Plano de evacuação entre grupos rivais é iniciado na Síria
28 de dezembro de 2015
Transferência de civis e combatentes entre rebeldes sírios e milícias pró-governo segue acordo mediado pela ONU que prevê um cessar-fogo humanitário nas principais zonas de combate no país árabe.
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A evacuação de três cidades sírias e a realocação de mais de 450 combatentes e civis foi iniciada nesta segunda-feira (28/12), seguindo um raro acordo mediado pela ONU, com a participação da Turquia e do Irã. O pacto entre forças rebeldes e pró-governo visa a implementar um cessar-fogo nas duas principais zonas de combate no país árabe.
O acordo prevê a transferência de milhares de milicianos e civis, xiitas e sunitas, sob a supervisão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Um comboio libanês cruzou a fronteira da Síria para dar início à evacuação de um grande número de civis e combatentes de grupos de oposição ao regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, em diversos vilarejos fronteiriços. Mais de 30 ambulâncias da Cruz Vermelha tomam parte na iniciativa, que visa, primeiramente, a remoção dos feridos.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que monitora a situação no país, afirma que 129 civis e combatentes que estavam entrincheirados há meses no vilarejo de maioria sunita Zabadani, próximo à fronteira libanesa, serão encaminhados a Beirute e depois à Turquia, para, posteriormente, retornar às regiões sírias controladas pelos grupos de oposição.
Em troca, 338 civis poderão deixar as localidades de Foua e Kfarya, majoritariamente xiitas, atualmente sob controle de milícias pró-Assad. Eles serão transferidos para a Turquia e de lá, para Beirute ou outras regiões libanesas, ou ainda para Damasco e outras localidades na Síria.
Ao mesmo tempo em que as evacuações progrediam, ao menos 14 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em dois ataques à bomba na cidade de Homs, segundo informações da imprensa síria.
"A contagem preliminar nas explosões simultâneas que atingiram o distrito de Al-Zahraa é de 14 mortos e 132 feridos", informou a emissora estatal de televisão. O local é majoritariamente composto por membros da minoria alauita, à qual pertence o presidente Assad.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos diz que o número de mortos em Homs seria de 32, com 90 feridos. A região tem sido alvo de ataques frequentes nas últimas semanas.
RC/rtr/ap/afp/dpa
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.