Na fatídica noite do 7 a 1, uma gringa no Rio de Janeiro torceu pela Alemanha. No amistoso, quatro anos mais tarde, seu coração batia pelo Brasil. Pode? A colunista Astrid Prange responde com plena convicção.
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Caros brasileiros, minha alma canta! Confesso que fiquei feliz com o resultado do amistoso entre Brasil e Alemanha nesta terça-feira (27/03), no Estádio Olímpico de Berlim. Pode? Pode ser alemã e torcer contra a própria pátria?
Como faço parte do grupo crescente de pessoas neste mundo que vive ou viveu um tempão fora do seu país, digo "sim", claro. No coração sempre cabe mais um, especialmente um país hospitaleiro como o Brasil, que me presenteou com tantos momentos inesquecíveis.
Um deles foi o 7 a 1, em 8 de julho de 2014. Lembro que passei aquela noite no Bar Butesquina, em Copacabana, no Rio de Janeiro, com meu marido e amigos brasileiros.
Como era uma das poucas "gringas" no lugar, resolvi torcer pela Alemanha. Achava que a Alemanha precisava. Para não parecer antipática, tinha pintado as unhas nas cores da Alemanha e do Brasil, queria enviar um sinal de paz para os torcedores brasileiros.
"Flamengo, mais um gol!"
Depois do primeiro gol da Alemanha, ainda fiquei feliz e achava que a seleção alemã tinha tido um bom começo e pelo menos já tinha salvado a própria honra. O clima no bar era de bom astral, pois o jogo ainda estava em aberto. Mas cada gol da Alemanha aumentava a preocupação e o sofrimento entre os torcedores brasileiros.
Minha alegria inicial diminuía. A goleada era demais. Ninguém entendia mais nada. Depois do quinto gol, me entregaram um troféu de papel machê. O público começou a torcer pelo time da Alemanha. E cantava: "Flamengo, Flamengo, mais um gol, mais um gol", pois os jogadores da seleção alemã vestiam camisas nas cores do time carioca.
O salvador da pátria se foi
Essa foi demais. Os brasileiros torcendo pela Alemanha, e a alemã sentindo pena do Brasil. O gesto dos torcedores brasileiros abandonando a própria seleção mostrou a desilusão e a decepção com o próprio time. Mas também os limites de um mito nacional maltratado, de um time que, no meio de uma crise política, estava sobrecarregado de expectativas e não servia para salvador da pátria.
Os corações que batiam no peito dos torcedores naquela noite, naquele bar, simplesmente não aguentaram mais ver seu próprio time sendo massacrado. Mas, graças a Deus, o coração humano é maior que qualquer pátria. Por mais que sejamos carimbados pelo país em que nascemos e crescemos, nada nos impede de criar raízes novas, dentro do nosso país ou fora.
Ontem, torci pelo Brasil. Ainda bem que só teve um gol. A Seleção não desafiou meu coração, ele continua batendo pelos dois países, daqui da Alemanha, com passaporte alemão. Com uma pátria velha e uma pátria nova. E com a alma cantando. E desejando uma Feliz Páscoa!
Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter: @aposylt.
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Curiosidades sobre Brasil x Alemanha
A Alemanha joga contra o Brasil na semifinal desta terça-feira, em Belo Horizonte. Os dois países já se enfrentaram 21 vezes e travaram disputas históricas em Copas do Mundo, como a inesquecível final de 2002.
Foto: Reuters
Estreia na Alemanha
O primeiro duelo entre as seleções brasileira e alemã aconteceu em Hamburgo, em 1963. Os anfitriões perderam por 2 a 1. O ídolo Pelé fez o gol da vitória brasileira.
Foto: picture-alliance/dpa
Vantagem do Brasil
O jogo Brasil e Alemanha em Belo Horizonte foi o 22º confronto entre as duas seleções. Até então, os brasileiros haviam ganhado 12 vezes, os alemães, quatro, e cinco disputas terminaram em empate.
Foto: picture-alliance/dpa
Alemanha Oriental nunca ganhou do Brasil
O primeiro jogo entre Brasil e a República Democrática da Alemanha (RDA), a antiga Alemanha Oriental, aconteceu na segunda rodada da Copa do Mundo de 1974 e terminou em 1 a 0 para a Seleção. No total, o time da RDA jogou quatro vezes contra o Brasil, tendo perdido em três delas. O melhor resultado para os alemães foi um empate por 3 a 3 no Rio de Janeiro, pouco antes da reunificação em 1990.
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro confronto no Maracanã
No lendário Maracanã, 150 mil torcedores assistiram ao empate por 1a 1 entre Brasil e Alemanha em 1977. Para a Copa do Mundo de 2014, o templo do futebol teve que ser reformado e agora tem espaço para apenas 77 mil pessoas. O Maracanã será o palco da final desta Copa, no próximo domingo, 13 de julho.
Foto: picture-alliance/dpa
Goleada na Copa das Confederações do México
Doze anos mais tarde, em 1999, a Alemanha teve sua pior derrota contra o Brasil. A equipe de Erich Ribbeck perdeu por 4 a 0 em Guadalajara. A trupe de Mehmet Scholl e companhia foi eliminada já na primeira fase. Na final do Mundial, o Brasil foi derrotado pelo anfitrião México.
Foto: Alexander Hassenstein/Bongarts/Getty Images
Final de 2002
O último jogo entre Brasil e Alemanha numa Copa do Mundo foi em 2002. O jogo marcou o fim de uma geração alemã. Depois de perder por 2 a 0, muitas estrelas da Alemanha penduraram as chuteiras. Naquele jogo, Ronaldo fez dois gols e levou o Brasil ao pentacampeonato.
Foto: picture-alliance/ASA
Primeira vitória em anos
No último jogo entre os dois times, em agosto de 2011, a equipe alemã venceu o amistoso em Stuttgart por 3 a 2. Foi a primeira vitória sobre o Brasil desde 1993. Os gols da partida foram marcados por Mario Götze, Bastian Schweinsteiger e André Schürrle, todos integrantes da seleção escalada para jogar nesta Copa no Brasil. Do outro lado, Robinho e Neymar balançaram as redes.
Foto: picture-alliance/dpa
Menino do Bayern
Boa parte dos jogadores do time alemão joga pelo Bayern de Munique. O brasileiro Dante (segundo da direita para a esquerda) também joga no Bayern e pode ser uma boa opção na defesa do Brasil para substituir Thiago Silva. Em Munique desde 2012, Dante conhece as estrelas do time alemão como poucos.
Foto: Getty Images/Laurence Griffiths
Recorde do Brasil
Nenhum país levantou mais taças em Copas do Mundo do que o Brasil. A última vitória da Seleção foi justamente contra a Alemanha, em 2002 (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Goleada histórica
O mais recente capítulo dessa história é a goleada por 7 a 1 no Mineirão, durante a Copa de 2014. O vexame brasileiro adiou o sonho do hexacampeonato.