EUA querem aumentar cerco a imigrantes ilegais e, entre as novas diretrizes, está deportar para o México também não mexicanos. Governo Peña Nieto classifica medida como "hostil" e "inaceitável".
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Antes do encontro com o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, nesta quinta-feira (23/02), líderes mexicanos manifestaram repúdio às políticas de comércio e imigração do presidente do Estados Unidos, Donald Trump.
Em particular, foi criticado o plano do republicano de deportar para o México imigrantes ilegais que entrem no território americano pela fronteira sul – independentemente da nacionalidade. A proposta foi qualificada de "hostil" e "inaceitável".
"Quero dizer clara e enfaticamente que o governo do México e o povo mexicano não têm de aceitar disposições unilaterais de um governo sobre outro", disse a repórteres o Ministro das Relações Exteriores mexicano, Louis Videgaray. "Não temos a obrigação e não é do interesse do México", continuou, sugerindo que o país poderá questionar as medidas na ONU.
Tillerson chegou à Cidade do México nesta quarta-feira e uniu-se ao secretário de Segurança Interna americano, John Kelly, para conversações que, segundo a Casa Branca, vão conduzir a implementação das novas regras de imigração de Trump. Ambos deverão se encontrar nesta quinta com o presidente do México, Enrique Pena Nieto, e com diplomatas e líderes mexicanos do setor de defesa e finanças.
Para Roberto Campa, que dirige o departamento de direitos humanos do Ministério do Interior, o plano para deportar não mexicanos para o México é "hostil" e "inaceitável". Senadores do principal partido da oposição de esquerda, o Partido da Revolução Democrática, também criticaram a medida e disseram que Tillerson e Kelly não são bem-vindos no México. Eles instaram Pena Nieto a não recebê-los.
Relações tensas
As relações entre os dois países passam por uma baixa histórica após Trump anunciar a intenção de construir um muro ao longo da fronteira sul dos EUA para impedir a entrada de imigrantes ilegais, que ele associou, durante a campanha presidencial, a estupradores e criminosos.
Em janeiro, o presidente Pena Nieto chegou a cancelar uma reunião com Trump em Washington devido à pretensão declarada do presidente americano de passar a conta da construção do muro para o México.
O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, no entanto, vê as relações bilaterais de forma diferente. Para ele, os laços entre EUA e México são "saudáveis" e "robustos", além de se dizer otimista em relação às negociações.
"Eu acho que a relação com o México é fenomenal neste momento", disse Spicer a jornalistas. "São reuniões importantes referentes à agenda do presidente para melhorar a qualidade de vida tanto do povo mexicano quanto americano através do combate ao tráfico de drogas e na busca de formas de fortalecer nossas economias por meio de uma relação mais ampla que promova o comércio e a imigração legal", afirmou.
Na pauta das discussões desta quinta-feira estão infraestrutura fronteiriça, estratégias de transporte, migração da América Central, narcóticos, tráfico de armas, terrorismo e o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio.
IP/rtr/ap
Fronteira entre EUA e México: sai metal, entra concreto
Uma das promessas mais polêmicas da campanha de Donald Trump foi construir um muro na fronteira sul dos EUA. Ali, já há uma cerca em alguns pontos, que pode ser substituída por concreto.
Foto: Reuters/J. L. Gonzalez
Trump é familiarizado com construções
"Vou construir um grande muro na nossa fronteira sul – e ninguém constrói muros melhor do que eu, e vou fazer com que o México pague por esse muro." Isso é o que o presidente americano, Donald Trump, disse na campanha eleitoral. Até agora, ele construiu sobretudo arranha-céus e hotéis. O muro está no topo de um plano de 10 pontos sobre política de imigração.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Torres
Final no nada
A fronteira entre EUA e México tem cerca de 3.200 quilômetros – dos quais, cerca de 1.100 quilômetros são protegidos por uma cerca. A fronteira passa por quatro estados americanos e seis mexicanos, por desertos e cidades grandes. Devido à dificuldade de acesso, uma pequena parte da fronteira no Novo México é aberta. Outras áreas são patrulhadas por policiais.
Foto: Reuters/M. Blake
Colosso de metal
O número de imigrantes ilegais que entram no país por ano é estimado em 350 mil, uma grande parte vem do México. Alguns mexicanos irregulares são tolerados no país, mas a família mexicana do outro lado não recebe um visto. Os imigrantes desejam uma vida melhor, emprego e mais dinheiro para as suas famílias.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Zepeda
Apenas um pequeno toque
As famílias permanecem separadas pela cerca. Um abraço é impossível. No máximo, as pessoas conseguem esticar as mãos entre as vigas de aço. Se Donald Trump tornar realidade sua promessa eleitoral, como anunciou, logo o concreto vai substituir o aço, impossibilitando qualquer toque.
Foto: picture-alliance/ZumaPress/J. West
Preconceitos
"Quando o México nos manda seus cidadãos, não manda os melhores", disse Trump durante a campanha eleitoral. "Eles enviam pessoas que têm muitos problemas. Eles trazem drogas, crime, estupradores. Alguns, suponho, são boas pessoas." Trump quer deportar imigrantes ilegais, pelo menos, os criminosos. Apesar das ameaças, muitos mexicanos continuam querendo emigrar.
Foto: picture-alliance/AP Photo/G. Bull
Mortes na fuga
Para alguns mexicanos, o sonho termina na fronteira. Eles acabam na prisão. Outros pagam por cruzar ilegalmente a fronteira com a própria vida. Há notícias de que as forças de segurança atiram em migrantes. Seis cidadãos mexicanos inocentes já foram mortos, sem que tenha havido condenação dos responsáveis. Apenas em 2015 um membro da patrulha da fronteira dos EUA foi indiciado.
Foto: Reuters/D.A. Garcia
Armado contra intrusos
Jim Chilton, um fazendeiro americano, vigia sua propriedade. Sua fazenda, de 200 mil metros quadrados, está localizada no sudeste do Arizona e é adjacente ao México. Há apenas uma cerca de arame farpado separando-a do país vizinho. Chilton costuma usar sua arma para defender o terreno.
Foto: Getty Images/AFP/F.J. Brown
Final curioso
"Tortilla Wall". Este é o nome popular e bastante depreciativo de uma parte da fronteira de 22,5 quilômetros de comprimento entre a Otay Mesa Border Crossing, em San Diego (Califórnia), e o Oceano Pacífico.