Plano de Trump retira cobertura médica de até 24 milhões
14 de março de 2017
Análise de órgão do Congresso afirma que proposta para eliminar Obamacare deixará milhões de americanos de baixa renda sem cobertura médica. Presidente diz que custos de planos de saúde privados vão cair.
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A nova proposta de plano de saúde impulsionada pelos republicanos na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos deixaria 24 milhões de americanos sem cobertura médica até 2026, afirma um relatório do Escritório de Orçamentos do Congresso (CBO) divulgado nesta segunda-feira (13/03).
A estimativa é de que até 2018 mais 14 milhões de pessoas ficariam sem assistência caso o "Obamacare", reforma da saúde impulsionada pelo ex-presidente Barack Obama para oferecer tratamento médico gratuito ou subsídios para americanos de baixa renda, deixe de existir.
A proposta dos republicanos reduzirá o déficit orçamentário em 337 bilhões de dólares ao longo de dez anos, segundo o CBO. A extinção e substituição do "Obamacare" é uma das promessas de campanha do presidente Donald Trump.
De acordo com o relatório, a maior economia viria da redução do que é desembolsado para o Medicaid, o programa de saúde social do governo americano, e da eliminação dos subsídios da Lei do Cuidado de Saúde Acessível. Com o Obamacare, 28 milhões de pessoas estariam sem cobertura em 2026. Com a aprovação da lei dos republicanos, o número saltaria para 52 milhões.
"As reduções na cobertura de seguro entre 2018 e 2026 proviriam em grande parte das mudanças na adesão ao Medicaid, porque alguns estados freariam sua expansão e alguns governos escolheriam não fazê-lo", diz o documento.
Trump reage
Trump garantiu que o novo programa de saúde proposto pelos republicanos vai permitir que os americanos escolham os médicos e os planos de cobertura que preferirem e que os custos vão começar a cair em até dois anos. "A imprensa está fazendo com que o 'Obamacare' pareça algo bom", afirmou.
"[Os americanos] poderão fazer muitas coisas que se supunha que o outro plano ofereceria, mas nunca lhes deu. Lembrem-se, as pessoas não podiam escolher seu médico, não podiam escolher seu plano", afirmou.
Trump afirmou que a nova lei vai gerar competição entre as seguradoras, o que fará com que os preços caiam. "Uma maior concorrência com menor regulamentação acabará reduzindo o custo dos cuidados médicos, e acredito que eles cairão significativamente, mas, infelizmente, é algo que leva tempo, porque você tem que deixar o mercado fazer seu trabalho", disse Trump.
Casa Branca critica relatório
O secretário de Saúde dos Estados Unidos, Tom Price, considerou impossível que 14 milhões de americanos percam o seguro médico com o novo plano republicano. Em tom de crítica, ele disse que o CBO analisou parcialmente a proposta e não levou em conta o impacto positivo que o aumento das opções de seguros terá no mercado, como a diminuição dos preços praticados.
Price insistiu que o plano republicano pretende melhorar o atendimento médico, enquanto o CBO fala em cobertura médica. Por isso, o órgão não avalia completamente o impacto da proposta, argumentou.
Já o líder democrata do Senado, Chuck Schumer, declarou que "a estimativa do CBO deixa claro que o Trumpcare causará graves danos a milhões de famílias americanas". Segundo ele, "milhões perderão sua cobertura, e outros tantos, em particular idosos, terão que pagar mais pelo atendimento médico".
KG/efe/dpa
Nove livros para a era Trump
O novo presidente americano não lê muito. Mas, desde que ele chegou ao poder, livros sobre regimes totalitários voltam à lista de best-sellers. Conheça algumas obras que podem ajudar a entender seu estilo de governar.
Foto: Getty Images/S. Platt
"1984"
Em "1984", George Orwell mostra ao leitor o que é viver num Estado totalitário, onde a vigilância é onipresente, e a opinião pública é manipulada pela propaganda. Desde a eleição de Donald Trump, o romance distópico voltou à lista dos mais vendidos. Mas outros clássicos, que descrevem cenários semelhantes, também se encontram cada vez mais sobre as mesas de cabeceira.
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"As origens do totalitarismo"
O ensaio de Hannah Arendt "As origens do totalitarismo" chamou bastante atenção após a sua publicação em 1951. Arendt, que havia fugido da Alemanha nazista, foi uma das primeiras teóricas a analisar a ascensão de regimes totalitários. Há poucas semanas, o livro apareceu por um curto período como esgotado no site de compras Amazon.
Foto: Leo Baeck Institute
"Admirável mundo novo"
O romance distópico de Aldous Huxley "Admirável mundo novo" ainda é leitura obrigatória para escolares e universitários. O livro do escritor britânico, publicado em 1932, descreve a "Gleichschaltung" (uniformização) de uma sociedade por meio da manipulação e condicionamento.
Foto: Chatto & Windus
"O conto da aia"
A distopia feminista de Margaret Atwood também voltou à lista dos best-sellers. O romance publicado em 1985 se passa nos Estados Unidos do futuro, onde as mulheres são reprimidas e privadas de seus direitos por uma teocracia totalitária no poder. Por medo de cenários semelhantes, muitas mulheres se posicionam hoje contra Trump, que continua a provocar discussões com comentários sexistas.
Foto: picture-alliance / Mary Evans Picture Library
"O homem do castelo alto"
Em 1962, Philip K. Dick descreveu em seu romance "O homem do castelo alto" como seria a vida nos Estados Unidos sob a ditadura de vitoriosos nazistas e japoneses após a Segunda Guerra. Em 2015 foi transmitida uma série de TV baseada vagamente no livro do escritor americano. Os cartazes de propaganda do seriado no metrô de Nova York (foto) foram motivo de controvérsia devido à sua simbologia.
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"The United States of Fear"
O livro não ficcional de Tom Engelhardt ainda não publicado no Brasil "The United States of Fear" ("Os Estados Unidos do medo", em tradução livre) foi lançado em 2011. A obra analisa como o fator "medo" favorece investimentos maciços do governo americano nas Forças Armadas, em guerras e na segurança nacional – levando o país, segundo a tese do autor, à beira do abismo.
Foto: Haymarket Books
"Things That Can and Cannot Be Said"
"Things that can and cannot be said" ("As coisas que podem e não podem ser ditas", em tradução livre) é uma coletânea de ensaios e conversas, na qual a autora Arundhati Roy e o ator e roteirista John Cusack refletem sobre o seu encontro com o whistleblower Edward Snowden, em 2014, em Moscou. O livro aborda principalmente a vigilância em massa e o poder estatal.
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"O poder dos sem-poder"
Em seu texto "O poder dos sem-poder" (1978), o escritor e posterior presidente tcheco Vaclav Havel analisa os possíveis métodos de resistência contra regimes totalitários. Ele próprio passou diversos anos na prisão como crítico do governo comunista. Seu ensaio se tornou um manifesto para muitos opositores no bloco soviético.
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"Mente cativa"
Em 1970, o autor polonês e posterior Nobel de Literatura Czeslaw Milosz se tornou cidadão americano. Sua não ficção "Mente cativa" (1953) fala sobre suas vivências como escritor crítico do governo no bloco soviético. Trata-se de um ajuste de contas intelectual com o stalinismo, mas também com a – em sua opinião – enfraquecida sociedade de consumo ocidental.