1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Planos de Trump para a Ucrânia: o que se sabe até agora

Thomas Latschan
13 de fevereiro de 2025

Estratégia do presidente dos EUA para paz na Ucrânia assume contornos cada vez mais definidos, com a Otan e a Europa exercendo papel de coadjuvantes.

Homem caminha próximo a prédio destruído por uma bomba russa em Kiev (foto de 12 de fevereiro de 2025)
Especulações sobre plano de paz de Trump para a Ucrânia sugerem que país seria forçado a abrir mão de parte de seu território tomado pela RússiaFoto: Thomas Peter/REUTERS

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, conversaram ao telefone por uma hora e meia nesta quarta-feira (12/02). Mais tarde, o chefe do Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia (SVR), Sergei Narishkin, descreveu o diálogo como "profundo e significativo".

Pouco antes, o secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, havia informado os parceiros da Otan sobre os pilares da nova política dos EUA para a Ucrânia.  Ele classificou como "irrealista" a adesão do país à aliança militar e sugeriu que Kiev deveria desistir de recuperar todo o território que perdeu para a ocupação russa, preparando-se em vez disso para um acordo de paz apoiado por tropas internacionais.

No dia seguinte, Hegseth afirmou que seus comentários não eram concessões à Rússia, e sim apenas o "reconhecimento da realidade".

Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth (esq.), conversa com secretário-geral da Otan, Mark RutteFoto: Omar Havana/AP/dpa/picture alliance

Na semana passada, o portal de notícias ucraniano Strana.today publicou detalhes de um suposto "plano de 100 dias" dos EUA para a paz no conflito. Esse plano, porém, ainda não foi oficialmente confirmado.

Cessão de território para a Rússia

Se as informações vazadas pelo Strana forem verdadeiras, deverá haver um cessar-fogo na Ucrânia até 20 de abril, o que deve congelar a linha de frente no leste do país. O suposto "plano de 100 dias" também prevê a retirada completa das tropas ucranianas da região russa de Kursk. O presidente ucraniano Volodimir Zelenski seria forçado a aceitar a soberania russa sobre a parcela de território ucraniano ocupada pelas tropas de Putin.

O próprio Zelenski rejeita esse cenário. O que o torna plausível, contudo, são as declarações recentes do novo secretário de Defesa dos EUA de que o retorno às fronteiras da Ucrânia anteriores a 2014, ou seja, antes da anexação da Península da Crimeia pela Rússia, seria algo "irrealista" que "apenas prolongaria a guerra" e "causaria mais sofrimento". É um sinal de que os EUA podem insistir que a Ucrânia reconheça formalmente os territórios perdidos para a Rússia.

"Zona neutra" no leste ucraniano

De acordo com Hegseth, uma paz duradoura deve incluir "garantias de segurança robustas para assegurar que a guerra não comece novamente". Segundo disse, forças militares "europeias e não europeias"  seriam capazes de assumir essa responsabilidade. De acordo com o Strana, tão logo o cessar-fogo seja estabelecido, essas forças seriam responsáveis por monitorar uma zona desmilitarizada a ser criada ao longo da linha de frente congelada.

Tropas americanas em solo ucraniano não são uma opção para o governo Trump, que também não enxerga na Otan um parceiro adequado para uma missão de paz. Em vez disso, Hegseth defendeu a mobilização de tropas "fora da aliança", sem detalhar como isso deve acontecer.

O secretário de Defesa dos EUA também defendeu que as "robustas garantias de segurança" não incluem explicitamente a adesão de Kiev à Otan. Hegseth considera que isso "não é um resultado realista de uma solução negociada". Na prática, isso provavelmente significaria que a Ucrânia teria que ser neutra.

Putin "aberto a negociações"

Após o telefonema entre Trump e Putin na noite desta quarta-feira, no qual essas linhas gerais provavelmente foram discutidas, Putin pareceu pronto para falar sobre negociações de paz.

Zelenski, com quem Trump conversou por telefone logo depois, também disse estar cautelosamente otimista, e que o presidente dos EUA tinha um "interesse genuíno em como podemos nos aproximar da paz". Mas ele também pediu garantias de segurança permanentes para seu país.

De acordo com informações vazadas pelo Strana, as primeiras conversas diretas entre Putin e Zelenski devem ocorrer por volta de 1º de março. Além disso, Donald Trump também quer organizar uma conferência internacional de paz em um futuro próximo sob a "mediação de nações proeminentes" para trabalhar os detalhes de uma solução de paz duradoura. Segundo o Strana, um plano de paz detalhado deverá estar pronto até 9 de maio. O próprio Trump também anunciou que gostaria de se encontrar com Putin na Arábia Saudita "em um futuro não muito distante".

Europeus pegos de surpresa...

Os aliados dos EUA na Otan foram pegos completamente de surpresa pelas ações de Trump. Na verdade, eles esperavam conhecer detalhes do plano de paz do presidente dos EUA na Conferência de Segurança de Munique, que começa nesta sexta-feira, e discuti-lo juntos depois. Trump, aparentemente, não coordenou seu telefonema com Putin junto a seus aliados europeus.

Tanto Kiev quanto a União Europeia (UE) temem ser marginalizados nas futuras negociações sobre uma paz duradoura no país europeu.

Segundo o plano vazado pelo Strana, a UE será solicitada a cobrir grande parte dos custos de reconstrução, estimados em 500 bilhões de dólares (R$ 3 trilhões). No entanto, não está claro quanta voz o governo Trump deverá dar aos seus aliados.

A Europa não deve "sentar-se à mesa das crianças" nas negociações, alertou o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius. A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, advertiu contra a criação de fatos que "passem por cima da cabeça da Ucrânia".

...e especialistas decepcionados

Muitos especialistas em segurança ocidentais e ucranianos também criticam os planos dos EUA, pois eles significariam o abandono de muitas das posições ocidentais anteriores em benefício da Rússia. O especialista militar Carlo Masala, por exemplo, declarou ao tabloide alemão Bild que "Putin terá, portanto, vencido esta guerra. Ele conseguiu que os americanos se retirassem do conflito."

O ex-diplomata russo Boris Bondarev, que atualmente vive no exílio e atua como um crítico de Putin, foi ainda mais contundente em um comentário para o canal de notícias alemão NTV. Segundo afirmou, Trump quer "acabar com a guerra rapidamente, dando a Putin o que ele quer". "Ele e seus camaradas mais próximos simplesmente não sabem nada sobre Putin e sua frieza de caráter."

Dentro dessa perspectiva, a data de 9 de maio vazada pelo Strana como sendo a do anúncio do plano de paz final para a Ucrânia também deve ser vista de maneira crítica. Nessa data, a Rússia, comemora o "Dia da Vitória" sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

Pular a seção Mais sobre este assunto

Mais sobre este assunto

Mostrar mais conteúdo
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque