Polícia de Berlim usa Youtube para atrair recrutas
Cristina Burack md
6 de janeiro de 2019
Série visa incentivar jovens e principalmente mulheres a se candidatarem para a tropa. Estagiária da polícia mostra seu cotidiano na corporação e dá dicas sobre o processo de seleção.
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Uma estranha batida de tambor e várias fotos em preto e branco da polícia se sucedem na tela. Então, de repente, soam um sininho e uma melodia tocada ao piano, acompanhando uma tela rosa e azul. É quando nos encontramos com Helena, a estrela loira e sorridente do novo vlog da polícia de Berlim.
Einfach Helena (simplesmente Helena) está no ar no canal oficial da polícia de Berlim no Youtube desde o início de dezembro. Seus quatro episódios já acumularam mais de 50 mil cliques até o momento, além de elogios e críticas pela iniciativa, destinada a incentivar, através das mídias sociais, o recrutamento de novos integrantes para a polícia da cidade – em especial do sexo feminino.
Mais mulheres na força
A diretora do Departamento de Polícia de Berlim, Barbara Slowik, descreve a iniciativa como um "empurrão para conseguirmos mais mulheres", em entrevista à agência de notícias alemã DPA. Slowik disse recentemente ao jornal alemão Bild que as mulheres representam cerca de 20% da força.
A diretora afirma que a polícia vem tentando atingir uma geração mais jovem e mais conectada às mídias sociais. Após assumir o cargo em abril de 2018, ela vem reformando os procedimentos de treinamento da polícia após as críticas ao processo.
Em cada episódio, a recruta Helena, de 29 anos, fala diretamente aos telespectadores, compartilhando seu entusiasmo por ser uma estagiária da polícia e fornecendo uma visão interna de seu atual estágio no processo de treinamento.
"Eu garanto que você jamais terá um dia aborrecido", diz ela no vídeo introdutório. "Todo dia é diferente, e é isso que é tão legal em ser uma policial."
A câmera então acompanha os bastidores do seu dia a dia com colegas estagiários. Ela mostra desde como vestir o uniforme da polícia até sua primeira aula de tiro.
"Momento 'uau'"
"Esse é simplesmente um momento 'uau'!", festeja Helena, descrevendo o momento em que experimentou seu uniforme pela primeira vez.
Mais tarde, ela mostra ao espectador dicas básicas de treinamento de armas em um galpão de tiro. "Eu não tinha ideia de quanta força eu precisaria, qual exatamente era o peso do gatilho, até onde eu precisava puxá-lo com o dedo", diz. "Foi definitivamente divertido", afirma, já do lado de fora do galpão de treinamento. Outro vídeo mostra os componentes básicos de um uniforme policial.
Os vídeos são curtos, com duração de 4 a 9 minutos. Helena conta também que não conseguiu encontrar vídeos na internet quando ia começar seu estágio na polícia e queria mais informações sobre a carreira de policial.
Internautas são encorajados a deixar comentários sob o vídeo, e as respostas vão do tom crítico ao questionamento, havendo também comentários positivos.
"Estou realmente incomodado com o fato de a polícia de Berlim permitir esse tipo de propaganda/autopromoção", escreveu um internauta. "Eu acho os vídeos afetados e exagerados."
"Motivação pura", elogiou outro logo abaixo. "Eu continuo ficando cada vez mais animado para fazer o teste de aptidão! Por favor, mais de um vídeo por semana!"
Muitos também pedem dicas sobre o processo de triagem pelo qual os candidatos têm de passar para iniciar um estágio.
Alguns usuários acusam Einfach Helena de copiar sua abertura de outro vlog famoso no país, o Bibis Beauty Palace, série de moda e maquiagem popular da blogueira alemã Bianca Heinicke.
As tatuagens no braço de Helena têm sido outro aspecto que origina comentários, já que apenas recentemente a polícia de Berlim mudou suas regras para permitir que pessoas tatuadas se juntassem à força.
Segundo o site da polícia de Berlim, a corporação pretende contratar cerca de 340 novos policiais em 2019 e 440 em 2020. Em média, 10 a 15 candidatos são necessários para preencher uma vaga. Embora a polícia tenha um número elevado de candidatos a cada ano, muitos não conseguem passar pelos vários testes de aptidão para preencherem uma vaga.
Do direito ao voto ao espaço na política: ao longo dos últimos cem anos as mulheres alemãs lutaram para derrubar leis e convenções que hoje soam impensáveis.
Foto: picture-alliance/akg-images
O direito ao voto
Em 1918, o Conselho dos Deputados da Alemanha proclamou: "Todas as eleições serão conduzidas sob o mesmo sufrágio secreto, direto e universal para todas as pessoas do sexo masculino e feminino com pelo menos 20 anos de idade". Logo depois, as mulheres puderam votar, pela primeira vez, nas eleições para a Assembleia Nacional alemã, em janeiro de 1919.
