Ex-presidente da Uefa menciona "pequeno truque" para evitar um duelo entre Brasil e França antes da grande final. Dois dias antes do sorteio do Mundial, a Fifa fixou seleções em grupos pré-determinados.
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Atualmente suspenso do futebol por má conduta financeira, o ex-presidente da Uefa Michel Platini revelou nesta sexta-feira (18/05) que o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 1998 executou "um pequeno truque" para evitar que a anfitriã França e o Brasil se enfrentassem antes da final.
"Quando organizamos a tabela, fizemos um pequeno truque", disse o ex-jogador francês, em entrevista à rádio France Bleu Sport. "Uma final entre França e Brasil era o sonho de todo o mundo", completou o cartola, na época copresidente do comitê organizador francês do Mundial.
"Jogávamos em casa e era preciso aproveitar isso. Não passamos seis anos organizando a Copa do Mundo para não cometer pequenas travessuras, não é? Você acha mesmo que os outros não fizeram coisas parecidas em outras Copas?", confessou Platini, rindo.
Em princípio, as duas seleções deveriam cair em grupos aleatórios, mas o comitê organizador fez com que França e Brasil – anfitriã e atual campeão, ambos cabeças de chave – tivessem seus grupos pré-determinados e, consequentemente, uma trajetória na qual só se encontrariam na final, caso terminassem como líderes de seus grupos.
Dois dias antes do sorteio dos grupos da Copa do Mundo, a Fifa anunciou que o Brasil seria cabeça de chave do Grupo A, e a França, do Grupo C. Ou seja, caso as duas seleções vencessem seus grupos, elas cairiam em lados opostos no chaveamento da fase mata-mata – como de fato ocorreu. Os outros cabeça de chave – Alemanha, Itália, Espanha, Argentina, Romênia e Holanda – foram colocados em seus respectivos grupos através de sorteio.
Brasil e França cumpriram com o roteiro traçado pelos organizadores e venceram seus grupos. A seleção brasileira somou seis pontos com vitórias contra Escócia (2x1) e Marrocos (3x0) e a derrota contra a Noruega (2x1), enquanto os franceses atropelaram com 100% de aproveitamento: 3 a 0 na África do Sul, 4 a 0 na Arábia Saudita (treinada por Carlos Alberto Parreira) e 2 a 1 na Dinamarca.
O encontro decisivo ocorreu em 12 de julho, no Estádio de Saint-Denis, onde a França conquistou o título mundial ao vencer o Brasil por 3 a 0, com dois gols de Zinédine Zidane e um de Emmanuel Petit.
A final foi rodeada de polêmica – antes da partida, Ronaldo sofreu uma convulsão, foi parar no hospital e chegou a ser cortado do jogo. No entanto, acabou entrando em campo, e uma seleção apática não foi páreo para a Équipe Tricolore.
Em 2015, Platini e o ex-presidente da Fifa Joseph Blatter foram considerados culpados por violações do código de ética da entidade em relação a pagamentos de 2 milhões de francos suíços. Platini recebeu uma suspensão de oito anos de todas as atividades relacionadas ao futebol – pena posteriormente reduzida para quatro anos.
Em janeiro, Platini levou o caso à Corte Europeia de Direitos Humanos. O ex-jogador de 62 anos afirma ser inocente das acusações de má conduta financeira e recebimento de propina.
PV/efe/afp/ots
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O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.