Itália prende migrantes acusados de torturas na Líbia
16 de setembro de 2019
Três homens foram reconhecidos por vítimas num centro de acolhida na Sicília, entre outros recém-chegados. Segundo denúncia, agiam em centro de detenção líbio que é palco de estupros e agressões sistemáticos.
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A polícia italiana prendeu nesta segunda-feira (16/09) três homens suspeitos de torturarem migrantes num centro de detenção no oeste da Líbia. Os acusados – um cidadão de Guiné e dois do Egito, entre 22 e 26 anos – foram reconhecidos pelas vítimas num abrigo na Sicília.
Promotores italianos ouviram testemunhos de vários migrantes que ficaram detidos na antiga base militar de Zawyia, a 45 quilômetros de Trípoli. Segundo eles, as mulheres eram rotineiramente estupradas no local, vários migrantes foram vítimas de torturas que incluíam espancamentos e choques elétricos, e alguns foram vendidos como escravos ou até mesmo assassinados.
Os acusadores contaram que o campo era administrado por um líbio chamado Ossama, temido por sua brutalidade, e que contava com a ajuda de vários cúmplices para controlar o lugar, incluindo os dois egípcios e o guineense. O trio teria deixado a Líbia e se misturado a um grupo de migrantes no navio de resgate italiano Alex, até ser reconhecido por várias vítimas num abrigo de Messina, na Itália.
"Fui espancado várias vezes. Sofri tortura real que deixou cicatrizes no meu corpo [...] fui açoitado com cabos elétricos", disse um dos migrantes, de acordo com a denúncia do Ministério Público italiano. "Todas as mulheres que estavam conosco, uma vez alojadas dentro de um galpão, foram estupradas sistemática e repetidamente", diz outro testemunho. "Permanecíamos trancados e eles nos davam água do mar para beber e pão duro."
Os migrantes relataram, ainda, que a prisão é cercada por muros altos, e os recém-chegados eram separados de acordo com o sexo ou grupo étnico. As mulheres eram sistematicamente estupradas. Os presos também eram forçados a ligar para suas famílias, pedindo pagamento em troca da liberdade. Ainda segundo a denúncia, quem não podia pagar era assassinado ou vendido a contrabandistas de seres humanos. Outros morreram de fome.
Os centros de detenção de migrantes da Líbia são frequentemente controlados por grupos armados. Trabalhadores humanitários e ONGs de direitos humanos costumam apresentar denúncias sobre a violência cotidiana desses centros. Mas os locais continuaram operando, recebendo novos migrantes que chegam em barcos interceptados pela guarda costeira da Líbia antes de se aproximarem da Itália.
Nos últimos dois anos, a guarda costeira líbia, apoiada pela Itália, vem patrulhando as águas do Mediterrâneo para impedir que barcos repletos de migrantes deixem a costa do país rumo à Europa. Em acordo, a Itália se comprometeu a treinar, equipar e financiar a guarda costeira da Líbia.
Ao apresentar a denúncia, o procurador-geral da cidade siciliana de Agrigento instou a ação internacional: "Esta investigação [...] confirma as condições desumanas nos chamados centros de detenção da Líbia e a necessidade agir, inclusive em nível internacional."
Cerca de 68 milhões de pessoas se encontram atualmente em fuga: pelo mar, pelas montanhas, pelas estradas. A migração afeta todos os continentes. As rotas de fuga são as mais diversas. E todas são desoladoras.
Foto: Imago/ZUMA Press/G. So
Fuga por caminhão
O mais recente movimento migratório tem origem na América Central. Violência e fome levam milhares de pessoas a fugir de Honduras, Nicarágua, El Salvador e Guatemala. O destino: os Estados Unidos da América. Mas lá, o presidente Trump se mobiliza contra os imigrantes indesejados. A maioria dos refugiados permanece na fronteira mexicano-americana.
Foto: Reuters/C. Garcia Rawlins
Refugiados terceirizados
O governo conservador em Camberra não quer ter refugiados no país. Aqueles que conseguem chegar ao quinto continente são rigorosamente deportados. A Austrália assinou acordos com vários países do Pacífico, incluindo Papua Nova Guiné e Nauru, para alocar ali os refugiados em campos, cujas condições são descritas por observadores como catastróficas.
Foto: picture alliance/AP Photo/Hass Hassaballa
Os refugiados esquecidos
Hussein Abo Shanan tem 80 anos. Ele vive há décadas como refugiado palestino na Jordânia. O reino tem apenas dez milhões de habitantes. Entre eles, estão 2,3 milhões de refugiados palestinos registrados. Eles vivem, em parte, desde 1948 no país – após o fim da guerra árabe-israelense. Além disso, existem atualmente cerca de 500 mil imigrantes sírios.
Foto: Getty Images/AFP/A. Abdo
Tolerado pelo vizinho
A Colômbia é a última chance para muitos venezuelanos. Ali, eles vivem em acampamentos como El Camino, nos arredores da capital, Bogotá. As políticas do presidente Nicolás Maduro levaram a Venezuela a não conseguir mais suprir seus cidadãos, por exemplo, com alimentos e medicamentos. As perspectivas de volta a seu país de origem são ruins.
Foto: DW/F. Abondano
Fuga no frio
Pessoas em fuga, como estes homens na foto, tentam repetidamente atravessar a fronteira da Bósnia-Herzegovina para a Croácia. Como membro da União Europeia, a Croácia é o destino dos migrantes. Especialmente no inverno, essa rota nos Bálcãs é perigosa. Neve, gelo e tempestades dificultam a caminhada.
Foto: picture-alliance/A. Emric
Última parada Bangladesh?
Tempo de chuva no campo de refugiados de Kutupalong em Bangladesh. Mulheres da etnia rohingya, que fugiram de Myanmar, protegem-se com seus guarda-chuvas. Mais de um milhão de muçulmanos rohingya fugiram da violência das tropas de Myanmar para o vizinho Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo e que está sobrecarregado com a situação. Este é atualmente o maior campo de refugiados do planeta.
Foto: Jibon Ahmed
Vida sem perspectiva
Muitos recursos minerais, solos férteis: a República Centro-Africana tem tudo para estabelecer uma sociedade estável. Mas a guerra no próprio país, os conflitos nos países vizinhos e governos corruptos alimentam a violência na região. Isso faz com que muitas pessoas, como aqui na capital, Bangui, tenham que viver em abrigos.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Blackwell
Chegada à Espanha
Refugiados envoltos em cobertores vermelhos são atendidos pela Cruz Vermelha após sua chegada ao porto de Málaga. 246 imigrantes foram retirados do mar pelo navio de resgate Guadamar Polimnia. Cada vez mais africanos evitam agora a Líbia. Em vez disso, eles tomam a rota do Mediterrâneo Ocidental, a partir da Argélia ou Marrocos.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/J. Merida
Refugiados sudaneses no Uganda
Por muito tempo, Uganda foi um país dilacerado pela guerra civil. Atualmente, a situação se estabilizou em comparação com outros países africanos. Para esses refugiados do Sudão do Sul, a chegada a Kuluba significa, sobretudo, segurança. Centenas de milhares de sul-sudaneses encontraram refúgio no Uganda.