Polícia mata atiradores em exposição de caricaturas de Maomé
4 de maio de 2015
Dois homens disparam contra policiais em frente a evento em Dallas, nos EUA, promovido por grupo anti-islâmico. Autoridades ainda não identificaram suspeitos nem confirmaram relação do tiroteio com a mostra.
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A polícia do estado americano do Texas matou neste domingo (03/05) dois homens que haviam disparado tiros em frente a uma mostra e competição de caricaturas do profeta Maomé. O evento, em Dallas, foi organizada por um grupo anti-islâmico e contou com a presença do controverso político holandês de extrema direita Geert Wilders.
As autoridades estão investigando a identidade dos atiradores e, de acordo com a polícia, ainda não está claro se o incidente da noite deste domingo teve relação com a exposição. Os dois homens atiraram contra um guarda, que foi atingido no tornozelo, levado a um hospital e liberado.
Como precaução, um esquadrão antibomba foi acionado para inspecionar o carro dos dois suspeitos. As imediações do Culwell Center, que abrigava a exposição, também foram evacuadas, disse o porta-voz da polícia Joe Harn. Cerca de 200 pessoas estavam no local.
Apesar de a autoria do ataque no subúrbio de Dallas ainda não ter sido reivindicada, ele lembra o atentado ao jornal satírico parisiense Charlie Hebdo, que publicou caricaturas de Maomé. O incidente na capital em francesa, em janeiro, deixou 12 mortos.
A "Exposição artística e competição Maomé", em Dallas, foi realizada pela Iniciativa Americana de Defesa à Liberdade (AFDI, na sigla em inglês), criticada por patrocinar campanhas anti-islâmicas em meios de transporte dos EUA. Segundo os organizadores, o evento tinha como objetivo promover a liberdade de expressão. Foi oferecido um prêmio de 10 mil dólares para a melhor caricatura ou obra de arte retratando o profeta – o que é considerado uma ofensa por seguidores do islã.
Conhecido por sua campanha anti-islã, o controverso Wilders – que figura em todas as listas da Al Qaeda –, discursou no evento. "Maomé lutou e aterrorizou as pessoas com espadas. Hoje lutamos contra Maomé e seus seguidores com uma caneta. A caneta e os desenhos vão provar serem mais poderosos que a espada", declarou. Após o tiroteio, o político se disse chocado.
Os organizadores da mostra afirmaram que haviam reforçado o esquema de segurança do evento devido ao risco de ataque.
LPF/rtr/ap/afp
O jornal satírico "Charlie Hebdo"
Semanário é conhecido por suas caricaturas e matérias sobre política, economia e sociedade. Humor mordaz se volta principalmente contra políticos e o papa, além do profeta Maomé.
Jornalismo com humor
A capa da atual edição é dedicada ao mais recente romance de Michel Houellebecq, "Soumission" (Submissão). O livro retrata a França no futuro como um país islamizado, sob o governo de um presidente muçulmano.
Foto: B. Guay/AFP/Getty Images
Controversa "biografia de Maomé"
Em janeiro de 2013, o semanário provocou polêmica internacional e despertou a ira da comunidade islâmica com o lançamento de uma edição especial que contava a história do profeta islâmico em quadrinhos de forma satírica.
Foto: Miguel Medina/AFP/Getty Images
Críticas ácidas
Em novembro de 2012, o jornal fez uma caricatura em relação aos debates na França sobre o casamento entre homossexuais. Com um desenho em alusão ao arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, o jornal titulou "Arcebispo Vingt-Trois tem três pais".
Foto: Francois Guillot/AFP/Getty Images
Direito à liberdade de expressão
"Não se trata de provocação", disse Gérard Biard, editor do "Charlie Hebdo", em entrevista à DW em setembro de 2012, sobre os desenhos de Maomé publicados pelo semanário. Segundo ele, a publicação exerce o direito da liberdade de expressão ao publicar caricaturas do profeta, não sendo responsável por eventuais reações violentas.
Foto: imago/PanoramiC
Wolinski está entre os mortos
Entre os mortos estão o diretor de redação da publicação, Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, e o cartunista Georges Wolinski (foto), considerado o maior nome do quadrinho francês. Ele, que nasceu na Tunísia, foi para a França com 13 anos. Na década de 1960, começou sua carreira ao fazer desenhos para o jornal satírico "Hara-Kiri".
Foto: picture-alliance/dpa
Cabu fundou o jornal "Hara-Kiri"
O cartunista Jean Cabut, conhecido como Cabu, foi outra vítima do atentado na redação do semanário. Ele era bastante popular na França e também trabalhou na televisão. Na década de 1960, ele também foi um dos fundadores do jornal satírico "Hara-Kiri".
Foto: picture-alliance/dpa
Duras críticas após charges de Maomé
O diretor do jornal, Stephane Charbonnier, mais conhecido como Charb, defendeu a liberdade de expressão após as publicações polêmicas com as charges de Maomé. Ele ficou famoso por causa da repercussão do semanário Charlie Hebdo.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA/Y. Valat
Críticas às religiões e figuras internacionais
O semanário é conhecido por criticar religiões, o presidente da França e figuras políticas internacionais. Na capa, o jornal estampa uma caricatura de Bin Laden com o título "Bin Laden ameaça a França" e um personagem falando "Mais um policial disfarçado".
Crítica ácida às religiões
Em suas edições semanais, o jornal critica não só a religião islâmica, mas também católicos e judeus. Várias capas da publicação já publicaram caricaturas sobre o pedofilismo na Igreja Católica. Nesta capa, que ficou famosa, um judeu ortodoxo empurra um muçulmano numa cadeira de rodas, numa alusão ao filme "Os intocáveis".