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Polícia matou um negro a cada 4 horas em 2022, diz estudo

16 de novembro de 2023

Pesquisa analisou dados sobre mortes em ações policiais de oito estados brasileiros. Bahia lidera no número de óbitos.

Policiais em picape da Polícia Militar em frente à bandeira do Brasil pintada em muro
"Mortes em ação da polícia também trazem prejuízos às próprias corporações", diz pesquisadoraFoto: SERGIO LIMA/AFP/Getty Images

Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (16/11) pela Rede de Observatórios da Segurança, com base em dados das secretarias de Segurança Pública, revelou que em 2022 uma pessoa negra foi morta a cada quatro horas em intervenções policiais em oito estados brasileiros.

O estudo intitulado "Pele Alvo: a bala não erra o negro" analisou 3.171 registros de morte. Destes, 2.770 (87,35%) eram negros. A pesquisa reuniu os dados de 2022 dos estados onde a Rede de Observatórios possui representações – Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco e Piauí – que foram obtidos através da Lei de Acesso à Informação.

A Bahia lidera o número de mortes de negros, com 1.121 óbitos. A cada dez mortos pelas mãos da polícia no estado, onde 80,8% da população é negra, em 2022, nove eram afrodescendentes. Entre os mortos, 74,21% eram jovens com idades entre 18 e 29 anos.

De modo geral, as mortes resultantes da violência policial no estado aumentaram 300% entre 2015 e 2022. O governo baiano vem sendo fortemente criticado pela escalada de violência policial que deixou dezenas de mortos nos últimos meses.

O Rio de Janeiro, que liderava o ranking anterior, registrou 1.042 mortes de negros por ação da polícia. Com 54,39% de habitantes que se declaram negros, a proporção dessas vítimas no estado é de 87%.

"Racismo secular, profundo e determinado"

No caso do Rio de Janeiro, o estudo aponta a existência de uma "política de segurança determinada a lidar com grupos armados a partir de lógicas bélicas de confrontos e tiroteios", voltada para as favelas e bairros mais pobres. "No coração das políticas de confronto, está assentado um racismo secular, profundo e determinado."

Estudo aponta "política de segurança determinada a lidar com grupos armados a partir de lógicas bélicas de confrontos e tiroteios"Foto: Allison Sales/AFP

Em São Paulo, onde 40,4% da população é negra, 63,90% dos mortos pela polícia em 2022 eram afrodescendentes. Os dados, porém, representam uma redução desses óbitos de 48,32% – de 876 em 2021 para 419 em 2022. Na cidade de São Paulo foram registradas 157 mortes, ou seja 37,47%  do total do estado.

Os pesquisadores, porém, ressaltaram que em 4.219 ocorrências nos oito estados pesquisados – uma em cada quatro – não havia registro da cor, o que indica uma subnotificação dos dados sobre as mortes de afrodescendentes. A falta dessas informações foi registrada principalmente nos estados do Maranhão, Ceará e Pará.

A socióloga Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios, afirmou que a letalidade de pessoas negras pelas mãos de policiais deve ser vista como uma questão política e social. "As mortes em ação da polícia também trazem prejuízos às próprias corporações que as produzem. Precisamos alocar recursos que garantam uma política pública que efetivamente traga segurança para toda a população", observou ao G1.

rc/cn (ots)

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