Malas e caixas com mais de 51 milhões de reais são encontradas em imóvel que teria sido emprestado a ex-ministro. Essa é a maior apreensão de dinheiro da história. Operação investiga fraude na Caixa Econômica Federal.
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A Polícia Federal (PF) encontrou nesta terça-feira (05/09) malas e caixas cheias de dinheiro num apartamento que seria usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, em Salvador. De acordo com autoridades, o imóvel seria uma espécie de bunker para armazenagem de dinheiro.
A Polícia Federal informou que mais de 51 milhões de reais foram aprendidos no apartamento. Essa foi a maior apreensão de dinheiro em espécie da história.
A quantia estava guardada em pelo menos oito grandes malas e cinco caixas, de acordo com fotografias divulgadas pela Polícia Federal. As autoridades disseram que chegaram ao apartamento graças a informações recolhidas durante a investigação.
O apartamento está no nome de Silvio Silveira, que teria cedido o imóvel a Geddel, para que o ex-ministro guardasse, supostamente, pertences do pai, falecido em janeiro de 2016. Uma denúncia anônima alertou a polícia de que o apartamento estaria sendo utilizado para guardar caixas com documentos.
A operação desta terça-feira foi batizada de Tesouro Perdido, e é decorrente das últimas fases da Operação Cui Bono, que investiga fraudes na liberação de créditos da Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013. Nesta época, Geddel ocupou a vice-presidência de Pessoa Jurídica da instituição.
No mandado de busca, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, afirma que no imóvel há elementos que comprovam a prática dos crimes relacionados na manipulação de créditos e recursos realizada na Caixa Econômica Federal.
Geddel – ministro da Integração Nacional no governo Lula e da Secretaria de Governo sob Michel Temer – teve prisão decretada em julho por obstrução de Justiça. O ex-ministro foi acusado de tentar impedir um eventual acordo de delação premiada do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, ambos presos.
Em janeiro deste ano, a Polícia Federal deflagrou a Operação Cui Bono? ("A quem beneficia?", em latim) – um desdobramento da Operação Catilinárias (deflagrada em dezembro de 2015, após autoridades terem encontrado um celular na casa de Cunha com trocas de mensagens com Geddel).
O teor das mensagens indica que Cunha e Geddel atuavam para garantir a empresas a liberação de recursos em vários setores da Caixa. Após o recebimento, os beneficiados pagavam vantagens indevidas. Em conversas datadas de 2012, por exemplo, os envolvidos revelam detalhes de como agiram para viabilizar a liberação de empréstimos e créditos para sete empresas e um partido político.
Geddel é acusado de receber 20 milhões de reais em propinas no esquema. O ex-ministro cumpre prisão domiciliar em Salvador.
Até novembro de 2016, Geddel era ministro da Secretaria de Governo de Temer, mas foi forçado a renunciar devido a fortes pressões decorrentes de suspeitas do crime de tráfico de influência. Ele foi acusado de pressionar autoridades para a liberação de uma obra embargada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Salvador.
CN/abr/lusa/ots
A corrupção através da história do Brasil
História do país é marcada por episódios de corrupção. Uma seleção com alguns dos mais emblemáticos.
Foto: Reuters/P. Whitaker
As origens
A colonização do Brasil foi baseada na concessão de cargos, caracterizada pelo patrimonialismo (ausência de distinção entre o bem público e privado) e o clientelismo (favorecimento de indivíduos com base nos laços familiares e de amizade). Apesar de mudanças no sistema político, essas características se perpetuaram ao longo dos séculos.
Foto: Gemeinfrei
Roubo das joias da Coroa
Em março de 1882, todas as joias da Imperatriz Teresa Cristina e da Princesa Isabel foram roubadas do Palácio de São Cristóvão. O roubo levou a oposição a acusar o governo imperial de omissão, pois as joias eram patrimônio público. O principal suspeito, Manuel de Paiva, funcionário e alcoviteiro de Dom Pedro 2º, escapou da punição com a proteção do imperador. O caso ajudou na queda da monarquia.
Foto: Gemeinfrei
A República e o voto do cabresto
Em 1881 foi introduzido no país o voto direto, porém, a maioria da população era privada desse direito. Na época, podiam votar apenas homens com determinada renda mínima e alfabetizados. Durante a Primeira República (1889 – 1930), institucionaliza-se no Brasil o voto do cabresto, ou seja, o controle do voto por coronéis que determinavam o candidato que seria eleito pela população.
Foto: Gemeinfrei
Mar de lama
Até década de 1930, a corrupção era percebida comu um vício do sistema. A partir de 1945, a corrupção individual aparece como problema. Várias denúncias de corrupção surgiram no segundo governo de Getúlio Vargas. O presidente foi acusado de ter criado um mar de lama no Catete.
Foto: Imago/United Archives International
Rouba mas faz
Engana-se quem pensa que Paulo Maluf é o criador do bordão "rouba mas faz". A expressão foi atribuída pela primeira vez a Adhemar de Barros (de bigode, atrás de Getúlio), governador de São Paulo por dois mandatos nas décadas de 1940 e 1960. O político ganhou fama por realizar grandes obras públicas, e nem mesmo as acusações constantes de corrupção contra ele lhe impediram de ganhar eleições.
Foto: Wikipedia/Gemeinfrei/DIP
Varrer a corrupção
Em 1960, o candidato à presidência da República Jânio Quadros conquistou a maior votação já obtida no país para o cargo desde a proclamação da República. O combate à corrupção foi a maior arma do político na campanha eleitoral, simbolizado pela vassoura. Com a promessa de varrer a corrupção da administração pública, Jânio fez sucesso entre os eleitores.
Foto: Imago/United Archives International
Ditadura e empreiteiras
Acabar com a corrupção foi um dos motivos usados pelos militares para justificar o golpe de 1964. Ao assumir o poder, porém, o novo regime consolidou o pagamento de propinas por empreiteiras na realização de obras públicas. Modelo que se perpetuou até os dias atuais e é um dos alvos da Operação Lava Jato.
Foto: picture-alliance/AP
Caça a marajás
Mais uma vez um presidente que partia em campanha eleitoral prometendo combater a corrupção foi aclamado com o voto da população. Fernando Collor de Mello, que ficou conhecido como "caçador de marajás", por combater funcionários públicos que ganhavam salários altíssimos, renunciou ao cargo em 1992, em meio a um processo de impeachment no qual pesavam contra ele acusações que ele prometeu combater.
Foto: Imago/S. Simon
Mensalão
Em 2005, veio à tona o esquema de compra de votos de parlamentares aplicado durante o primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que ficou conhecido como mensalão. O envolvimento no escândalo de corrupção levou diversos políticos do alto escalão para a prisão, entre eles, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Lava Jato
A operação que começou um inquérito local contra uma quadrilha formada por doleiros tonou-se a maior investigação de combate à corrupção da história do país. A Lava Jato revelou uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos. O pagamento de propinas por construtoras, descoberto na operação, provocou investigações em 40 países.