Foto: picture-alliance/akg-images
Lei de Proteção à Maternidade
A Lei entrou em vigor em 1952. Desde então, passou por várias alterações. O objetivo é assegurar a melhor proteção possível da saúde da mulher e do filho durante a gravidez, após o parto e durante a amamentação. Mulheres não podem sofrer desvantagens na vida profissional por causa da gravidez nem seu emprego pode ser ameaçado pela decisão de ser mãe.
Em 1971, Alice Schwarzer publicou na revista Stern um artigo no qual 374 mulheres confessaram ter interrompido a gravidez; entre elas, Romy Schneider. Após a publicação, dezenas de milhares de mulheres foram às ruas protestar a favor da maternidade autodeterminada. Em 1974, a coalizão social-liberal aprovou no Parlamento a descriminalização do aborto nos três primeiros meses da gestação.
Foto: Der Stern
Mais estudantes e professoras nas universidades
Em 1976, foi realizado em Berlim o evento "1° Universidade de Verão para as mulheres". Entre as exigências, as precursoras pediam o aumento da participação das mulheres entre estudantes e professoras, que era de 3 %. Em 1970, o percentual de estudantes passou para 9%. Hoje, ele chega a 48%. Em 1999, o número de professoras era de cerca de 4 mil. Hoje, elas são 11 mil em toda a Alemanha.
Foto: picture alliance/ZB/J. Kalaene
Livre da obrigação do serviço doméstico
Em 1977, entrou em vigor a nova lei de matrimônio. Até então, a esposa era "obrigada ao serviço doméstico". Ela só poderia trabalhar se não negligenciasse suas tarefas do lar e se o marido consentisse. Em 2014, 70% das mães trabalhavam fora; 30% em tempo integral e quase 40% em meio período. Entre os casais com crianças, a mulher alemã contribui com uma média de 22,6% da renda familiar.
Foto: picture-alliance/akg-images
Igualdade salarial
Em 1979, 29 funcionárias processaram o laboratório fotográfico Heinze, em Gelsenkirchen, pelo direito de ter a mesma remuneração por trabalhos iguais. Elas venceram: em 1980, o Parlamento alemão aprovou a lei sobre igualdade de tratamento de homens e mulheres no trabalho. Mas ainda há muito o que fazer: em , as mulheres ganharam 18% a menos por hora trabalhada do que os homens.
Foto: picture-alliance/chromorange
Pilotas da Lufthansa
Em 1986, a companhia aérea alemã Lufthansa permitiu, pela primeira vez, que duas mulheres completassem a formação de piloto. Elas são: Erika Lansmann e Nicola Lunemann (na foto). Hoje, nas diversas companhias aéreas do grupo, 417 mulheres trabalham como co-pilotas e 114 são comandantes.
Foto: Roland Fischer, Lufthansa
Trabalho noturno
Em 1992, o Tribunal Constitucional Federal revogou a proibição do trabalho noturno para mulheres. O Tribunal declarou que a alegada proteção estava associada com salários mais baixos e "desvantagens consideráveis". Na antiga Alemanha Oriental, as mulheres tinham sido autorizadas a praticar todas as profissões desde o início, a qualquer hora do dia ou da noite.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gerten
Sexo sem consentimento
Em 1997, a violação sexual no casamento passou a ser considerada crime. O Bundestag decidiu por uma maioria esmagadora que os maridos estupradores já não tinham direitos especiais. A ideia de que seria uma "ofensa menor de coerção" foi abolida. Todos os "atos sexuais" forçados passaram a ser punidos como estupro.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kästle
Mulheres na política
Depois de conquistarem o direito ao voto na maior parte dos países, as mulheres tentam alcançar a mesma proporção de participação política que os homens. Em 1949, o percentual de alemãs no Bundestag era de 6,8%. Atualmente, elas são 35,3%. A primeira mulher a chefiar o governo foi Angela Merkel, em 2005. Em 2018, ela chegou ao quarto mandato como chanceler federal, cargo que exerceu até 2021.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Tarefas domésticas
Hoje as mulheres alemãs também lutam por direitos iguais em relação às tarefas domésticas e ao cuidado com familiares. Em 1965, elas exerciam esse trabalho durante, em média, quatro horas por dia; os homens, 17 minutos por dia. Atualmente as mulheres ainda gastam 43,8 pontos percentuais a mais de tempo com tarefas domésticas do que os homens: são quase 30 horas semanais, contra 20 dos homens.
Foto: Imago/O. Döring
O futuro
Para despertar o interesse das meninas em profissões antes consideradas masculinas, especialmente na indústria, desde 2001 empresas alemãs convidam meninas do 5º ano para o 'Girls day'. O dia das meninas é considerado o maior projeto de orientação profissional do mundo e, graças a ele, cada vez mais jovens mulheres decidem seguir carreira da área de ciências exatas na Alemanha.