A União Europeia se mostra impotente, dividida e tacanha quanto a acolhimento de refugiados no continente. Enquanto isso, atravessadores inventam formas cada vez mais ousadas de contrabandear pessoas.
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Segundo dados da Comissão Europeia, no ano de 2014, mais de 276 mil pessoas entraram ilegalmente na Europa. Isso é quase 140% a mais que no ano anterior. E a grande maioria dessas pessoas veio através do Mediterrâneo. O método mais recente dos atravessadores provou ser tão cruel quanto empreendedor: eles compram velhos navios cargueiros, os recheiam com refugiados, cobram milhares de euros de cada um e, no meio do caminho, o capitão abandona o barco, deixando ligado o piloto automático em direção à costa italiana.
Recentemente, dois desses "navios fantasmas", o Ezadeen e o Blue Sky M, cada um com centenas de refugiados a bordo, teriam se chocado contra a costa rochosa italiana, se a Guarda Costeira não os tivesse interceptado e salvo as pessoas a bordo.
Falta de monitoramento
O comissário europeu de Assuntos Internos, Dimitris Avramopoulos, exigiu em discurso no Parlamento Europeu uma "ação decidida e coordenada" da União Europeia (UE) para combater a nova estratégia dos atravessadores.
Depois que a Itália pôs fim, no ano passado, à missão de resgate em alto-mar Mare Nostrum, esta deverá ser substituída pela missão da UE Triton, sob coordenação da agência europeia de fronteiras Frontex. Mas esta não é uma sucessora de verdade. Em particular, o campo de atuação da Triton é extremamente restrito, de forma que os barcos de atravessadores podem seguir viagem livremente, desde que se encontrem em águas internacionais.
Turquia faz vista grossa
Além disso, no principal país de trânsito, a Líbia, quase não existe mais ordem pública desde a queda do ditador Muammar Kadafi, há três anos. Assim, falta à UE um interlocutor quando se trata de impedir fluxos migratórios já na margem sul do Mediterrâneo.
Por esse motivo, a bancada do Partido Popular Europeu (PPE) no Parlamento em Estrasburgo apelou a toda UE em prol de um engajamento no país do Norte da África: "A Líbia não pode se tornar uma segunda Síria." De acordo com o partido, os europeus deveriam se aliar a parceiros internacionais para ajudar a criar estruturas de Estado funcionais.
Para a UE, a Turquia é certamente um parceiro, além disso, trata-se de um país que pretende ser admitido na União Europeia e, por esse motivo, deveria estar particularmente disposto a uma cooperação. Apesar disso, cada vez mais barcos de refugiados e precisamente os "navios fantasmas" partem também de portos turcos e, aparentemente, as autoridades fecham os olhos para tal fato. A UE espera que a Turquia faça algo contra isso e está em conversações com Ancara.
Medo de importar conflitos
Tudo isso não vai conseguir reduzir significativamente o número de refugiados que chega à Europa, levando em consideração que os países vizinhos da Síria estão completamente sobrecarregados. Por esse motivo, Avramopoulos exige dos países-membros da UE que sejam mais generosos diante das dificuldades, principalmente na Síria.
E se a disposição de conceder asilo até agora não foi das maiores, muitas pessoas ficaram ainda mais reticentes diante da violência de cunho islâmico. Muitos temem que, junto com os refugiados, extremistas também entrem na Europa. No Parlamento Europeu, isso foi contestado pelo político social-democrata Gianni Pittella: "Terroristas não precisam fazer travessia. Eles são financiados pelas redes terroristas, eles têm dinheiro", afirmou.
Crítica a Schengen
Uma política de refugiados europeia coordenada e abrangente ainda não existe. A Convenção de Dublin, segundo a qual um refugiado deve pedir asilo no país de entrada no território europeu, existe só no papel – tal sistema entrou praticamente em colapso.
A Itália, de longe o destino mais comum dos refugiados que chegam à Europa, se livra dos visitantes indesejados à sua maneira: Roma simplesmente permite que os refugiados sigam viagem, na maioria das vezes em direção ao Norte, por exemplo, para a Alemanha. Já não existem mais controles de fronteira entre os países do Espaço Schengen, ao qual pertence a maioria dos países europeus.
Dieter Romann, chefe da polícia federal alemã, criticou essa realidade em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine: "Se a entrada ilegal de pessoas que não gozam do direito de livre circulação acontece por via de países seguros, isso não é necessariamente um indício de bom funcionamento do Sistema Schengen-Dublin." Entre a intercepção de uma pessoa na Itália e sua chegada à Alemanha transcorrem, frequentemente, menos de três dias. Essa foi uma crítica surpreendentemente aberta do chefe de um órgão de segurança alemão.
Regularmente, vem à tona a exigência de que a UE deve repartir com equidade os refugiados entre os países-membros, de acordo com a população e o poder econômico de cada país. Mas os países que deveriam acolher um número maior de refugiados através dessa medida se opõem a ela. O antigo sistema entrou em colapso, e até agora não há nenhum outro previsto para substituí-lo.
A semana em imagens (de 19 a 25 de janeiro)
Veja os acontecimentos que marcaram o noticiário internacional.
