Pobreza atinge metade das crianças e adolescentes no Brasil
16 de janeiro de 2025
Estudo da Unicef mostra melhora em indicadores de renda e acesso a direitos básicos desde 2017. Mas pobreza multidimensional ainda atinge quase 29 milhões de menores de 17 anos – e afeta mais negros que brancos.
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Mais da metade das crianças e adolescentes brasileiras vivem em situação de pobreza multidimensional, segundo o estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nesta quinta-feira (16/01).
De acordo com o Unicef, 28,8 milhões de crianças e adolescentes até 17 anos viviam nesta situação em 2023, o equivalente a 55,9% do total. O número, porém, é menor do que o observado em anos anteriores. Em 2017, a pobreza atingia 34,3 milhões de crianças e adolescentes, mais de 6 em cada 10.
A pobreza multidimensional extrema também caiu, de 13 milhões (23,8%) de pessoas, em 2017, para 9,8 milhões (18,8%), em 2023.
A análise considera não apenas a renda das famílias, mas também o nível de educação, acesso à informação, água, saneamento, moradia, proteção contra o trabalho infantil e segurança alimentar.
"A pobreza infantil é multidimensional porque vai além da renda. Ela é resultado da relação entre privações, exclusões e vulnerabilidades que comprometem o bem-estar de meninas e meninos", diz Liliana Chopitea, chefe de Políticas Sociais do Unicef no Brasil, em nota publicada no site da instituição.
"Os resultados deste estudo mostram que o Brasil conseguiu avançar nas diversas dimensões avaliadas, reduzindo a pobreza multidimensional e impactando positivamente meninas e meninos em todo o país", conclui.
Aumento da renda impulsiona indicadores
Segundo o estudo, que se baseia na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a redução dos indicadores de pobreza foi impulsionada principalmente pela ampliação de programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial, instituído em resposta à crise provocada pela pandemia e, a partir de 2022.
Segundo a pesquisa, cerca de 17,9 milhões de famílias eram beneficiárias dos programas no primeiro trimestre de 2022. Esse número aumentou para aproximadamente 21,6 milhões de famílias no primeiro trimestre de 2023.
Em termos absolutos, o estudo mostra que, em 2019, 750 mil crianças e adolescentes saíram da pobreza devido aos programas de transferência de renda. Em 2022, esse número saltou para 2,9 milhões, até crescer mais uma vez para 4 milhões, em 2023.
Com isso, a dimensão renda foi uma das que apresentaram a redução mais significativa de famílias em situação de vulnerabilidade no período analisado. Em 2017, por exemplo, uma a cada quatro crianças e adolescentes de até 17 anos vivia abaixo da linha da pobreza monetária (25,4%), cuja renda familiar era inferior a R$ 355 mensais por pessoa. Em 2023, esse percentual caiu para 19,14%, o que equivale a aproximadamente uma em cada cinco crianças e adolescentes.
Outras categorias
O percentual de crianças sem acesso à informação também teve uma mudança drástica no período analisado, caindo de 17,5% para 3,5% no período analisado.
Na dimensão água, o recuo foi de 6,8% para 5,4%. No caso do saneamento o percentual caiu de 42,3% para 38%.
Já em relação a moradia, os valores oscilaram de 13,2% para 11,2% crianças sem condições adequadas de habitação em seis anos.
A insegurança alimentar também teve redução de 50,5% em 2018 para 36,9%, em 2023.
Com relação ao percentual de crianças e adolescentes em trabalho infantil, houve estabilidade, de 3,5% para 3,4%, o que ainda significa que 1,7 milhão de meninos e meninas estão nesta situação.
A organização destaca o impacto negativo da pandemia da covid-19 nesse período. Em 2023, cerca de 30% das crianças entre sete e oito anos de idade não estavam alfabetizadas, em comparação a 14% em 2019, por exemplo.
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Desigualdades
Apesar das reduções, o país apresenta ainda diversas desigualdades. A pobreza multidimensional entre crianças e adolescentes negros permanece, segundo o estudo, mais alta em comparação com brancos. Enquanto, entre meninas e meninos brancos, 45,2% estão em pobreza multidimensional, entre negros o percentual é de 63,6%.
Há também diferenças geográficas. Dados da pesquisa mostram que a maior parte das crianças e adolescentes que residem em áreas rurais enfrentam privações de direitos. Esse percentual passou de 96,3% em 2017 para 95,3%, em 2023. No caso de áreas urbanas a privação recuou de 55,3% para 48,5%.
A privação ao saneamento básico é o maior destaque, chegando a quase 92% das crianças e adolescentes de áreas rurais, enquanto nas áreas urbanas é de 28%.
"A pobreza afeta mais as crianças e adolescentes justamente porque estão em um momento de desenvolvimento. Qualquer direito que não seja garantido na idade certa pode ter consequências a médio e longo prazo para o desenvolvimento das crianças, e a longo prazo também para a economia de um país", diz Chopitea.
gq/ra (Agência Brasil, ots)
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