Candidato à presidência Alexei Navalny é detido em Moscou durante manifestação contra corrupção no governo. Mais de 130 pessoas foram presas na cidade, diz ONG. Protestos ocorreram em várias regiões do país.
Anúncio
O líder da oposição e candidato à presidência da Rússia Alexei Navalny foi preso neste domingo (26/03) em Moscou, durante manifestações contra corrupção no governo. Segundo o grupo de defesa dos direitos humanos OWD Info, mais de 130 pessoas foram presas durante os protestos em Moscou.
Apesar de as autoridades de Moscou terem alertado que o protesto era ilegal, milhares de pessoas se reuniram na praça Pushkin e na rua Tverskaya, no centro da capital da Rússia, em meio a um grande número de policiais. "A Rússia será livre! Liberdade, liberdade", cantavam os manifestantes na praça Pushkin. Os organizadores do protesto recomendaram que os ativistas passeassem pelas calçadas da rua Tversakaya, para evitar serem presos.
O dia nacional de protesto foi convocado com o tema "Dmitri pagará", que faz referência ao primeiro-ministro do país, Dmitri Medvedev, acusado de ser um dos homens mais corruptos da Rússia.
Navalny fez a denúncia no início do mês em um vídeo publicado no Youtube, resultado de uma investigação de vários meses. No vídeo, que já foi visto mais de 10 milhões de vezes, Navalny afirma que Medvedev, um dos principais aliados de Putin, construiu um império imobiliário dentro e fora do país, através de fundações beneficentes comandadas por parentes e pessoas de sua confiança.
"Baseando-nos na documentação publicada, afirmamos que para as fundações de Medvedev foram transferidos pelo menos 70 bilhões de rublos (cerca de 1,2 bilhão de dólares) em dinheiro e propriedades", afirmou Alexei Navalny.
As manifestações contra a corrupção foram convocadas em cidades como Vladivostok, Krasnoyarsk e Tomsk, nas quais também não houve permissão das autoridades para os protestos.
"Não à corrupção"
Na cidade siberiana de Novosibirsk, cerca de 2 mil pessoas se reuniram no centro da cidade, carregando sinais como "Não à corrupção", de acordo com o site de notícias local Sib.fm. Alguns levantaram imagens de patos de borracha amarelos, depois de relatos de que Medvedev tem uma casa especial para um pato em uma de suas propriedades.
Em São Petersburgo, cerca de 4 mil pessoas se reuniram no centro da cidade. "Estamos cansados das mentiras, temos de fazer alguma coisa", disse Sergei Timofeyev à agência de notícias AFP.
A Constituição russa permite encontros públicos, mas leis recentes criminalizaram protestos não autorizados pelas autoridades da cidade, que frequentemente se recusam a conceder permissão para comícios de críticos do Kremlin.
A mídia local estimou cerca de 1.500 pessoas em cada uma das cidades siberianas de Krasnoyarsk e Omsk.
Na maioria dos lugares, as autoridades não autorizaram os comícios, e alguns daqueles que apareceram para protestar foram detidos pela polícia.
Na cidade de Vladivostok, no leste do país, cerca de 700 pessoas apareceram, segundo o site local Prima Media, e uma dúzia de pessoas foram detidas pela guarda nacional. Na cidade dos Urais de Yekaterinburg, cerca de mil pessoas apareceram, de acordo com o site local Znak.com.
Alexei Navalny disse em seu site que 99 cidades russas planejaram protestos, mas que em 72 delas as autoridades locais não deram permissão, citando razões que vão desde a limpeza de ruas até um concerto de campainha para eventos rivais de vários grupos pró-Kremlin. As autoridades também pressionaram os estudantes a não comparecerem, e algumas cidades até agendaram exames em um domingo, segundo relatos.
MD/afp/efe/dpa
Crimeia três anos após a anexação russa
Em março de 2014, a Rússia anexou a Crimeia. Três anos depois, como está a península? O que mudou na vida das pessoas? E Putin cumpriu suas promessas?
Foto: DW/R. Richter
A ocupação da Crimeia
O presidente russo, Vladimir Putin, é comemorado como herói, e bandeiras russas substituíram as ucranianas. A transformação começou em fevereiro de 2014, quando pessoas de uniforme, mas sem insígnias, ocuparam os prédios do governo e do Parlamento em Simferopol, capital da República Autônoma da Crimeia, parte da Ucrânia. Mais tarde, também os quartéis ucranianos seriam ocupados.
