Plano para retirada de jihadistas de Damasco é suspenso
26 de dezembro de 2015
Cerca de 4 mil pessoas deveriam deixar o sul da capital síria, a metade delas combatentes do "Estado Islâmico" e da Frente Al Nusra, mas morte de líder rebelde cria temores de segurança e faz plano ser adiado.
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Um acordo inédito para a retirada de milhares de civis e de combatentes do grupo "Estado Islâmico" (EI) e da Frente Al Nusra de três distritos do sul de Damasco foi suspenso neste sábado (26/12), depois da morte de um líder rebelde na Síria.
Zahran Alloush, líder do Jaish al-Islam (Exército Islâmico), foi morto nesta sexta-feira num ataque aéreo de autoria ainda não confirmada, mas reivindicada pelo regime sírio. O grupo anunciou neste sábado a nomeação de Abu Hamam Essam Albuidani como novo comandante-geral.
A morte de Alloush, líder de uma das organizações rebeldes mais poderosas da Síria, teve também como consequência o fim de um acordo que previa a retirada de mais de 4 mil pessoas, metade delas jihadistas do "Estado Islâmico" e da Frente Al Nusra (ala síria da Al Qaeda), do campo de refugiados palestino de Yarmouk e dos bairros vizinhos de Qadam e Hajar al-Aswad.
"A retirada dos combatentes do Daesh [sigla em árabe do EI] e de outros grupos do bairro de Hajar al-Aswad foi suspensa devido à morte de Zahrane Alush", afirmou um militar sírio, salientando que, para este sábado, estava prevista a saída de mais de 1.200 pessoas, entre combatentes e civis.
O comboio com os combatentes do EI e da Frente Al Nusra passaria pela região controlada pelo Jaish al-Islam, que havia se comprometido a garantir uma passagem segura. Pelo acordo, os veículos deveriam levar os membros do EI para Raqqa, a capital de facto do grupo, e os da Frente Al Nusra para Marea. As duas cidades ficam no norte da Síria.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma ONG baseada em Londres, confirmou a suspensão do acordo, ressaltando, porém, que ele não foi anulado.
Apoiado pela Arábia Saudita, o Jaish al-Islam é o grupo oposicionista dominante em Ghouta Oriental, um bastião rebelde ao leste de Damasco e alvo frequente da aviação síria e russa.
AS/lusa/afp/rtr
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.