Sindicato de policiais dá prazo de 14 dias para o governo do estado atender as reivindicações da categoria. Polícia Militar continua paralisação. Objetos furtados de lojas começam a ser devolvidos.
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Em meio à onda de violência que atinge o Espírito Santo, o Sindicato dos Policiais Civis do estado decidiu nesta quinta-feira (09/02), em assembleia, dar um prazo ao governo antes de entrar em greve. A categoria vai esperar 14 dias para o governo atender as reivindicações. Caso isso não ocorra, paralisará, então, as atividades.
Os policiais civis pedem reajuste salarial que, segundo o sindicato, não ocorre há três anos, exigência de nível superior em concursos para agentes, escala especial ao salário e a possibilidade de usar o Hospital da Polícia Militar.
"A sociedade precisa entender que essa crise na segurança pública é culpa do governo do estado que não investiu e sucateou a Polícia Civil do Espírito Santo. Também estamos sofrendo com a crise na segurança, mas não podemos culpar as mulheres dos policiais militares", disse o presidente do sindicato Jorge Emílio Leal.
A paralisação da Polícia Militar no estado chegou ao sexto dia e, neste período, foram registrados 113 homicídios no Espírito Santo. A greve dos PMs começou de forma inusitada na sexta-feira passada, quando familiares dos policiais, em especial mulheres, ocuparam a porta da frente de uma companhia militar e impediram a saída de viaturas.
Desde então, o caos tomou conta do estado, com uma onda de saques e depredações. Alguns dos produtos roubados nos últimos dias estão sendo devolvidos em delegacias. Em Vitória, foram entregues nesta quinta-feira uma geladeira e um fogão furtados de uma loja próxima ao distrito policial.
Segundo delegado Isaías Tadeu, as mercadorias foram devolvidas pelos suspeitos de terem cometido o roubo. "Vamos investigar os crimes, e, nesses casos, se for confirmado que eles foram os responsáveis, eles serão autuados pelo furto qualificado, com a redução da pena, pois houve o arrependimento posterior", acrescentou.
Uma delegacia do município de Cachoeiro de Itapemirim também recebeu produtos roubados. "Uma sala da unidade já está cheia de materiais que foram devolvidos. A Polícia Civil orienta que a população devolva os materiais que foram furtados durante os últimos dias", disse o delegado Paulo Rogério.
O caos levou o comércio capixaba a acumular prejuízos milionários. A Federação do Comércio do estado estimou em 90 milhões de reais as perdas por conta das lojas fechadas e 20 milhões de reais devido aos saques, somando 110 milhões de reais. Cerca de 270 lojas teriam sido saqueadas na Grande Vitória.
Nesta quarta-feira, secretários do governo capixaba e representantes das mulheres e das associações de classe de policiais militares iniciaram negociações para acabar com a crise. Segundo o secretário de Direitos Humanos, Julio Pompeu, as lideranças do movimento exigem anistia geral para todos os policiais, que são proibidos de fazer greve, e 100% de aumento para toda a categoria.
De acordo com a Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado do Espírito Santo (ACS), o salário base de um policial no estado é 2,6 mil reais, abaixo da média nacional 4 mil reais.
CN/abr/rtr/ots
Greve da PM gera caos no Espírito Santo
A paralisação dos policiais militares no estado provoca onda de violência, saques e depredação. Mais de cem pessoas morrem de forma violenta na primeira semana do protesto. População vive clima de insegurança nas ruas.
Foto: picture-alliance/Photoshot
Medo de sair às ruas
A paralisação dos policiais militares no Espírito Santo provocou uma onda de violência, saques e depredação. Mesmo patrulhamento ostensivo das Forças Armadas não conseguiu devolver a tranquilidade à população. Mais de cem pessoas foram mortas de forma violenta no estado na primeira semana do protesto, e a população evita sair de casa.
Foto: picture-alliance/Estadao Conteudo/W. Junior
Bloqueio de batalhões
A greve dos PMs começou de forma inusitada, quando familiares dos policiais, em especial mulheres, ocuparam o acesso de uma companhia militar, impedindo a saída de viaturas. A partir de então, o movimento se espalhou rapidamente, com a criação de grupos de WhatsApp. As portas de praticamente todos os 14 batalhões militares e oito companhias foram ocupadas por famílias de soldados.
Foto: Reuters/P. Whitaker
Ajuda do Exército e da Força Nacional
Para ajudar a conter a onda de violência, o governo federal liberou as Forças Armadas para atuar no patrulhamento no estado e enviou 200 militares da Força Nacional para a região. Mas a situação continua caótica. Aulas em escolas e atendimentos em postos de saúde continuam suspensos.
Foto: picture-alliance/Estadao Conteudo/W. Junior
Dificuldade para comprar alimentos
O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, André Garcia, afirmou, após a chegada das Forças Armadas, que as ocorrências diminuíram, mas números oficiais não foram divulgados. A população enfrenta dificuldades até mesmo para comprar alimentos. Os poucos supermercados abertos lotam, com consumidores disputando mercadorias para estocá-las.
Foto: picture-alliance/Estadao Conteudo/W. Junior
Paralisação de policiais civis
Em meio ao caos na segurança pública, policiais civis do Espírito Santo fizeram uma paralisação de doze horas nesta quarta-feira (08/02), em protesto pela morte de um investigador na cidade de Colatina. Organizações da classe não descartaram também entrar em greve por reajuste salarial e melhores condições de trabalho.
Roubos, assaltos, saques e atos de vandalismo são registrados em várias regiões do estado. Ônibus da região metropolitana de Vitória chegam a voltar à circulação, mas motoristas interrompem o trabalho horas depois, devido à insegurança, ameaças e após a morte do presidente dos sindicatos dos Rodoviários de Guarapari, Wallace Barão. Ele é achado morto a tiros dentro de um carro em Vila Velha.
Secretários do governo capixaba e representantes das associações de classe de policiais militares iniciaram negociações para acabar com a crise. Segundo o secretário de Direitos Humanos, Julio Pompeu, as lideranças do movimento exigem anistia geral para todos os policiais, que são proibidos de fazer greve, e 100% de aumento para toda a categoria.
Foto: Getty Images/AFP/V. Moraes
Acordo sem efeito
O acordo entre associações de policiais militares e o governo estadual não foi suficiente para pôr fim à paralisação. As mulheres dos policiais não participaram da negociação com o governo. No acordo firmado, o governo não concedeu aumento salarial. Na proposta apresentada pelas mulheres, elas pediam 20% de reajuste imediato e 23% de reajuste escalonado. A segurança continua nas mãos do Exército.