Forças de segurança isolam quarteirões e usam gás lacrimogêneo, impedindo que manifestantes marchem até sede do conselho eleitoral. É a segunda vez em duas semanas que oposicionistas enfrentam barreira policial.
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Protestos contra Maduro na Venezuela
01:13
As forças de segurança da Venezuela usaram gás lacrimogêneo contra manifestantes em Caracas nesta quarta-feira (18/05), em meio a protestos em todo o país que pedem um referendo para revogar o mandato do presidente Nicolás Maduro.
No terceiro dia de protestos da oposição em uma semana, várias centenas de manifestantes se dirigiram ao centro da capital, com planos de marchar até a sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Mas soldados da Guarda Nacional e a polícia isolaram o quarteirão onde os manifestantes planejavam se reunir. A multidão seguiu, então, para as ruas próximas, agitando bandeiras e gritando slogans contra Maduro.
Cerca de cem manifestantes foram alvo de gás lacrimogêneo quando tentavam furar uma barreira policial, disseram testemunhas.
"Eles estão assustados. Os venezuelanos estão cansados, com fome", disse o manifestante Alfredo Gonzales, de 76 anos, que usava um cachecol cobrindo a boca e disse ter sido alvo de spray de pimenta.
O presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, que encabeçou a marcha ao lado do líder da oposição, Henrique Capriles, qualificou de "insólito" que, para solicitar um referendo que está na Constituição, os oposicionistas tenham que enfrentar uma barreira policial. "Estamos promovendo uma saída constitucional à crise", afirmou.
Uma manifestação anti-Maduro na quarta-feira da semana passada também acabou em violência, com tropas usando gás lacrimogêneo para conter pessoas que atiravam pedras. Um policial usou spray de pimenta contra Capriles.
Maduro, que venceu a eleição para suceder o falecido presidente Hugo Chávez em 2013, acusa Capriles e outros líderes da oposição de tentativa de golpe com a ajuda dos Estados Unidos.
Capitalizando o descontentamento popular pela crise econômica do país, a coalizão da oposição Mesa de Unidade Democrática (MUD) ganhou controle da Assembleia Nacional nas eleições de dezembro passado. Todas as medidas legislativas, no entanto, foram derrubadas pela suprema corte, que apoia o governo.
PV/rtr/dpa
Opositores neutralizados pelo governo venezuelano
Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. A DW listou alguns exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa/Sanchez
Controle sobre adversários
Pesquisas sugerem que apenas 25% da população da Venezuela aprova o desempenho do presidente, Nicolás Maduro. Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa o poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. Opositores têm candidatura vetada ou são proibidos de ocupar cargos públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Candidatura anulada
Em 21 de setembro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anulou a candidatura parlamentar de Carlos Vecchio, líder do partido Vontade Popular. Apesar de estar exilado, Vecchio liderava a lista dos candidatos da oposição no estado de Monagas, onde competia diretamente com Diosdado Cabello, segundo na hierarquia do PSUV e atual presidente da Assembleia Nacional.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Afastamento público
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos de oposição venezuelanos, comunicou em 18 de julho que Pablo Pérez foi proibido de ocupar cargos públicos por dez anos. Sua participação nas eleições legislativas em nome da MUD estava assim sendo revogada. Perez foi governador do estado de Zulia, de 2008 a 2012, e líder do partido oposicionista Um Novo Tempo.
Em 15 de junho, Enzo Scarano, ex-prefeito do município de San Diego, no estado de Carabobo, recebeu a notificação da Controladoria-Geral informando-o que ele foi proibido de ocupar cargos públicos nos próximos 12 meses. Scarano havia sido eleito em maio, nas primárias da oposição, como candidato à Assembleia Nacional no colégio eleitoral 3 de Carabobo.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Proibida de concorrer
María Corina Machado foi incluída em maio na lista de candidatos da MUD para as eleições parlamentares de dezembro. Poucos dias antes de neutralizar Enzo Scarano, o controlador-geral, Manuel Galindo, desabilitou Machado politicamente por um ano. Machado foi a deputada que obteve mais votos na Venezuela nas eleições legislativas de 2010.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Mais um afastamento
A MUD lançou Daniel Ceballos como candidato para as eleições parlamentares pelo colégio eleitoral 5 do estado de Táchira. Mas, no início de julho, o político foi proibido de ocupar cargos públicos por um ano. Ceballos foi prefeito do município de San Cristóbal, até que o Supremo Tribunal destituiu-o em 2014, em meio aos protestos antigovernamentais daquele ano.
Foto: picture alliance/Demotix
Sete anos de proibição
No início de maio, apenas alguns dias antes de a MUD celebrar as primárias, o ex-governador de Táchira César Pérez Vivas foi proibido de ocupar cargos públicos por um período de sete anos. "Eu não sou o primeiro nem serei o último a sofrer este tipo de arbitrariedade e injustiça", disse Perez Vivas, na época.
Foto: Getty Images/AFP/J. Watson
Politicamente desqualificado
O fundador do partido Um Novo Tempo, Manuel Rosales, foi prefeito de Maracaibo, governador do estado de Zulia e candidato presidencial – o principal opositor de Hugo Chávez em 2006 – antes de procurar asilo político no Peru. Em maio de 2015, ele foi nomeado pela MUD para as eleições legislativas. Um mês depois, Rosales foi politicamente desqualificado por sete anos e meio.