PGR apura conduta de Bolsonaro e Pazuello na pandemia
5 de fevereiro de 2021
Procurador-geral abre investigação preliminar sobre ações do presidente e do ministro da Saúde em relação à crise provocada pela covid-19 no Amazonas e no Pará. Propagação da cloroquina também é alvo da apuração.
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O procurador-geral da República, Augusto Aras, abriu uma apuração preliminar sobre a conduta do presidente Jair Bolsonaro e de seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na crise sanitária no Amazonas e no Pará.
Aras respondeu a uma chamada notícia-crime encaminhada pelo PC do B ao Supremo Tribunal Federal (STF). Fazendo referência especialmente à grave situação nos dois estados da região Norte, oito deputados do partido pedem que Bolsonaro e Pazuello sejam investigados e responsabilizados por "inércia" e uma "postura isentiva" em relação a políticas de combate ao coronavírus.
Aras afirmou ao STF que, a partir da notícia-crime, foi instaurada uma apuração preliminar, que poderá levar a uma investigação formal. "Caso, eventualmente, surjam indícios razoáveis de possíveis práticas delitivas por parte dos noticiados, será requerida a instauração de inquérito neste Supremo Tribunal Federal", disse.
Deputados denunciam "descompromisso"
Os parlamentares do PC do B denunciam que a grave crise da falta de oxigênio devido à pandemia, que inicialmente assolou Manaus, agora ocorre também no estado Pará.
"O ‘descompromisso' de Bolsonaro e Eduardo Pazuello com o enfrentamento à covid-19 deixou gestores locais à deriva, tendo que administrar por conta própria fluxos e demandas que, via de regra, dependem de uma lógica conjunta – a mesma que orienta o Sistema Único de Saúde (SUS), que opera de forma tripartite, envolvendo União, estados e municípios", diz a notícia-crime, segundo nota divulgada no site do partido nesta quinta-feira (04/02).
Os parlamentares afirmam ainda que o presidente e o ministro da Saúde propagaram o uso de medicamentos que não possuem eficácia científica, em referência à cloroquina e à hidroxicloroquina, o que será agora apurado pela PGR.
A conduta do Ministério da Saúde em relação à cloroquina e à hidroxicloroquina – repetidamente defendidas por Bolsonaro, apesar de não haver comprovação científica de sua eficácia contra a covid-19 – também é apurada no Tribunal de Contas da União (TCU), após uma auditoria apontar irregularidades nas verbas destinadas à aquisição dos medicamentos.
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Pazuello já estava na mira do STF
A pedido de Aras, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, autorizou na semana passada a abertura de um inquérito para investigar a conduta de Pazuello em relação ao colapso da saúde pública de Manaus. O inquérito, que não envolve Bolsonaro, é uma resposta a denúncias apresentadas por vários partidos políticos, pressupondo que o ministro da Saúde "tinha dever legal e possibilidade de agir para mitigar" a crise.
Aras argumentou que o Ministério da Saúde recebeu informações sobre um possível colapso do sistema de saúde na capital do Amazonas ainda em dezembro, mas só enviou representantes à região em janeiro deste ano.
Nesta quinta-feira, Pazuello foi interrogado no âmbito da investigação. O conteúdo do depoimento encontra-se sob sigilo. Segundo o Ministério da Saúde, o ministro detalhou as ações no Amazonas para combater a pandemia e colocou-se à disposição para mais esclarecimentos.
lf/as (Reuters, Lusa, ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.