Apesar de redução da pena, recurso contra banimento temporário do futebol falha na Corte Abitral do Esporte. Suspensão é resultado de um pagamento obscuro de 2 milhões de francos suíços da Fifa ao ex-jogador francês.
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Michel Platini anunciou que irá renunciar ao cargo de presidente da Uefa nesta segunda-feira (09/05), depois de sua apelação contra o banimento de atividades ligadas ao futebol ter falhado na Corte Arbitral do Esporte (CAS), embora este tenha reduzido a pena para quatro anos.
Os advogados do ex-jogador francês declararam que a renúncia será formalmente apresentada nos próximos dias. "Michel Platini anuncia que renunciará ao cargo de presidente da Uefa no próximo congresso da organização", diz o texto, acrescentando que Platini ficou "profundamente decepcionado" com a decisão judicial.
O painel da CAS rejeitou o recurso alegando "não estar convencido da legitimidade" do pagamento de 2 milhões de francos suíços (cerca de 7,2 milhões de reais), "que foi reconhecido por Platini e [pelo ex-presidente da Fifa Joseph] Blatter, e que foi efetuado mais de oito anos após o término de suas relações de trabalho".
Os dois já haviam sido suspensos por 90 dias em outubro do ano passado no âmbito de uma investigação sobre tal pagamento a Platini pela Fifa, que teria sido ordenado por Blatter em 2011. O dinheiro seria referente a serviços de consultoria prestados por Platini a Blatter durante 1999 e 2002.
O pagamento "não foi baseado em nenhum documento estabelecido no momento das relações contratuais e não se correlacionou com a alegada parte não paga de seu salário", prosseguiu a declaração da corte.
O painel, no entanto, determinou que a suspensão de seis anos proferida a Platini era "muito severa" e, portanto, decidiu reduzi-la para quatro anos, o que "corresponde à duração de um mandato presidencial". Além disso, a multa de 80 mil francos suíços foi reduzida para 60 mil francos suíços (215 mil reais).
Em 21 de dezembro passado, o ídolo francês havia sido suspenso por oito anos pelo Comitê de Ética da Fifa, pena que foi reduzida para seis anos em fevereiro, após um primeiro recurso.
O Comitê Executivo da Uefa está previsto para se encontrar numa reunião extraordinária em 10 de maio, quando deve ser nomeado um novo presidente da entidade.
PV/afp/rtr/ots
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.