Foto: DW/I. Worobjow
Referendo sobre a anexação
Apesar dos protestos e, contornando a Constituição da Ucrânia, em 16 de março de 2014, foi realizado um referendo sobre o estatuto da Crimeia. A entrega da Crimeia à Ucrânia pelo governo russo em 1954 não foi reconhecida, e decidiu-se pela anexação da península à Rússia.
Foto: Reuters
Tártaros da Crimeia
Quem rejeita a anexação pela Rússia, sofre perseguição. Isso acontece também com os líderes do Mejlis, o Congresso do Povo Tártaro da Crimea, que em 2016 foi considerado organização extremista. Buscas e detenções voltam a ser frequentes, tal qual em 1944, quando os tártaros da Crimeia foram deportados como "inimigos do povo" pelos soviéticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Só programas russos
As transmissões das emissoras de televisão ucranianas foram interrompidas na Crimeia no começo de 2014. A população só tem acesso a programas russos. O ATR, canal independente dos tártaros da Crimeia, que defende a integridade territorial da Ucrânia, agora transmite a partir de Kiev. Muitos outros meios de comunicação também foram proibidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Zemlianichenko
Difícil acesso
A lei ucraniana proíbe estrangeiros de entrar na Crimeia sem a permissão das autoridades de Kiev e que não seja pela área continental da Ucrânia. Ao infrator fica proibido viajar pelas demais partes da Ucrânia. Para chegar da Ucrânia à Crimeia, é preciso passar por postos de controle na fronteira administrativa, seja a pé ou de carro.
Foto: DW/L. Grishko
Sanções após a anexação
A União Europeia (UE) e os Estados Unidos não reconhecem a anexação. Eles até aconselham seus cidadãos a não comprar imóveis ou fazer negócios na Crimeia. Empresas da península não podem vender produtos à UE, nem aos EUA. Também foram impostas sanções a pessoas, empresas e organizações.
Foto: picture-alliance/Sputnik/A. Polegenko
Esperando o cumprimento de promessas
Quem votou a favor da anexação no referendo, esperava que Putin cumprisse suas promessas: uma ponte ligando a Crimeia à Rússia, um gasoduto e usinas de energia. Também problemas sociais seriam resolvidos. Os salários não acompanham a inflação. Mas relatos sobre o descontentamento e protestos localizados são divulgados apenas nas redes sociais e meios de comunicação independentes.
Foto: DW/R. Richter
Empreiteira de amigo de Putin
A construção de uma ponte no Estreito de Kertch até a Rússia está em pleno andamento. A obra, no valor de 3,7 bilhões de euros, está nas mãos do oligarca russo Arkady Rotenberg, amigo de Putin. Até o final de 2019, a ponte deverá estar pronta. Ela terá quatro pistas rodoviárias e duas faixas ferroviárias.
Foto: picture-alliance/Tass/V. Timkiv
Pequenos negócios
Empresas de pequeno porte da Crimeia sofrem com a redistribuição de propriedades em favor de empresários russos. A emissora Radio Liberty informou que o número de pequenas empresas na Crimeia diminuiu de 15 mil (2014) para 1 mil (2016). Também os proprietários de imóveis no litoral enfrentam problemas. Tribunais podem anular documentos emitidos antes da anexação.
Foto: DW/A. Karpenko
Grandes perdas no turismo
Na alta temporada, é tempo de praia na Crimeia. Mas o fluxo de turistas diminuiu quase 30% nos últimos três anos. As rotas ferroviárias estão interrompidas e os voos são caros. Devido às sanções impostas pela UE, navios de cruzeiro não atracam mais na Crimeia.
Foto: DW/A. Karpenko
Tesouros históricos
As joias arqueológicas e as armas dos citas, antigo povo de pastores nômades que povoaram a região na Antiguidade Clássica, não poderão mais retornar à Crimeia. No final de 2016, um tribunal holandês decidiu que a rara coleção de 550 artefatos de museus da Crimeia deveria ser dada a Kiev. Os tesouros são parte de uma mostra que estava na Europa Ocidental quando ocorreu a anexação da Crimeia.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Maat
Quem ganhou com a anexação
Desde a anexação, os moradores da Crimeia só podem comprar cartões para telefone, por exemplo, se portarem um passaporte russo. Quem ganhou com a anexação foram aposentados com passaporte russo. As aposentadorias foram equiparadas às vigentes na Rússia, e a idade da aposentadoria para mulheres baixou de 60 para 55 anos.