Importante voz de oposição na Rússia, Lyubov Sobol é processada por invasão de domicílio. Navalny diz que ela apenas tocou a campainha da casa de suposto agente russo que ele acusa de participação em seu envenenamento.
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Autoridades da Rússia abriram nesta sexta-feira (25/12) um processo criminal contra uma aliada próxima do opositor Alexei Navalny, num caso relacionado ao envenenamento do dissidente.
Lyubov Sobol, uma voz importante da oposição política na Rússia, havia sido detida mais cedo nesta sexta-feira por policiais que invadiram sua casa em Moscou, segundo informou Navalny.
Em comunicado oficial, a principal agência de investigação da Rússia disse que Sobol é acusada de ter entrado à força em uma residência familiar na capital russa na última segunda-feira.
A equipe de Navalny afirma que ela estava apenas tentando confrontar um suposto agente do Serviço de Segurança Federal (FSB) da Rússia, uma espécie de sucessora da KGB soviética. Navalny acusa o oficial de ser um dos que tentaram assassiná-lo com o agente neurotóxico Novichok, em agosto deste ano, como parte de um ataque orquestrado pelo Estado russo.
O presidente Vladimir Putin sempre negou que oficiais russos tenham tentado matar Navalny, que é um dos opositores e críticos mais ferozes de Putin no país. O FSB também rejeitou as acusações.
Acusada de "invasão de domicílio" por meio de violência e ameaça de violência, Sobol agora enfrenta uma pena de até dois anos de prisão, segundo informações do Comitê de Investigação da Rússia. "Quando a proprietária abriu a porta, Sobol empurrou a mulher para o lado [...] e invadiu o apartamento", diz a nota do órgão, sem dar muitos detalhes adicionais.
Navalny, por sua vez, afirma que Sobol apenas tocou a campainha da casa. "Você bate na porta de um assassino. Eles [a polícia] quebram a sua e levam você para interrogatório", denunciou o opositor russo em comunicado em sua página na internet.
Segundo fontes próximas de Navalny, a polícia russa prendeu Sobol em sua casa na manhã desta sexta-feira e a levou para a sede do Comitê de Investigação da Rússia para ser interrogada. A câmera de segurança do lado de fora do apartamento mostra homens mascarados e encapuzados, que depois bloqueiam a câmera com fita adesiva.
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Mulheres mais influentes
Lyubov Sobol, de 33 anos, atua como advogada na equipe de Navalny e trabalha para expor a corrupção entre altos funcionários russos. Ela costuma aparecer em vídeos no Youtube que geralmente somam centenas de milhares de visualizações.
A emissora BBC escolheu Sobol como uma das 100 mulheres mais influentes do mundo no ano passado. Ela tentou concorrer à câmara municipal de Moscou nas eleições de 2019, mas não obteve permissão para se registrar como candidata.
O envenenamento
Alexei Navalny acredita que um esquadrão do FSB tentou matá-lo há cerca de cinco meses com o químico Novichok, desenvolvido pela antiga União Soviética.
Em agosto, o dissidente russo de 44 anos foi transportado por médicos para a Alemanha após ficar gravemente doente durante uma viagem em que foi fazer campanha para políticos da oposição na cidade siberiana de Tomsk. Em Berlim, Navalny foi tratado no Hospital Charité.
Laboratórios alemães, franceses e suecos atestaram que Navalny foi envenenado com Novichok, mas autoridades russas alegam que não encontraram nenhuma evidência que apoie essa conclusão.
Na quinta-feira, médicos de Berlim que trataram Navalny divulgaram os detalhes clínicos do envenenamento, em um artigo de quatro páginas publicado na revista científica The Lancet, uma das mais prestigiadas do mundo. Segundo Navalny, trata-se da "prova" médica que Moscou tanto pedia.
EK/dpa/rtr/lusa/ots
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.