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Plantas geneticamente modificadas, problema ou solução?

Kamila Rutkosky 13 de novembro de 2012

O uso de transgênicos ainda causa divergências, no entanto, cada vez mais produtos utilizam organismos geneticamente modificados. O "Futurando" conversou com especialistas sobre o tema.

Foto: DW

Organismos geneticamente modificados (OGMs) foram tema de uma das matérias da nona edição do Futurando. No programa, mostramos que plantas do Himalaia têm a capacidade de sobreviver em condições extremas, como frio e seca. Cientistas tentam agora reproduzir esta característica em outras plantas. No Brasil, existem pesquisas semelhantes, mas transgênicos e biossegurança ainda são temas polêmicos no país.

A modificação genética permite que plantas adquiram outras características a partir de cruzamentos com outras espécies. O resultado são exemplares mais fortes, resistentes a secas e a insetos, por exemplo. A preocupação gira em torno dos aspectos relacionados à segurança alimentar e ambiental.

No Brasil, é permitido plantar milho, soja, algodão e feijão transgênicos. Todas essas plantas passaram pela avaliação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Esta comissão presta apoio técnico na atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança e no estabelecimento de normas de segurança para a proteção humana e as atividades que envolvam produtos transgênicos e derivados.

Um dos requisitos estudados é o risco de cruzar com espécies nativas. Por enquanto, apenas estes OMGs foram liberadas para o uso comercial. Mas já existe a perspectiva de que outras plantas, como cana-de-açúcar, sejam liberadas.

Para informar o consumidor se ele está consumindo um alimento geneticamente modificado, os rótulos possuem um selo de identificação. O símbolo, um T preto sobre um triângulo amarelo, precisa estar nos rótulos de produtos que contenham mais de 1% de matéria-prima transgênica. Até alimentos como mingau para bebês já são produzidos com organismos geneticamente modificados.

Para Cassio Franco Moreira, coordenador do Programa Agricultura e Meio Ambiente do WWF-Brasil, é preciso ter prudência com este tema. "As pesquisas sobre o assunto ainda não são conclusivas e a ciência ainda não mostra exatamente quais os problemas trazidos pelo consumo dos transgênicos. A nossa posição é cautelosa, precisamos aguardar posicionamentos mais claros da ciência no que se refere aos riscos no uso destes produtos", diz Moreira.

As discussões

Recentemente, a revista Food and Chemical Toxicology publicou um estudo que mostra que ratos alimentados por milho transgênico morrem mais cedo e sofrem de câncer com mais frequência do que os demais. O estudo utilizou 200 ratos e acompanhou o desenvolvimento deles por dois anos. No entanto, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA, na sigla em inglês) desqualificou o estudo, afirmando que a metodologia foi falha.

"O grande problema é que para o consumidor final destes alimentos as pesquisas ainda são inconclusivas. E por isso mesmo deveríamos ter cautela por não ter certeza dos problemas trazidos à saúde e ao meio ambiente", esclarece.

De acordo com Moreira, no caso do milho modificado, resistente à lagarta-do-cartucho (Spodoptora frugiperda), foi verificado que, do primeiro ao terceiro ano de cultivo, o uso de agrotóxicos é reduzido, o que pode ser benéfico. No entanto, algumas pesquisas mostraram que com o tempo há um ganho de resistência e depois dos três anos os produtores precisam usar os transgênicos junto com o inseticida, já que a praga se adapta às novas condições. "Nossa preocupação é usar a semente modificada com a mesma quantidade de inseticida usado normalmente. Aí perde-se a vantagem do uso do transgênico", explica.

O uso do milho geneticamente modificado é rotina em vários paísesFoto: picture-alliance/dpa

As conquistas

Marie-Anne van Sluys, professora titular do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, tem uma visão completamente diferente sobre o tema. Para a pesquisadora, é preciso principalmente uma certificação do uso. "É preciso uma análise sobre a qualidade, a equivalência e a liberação no meio ambiente que seja adequada, mas isso é igual para qualquer alimento. Não há uma diferença associada ao fato da transgenia, até porque muitas plantas domesticadas também são resultado de cruzamentos que não aconteceriam normalmente e são gerados organismos que só existem porque nós acompanhamos", diz.

"Atualmente, quando produzimos uma planta por melhoramento clássico, ela é resistente até que o patógeno se adapte e desenvolva outra estratégia de atacar a planta e aí o agricultor irá tentar produzir uma nova linhagem que seja mais resistente. Esse é um processo que existe em todo e qualquer ser biológico", explica a professora.

A pesquisadora liderou um dos grupos de pesquisa que fez o sequenciamento dos genes da bactéria Xylella, causadora da doença Clorose Variegada (popularmente conhecida como amarelinho) que ataca plantações de laranja. Os frutos contaminados pela bactéria endurecem e não podem ser usados para a indústria de sucos. Com o mapeamento, foi possível buscar soluções para prevenir e combater a Xylella.

Outro produto destacado pela pesquisadora é o feijão. "A produção de feijão no Brasil, que é resistente à mosca branca, foi uma conquista importante. Essa é uma doença local que tem um impacto sobre um produto, que é a base da alimentação brasileira." Segundo ela, garantir a produção do feijão que vai chegar à mesa do consumidor com um valor senão igual, mas talvez até um pouco mais barato devido à menor demanda de insumos para a produção, "pode ser considerado uma conquista fantástica".

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