília oficial. Isolados dos demais manifestantes e sob a vigilância de mil policiais, eles evocam as vítimas alemãs dos bombardeios aliados.
Do outro lado, o participante Manfred comenta, visivelmente comovido: "Foi no ódio que tudo isso começou. E ele causou a destruição da nossa cidade, 70 anos atrás. Você acha que eu vou ficar parado, deixar neonazistas marcharem por aqui? Nunca mais vamos deixar o ódio nos destruir."
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.