Plástico é responsável por 80% do lixo nos oceanos
11 de junho de 2021
Pesquisa revela que quase metade de todo o lixo de origem humana encontrado nos mares são sacolas, garrafas e recipientes descartáveis. Assim, banir canudinhos e cotonetes plásticos, como fez UE, não é a solução.
Anúncio
Um estudo global publicado na revista científica Nature Sustainability nesta quinta-feira (10/06) revelou que 80% do lixo encontrado nos oceanos é composto por plástico, sobretudo sacolas e garrafas. Em seguida vêm metal, vidro, roupas e outros artigos têxteis, borracha, papel e madeira processada.
A maior proporção de plástico encontra-se nas águas superficiais (95%), seguida das costas (83%), enquanto os leitos dos rios apresentam a menor percentagem (49%).
O estudo analisou 112 categorias de resíduos maiores que três centímetros em sete ecossistemas, como rios, leitos de rios, águas costeiras e águas abertas. Foram utilizadas informações de 12 milhões de pontos de observação de 36 bancos de dados em todo o planeta.
Sacolas descartáveis, garrafas plásticas, recipientes para alimentos e embalagens de comida são os quatro itens que mais poluem os mares, representando quase metade dos dejetos de origem humana.
Apenas dez produtos, entre os quais tampas e equipamentos de pesca, responderam juntos por 75% do lixo plástico, devido a seu uso generalizado e degradação extremamente lenta.
Em termos de origem, os produtos take-away – sacolas, embalagens, recipientes para alimentos e latas – representam a maioria dos resíduos em todos os ambientes (de 50% a 88%), exceto no mar aberto, onde 66% provém das atividades marítimas. Já plásticos de origem médica e higiênica – como lenços umedecidos – encontram-se sobretudo no fundo do mar, perto da costa.
Canudinhos e mexedores representaram apenas 2,3% dos resíduos, cotonetes e palitos de pirulito, 0,16%. Por essa razão, os pesquisadores destacam que, apesar da importância de iniciativas como as vistas na Europa, para eliminar o consumo de canudinhos e cotonetes, se outros itens não forem incluídos nessas ações, o problema não será resolvido.
Anúncio
Produção irresponsável e consumo desenfreado
A maior concentração de lixo foi encontrada nas faixas costeiras e no fundo do mar perto das costas. Uma das explicações dos cientistas é que o vento e as ondas varrem o lixo para a costa, onde se acumula no fundo.
Os responsáveis pela pesquisa alertam que a produção irresponsável de artigos plásticos de uso único, o comportamento inadequado de usuários e as deficiências dos sistemas de reciclagem levam a um acúmulo contínuo desses materiais. Por essa razão, os autores propõem maior controle do consumo e produção.
"Não ficamos surpresos que o plástico respondesse por 80% do lixo, mas sim com a alta proporção de itens para viagem, que não eram apenas do McDonald's, mas garrafas de água, de bebidas como Coca-Cola, e latas", disse uma dos autores da pesquisa, Carmen Morales-Caselles, da Universidade de Cádiz, Espanha, em entrevista ao jornal britânico The Guardian.
"Esta informação facilitará para os legisladores tomarem medidas para tentar 'fechar a torneira' dos detritos marinhos que vão parar nos oceanos, em vez de apenas limpá-los", acrescentou.
Como alternativas, os pesquisadores recomendaram a proibição de artigos de plástico para viagem, como sacolas descartáveis. Em relação a produtos considerados essenciais, eles sugerem que os produtores assumam mais responsabilidade na coleta e descarte seguros, bem como em esquemas de devolução de materiais.
le (EFE, ots)
Lixo plástico, um desafio para o planeta
Praias antes paradisíacas repletas de garrafas, animais engasgados com dejetos, pessoas recolhendo o material em aterros. Uso desenfreado do derivado do petróleo deixa rastro preocupante no meio ambiente.
Foto: Daniel Müller/Greenpeace
A era do plástico
Leve, durável, flexível e muito popular. O mundo produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico desde o início da produção em massa, nos anos 50. Como o material não é facilmente biodegradável, muito do que foi produzido acaba em aterros como este, nos arredores de Nairóbi. Catadores de lixo caçam plásticos recicláveis para ganhar a vida. Mas muito também acaba no oceano.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Rios de lixo
Cerca de 90% do plástico entra nos habitats marinhos através de apenas dez rios: o Yangtzé, o Indo, o Amarelo, o Hai, o Nilo, o Ganges, o Pearl River, o Amur, o Níger e o Mekong. Esses rios atravessam áreas altamente povoadas, com falta de infraestrutura adequada para o descarte de resíduos. Aqui, um pescador nas Filipinas retira uma armadilha para peixes e caranguejos de águas poluídas.
Foto: picture-alliance/Pacific Press/G. B. Dantes
Começo de vida plastificado
Alguns animais encontram uma utilidade para resíduos de plástico. Este cisne fez seu ninho no lixo em um lago de Copenhague que é popular entre os turistas. Seus filhotes saíram dos ovos rodeados de dejetos, o que não é um bom início de vida. Mas para outros animais, as consequências são muito piores.
Foto: picture-alliance/Ritzau Scanpix
Consequências fatais
Embora o plástico seja altamente durável e possa ser usado para produtos com longa vida útil, como móveis e tubulações, cerca de 50% da produção são destinados a produtos descartáveis, incluindo talheres e anéis usados em pacotes de seis unidades de latas de bebidas, que acabam no meio ambiente. Animais correm o risco de se enredar neles e morrer, como ocorreu com este pinguim.
Foto: picture-alliance/Photoshot/Balance
Confundido com comida
Este filhote de albatroz foi encontrado morto em Sand Island, no Havaí, com vários pedaços de plástico no estômago. Um levantamento realizado em 34 espécies de aves no norte da Europa, Rússia, Islândia, Escandinávia e Groenlândia, apontou que 74% delas ingeriram plástico. Comer o material pode levar a danos nos órgãos e bloqueios no intestino.
Mesmo os animais maiores sofrem os efeitos do consumo de plástico. Esta baleia foi encontrada na Tailândia. Durante a tentativa de salvamento, o animal vomitou cinco sacos plásticos e morreu. Na autópsia, os veterinários encontraram 80 sacolas de compras e outros dejetos plásticos que entupiam o estômago da baleia, de modo que ela não conseguia mais digerir alimentos nutritivos.
Foto: Reuters
Dejetos invisíveis
Grandes pedaços de plástico na superfície do oceano, como é registrado aqui, na costa havaiana, chamam atenção. Mas poucos sabem que trilhões de minúsculas partículas com menos de 5 milímetros de diâmetro também flutuam nos mares. Essas partículas acabam na cadeia alimentar. O plâncton marinho, que é uma fonte importante de alimento para peixes e outros animais marinhos, já foi filmado comendo-as.
Foto: picture-alliance/AP Photo/NOAA Pacific Islands Fisheries Science Center
Fim à vista?
Medidas para tentar reduzir o plástico descartável já foram tomadas em alguns países africanos, como proibições de sacolas plásticas, e a União Europeia planeja proibir produtos plásticos descartáveis. Mas se as tendências atuais forem mantidas, cientistas acreditam que haverá 12 bilhões de toneladas de plástico no planeta até 2050.