Foto: Reuters/M. Brindicci
Vitória da oposição na Grécia
A vitória da aliança esquerdista Syriza nas eleições parlamentares da Grécia, realizadas neste domingo, é confirmada logo nos primeiros levantamentos após a votação. Entre as principais bandeiras do partido está a suspensão do programa de austeridade imposto em troca de ajuda financeira internacional ao país em crise. (25.01.2015)
Foto: Reuters/Y.Behrakis
Abraço de Obama e Modi
Presidente americano, Barack Obama, e primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, mostram sintonia em um simbólico abraço assim que o chefe de governo dos EUA desembarca em Nova Déli. Mais tarde, eles anunciariam acordo de cooperação nuclear e nas áreas de comércio e defesa. (25.01.2015)
Foto: picture-alliance/AP Photo
Alemanha coberta de neve
Uma frente fria cobriu de branco boa parte da Alemanha neste sábado. Por volta de meio-dia, cidades como Schleswig, no norte, Emden, na Baixa Saxônia, e Düsseldorf, na Renânia do Norte-Vestfália, já tinham acumulado 7 centímetros de neve. Até o fim da noite, preveem institutos de meteorologia, a neve deve chegar ao Lago Constança – extremo sul do país. (24.01.2015)
Foto: picture-alliance/dpa/Marcel Kusch
Morre rei saudita
O rei Abdullah da Arábia Saudita morreu vítima de uma pneumonia. O sucessor é o seu meio-irmão e príncipe herdeiro, Salman, que já exercia algumas funções do rei, internado em dezembro. Abdullah, que tinha mais de 90 anos, governou a Arábia Saudita desde 2005, mas era o governante de facto desde 1995, depois de seu antecessor, o rei Fahd (também um meio-irmão), ter sofrido um derrame. (23.01.2015)
Foto: Reuters/D. Martinez
BCE tenta aquecer zona do euro
Banco destina 60 bilhões de euros por mês para a compra de títulos públicos, na esperança de afastar a deflação da área de moeda única europeia. Programa deve ter início em março e durar pelo menos até setembro de 2016. Na foto, o presidente do BCE, Mario Draghi. (22.01.2015)
Foto: REUTERS/Kai Pfaffenbach
Pequeno orangotango encanta a Alemanha
Um filhote nascido no zoológico de Berlim no início da semana foi batizado de Rieke. O nome foi escolhido entre 600 propostas enviadas por leitores de dois jornais. O orangotango, que foi rejeitado pela mãe e está aos cuidados de funcionários do zoológico, mede 38 centímetros e pesa 1,8 quilo. (22.01.2015)
Foto: Zoo Berlin/dpa
Ataque a ponto de ônibus na Ucrânia
Poucas horas depois do encontro em Berlim para negociar um cessar-fogo na Ucrânia, um ataque próximo a um ponto de ônibus na cidade de Donetsk deixou pelo menos sete civis mortos e nove feridos, segundo as autoridades locais. (22.01.2015)
Foto: Reuters/Reuters TV
Líder do Pegida renuncia
Depois de a imprensa alemã divulgar uma foto em que ele aparece imitando Hitler, o líder do Pegida, Lutz Bachmann, renunciou ao posto. A foto, e denúncias de que Bachmann teria publicado ofensas a refugiados em sua página no Facebook, levaram promotores a abrir um inquérito contra ele por incitação ao ódio. (21.01.2015)
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
Obama em tom desafiador
Falando diante de um Congresso dominado pelos republicanos, presidente dos EUA, Barack Obama, destacou recuperação econômica e defendeu medidas que beneficiem a classe média, em detrimento das camadas mais ricas. Obama também pediu o fim do embargo econômico a Cuba. (21.01.2015)
Foto: Reuters
Nacionalidade francesa para Bathily
O muçulmano Lassana Bathily, que ajudou a salvar a vida de várias pessoas no atentado a um mercado judaico de Paris, em 9 de janeiro, recebeu a nacionalidade francesa das mãos do primeiro-ministro Manuel Valls e do ministro do Interior, Bernard Cazeneuve. "Estou muito feliz por ter a dupla nacionalidade", disse Bathily, que teve um pedido recusado em 2011. (20.01.2015)
Foto: picture alliance/AP Photo
Dilma veta correção na tabela do IR
A presidente Dilma Rousseff não aprovou a correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda para pessoas físicas, argumentando que "levaria à renúncia fiscal na ordem de 7 bilhões de reais". (20.01.2015)
Foto: Reuters/P. Whitaker
China registra pior crescimento desde 1990
A segunda maior economia do mundo cresceu 7,4% em 2014, menos do que a meta estabelecida pelo governo e do que no ano anterior. Economistas e FMI preveem nova desaceleração em 2015. (20.01.2015)
Foto: AFP/Getty Images/J. Eisele
Protesto contra "Charlie Hebdo" na Chechênia
Patrocinada pelo governo, manifestação contra a publicação de caricaturas de Maomé pelo jornal satírico francês reúne 800 mil pessoas na capital Grózni. (19.01.2015)
Foto: Reuters/E. Korniyenko
Guiné reabre escolas
Com a diminuição de casos de ebola, governo retoma aulas depois de dez meses e adota diretrizes para proteger estudantes. No fim de semana, vizinho Mali foi declarado livre da doença. (19.01.2015)
Foto: AFP/Getty Images/C. Binani
Desigualdade social
Segundo relatório da Oxfam, a riqueza acumulada de 1% da população mundial vai superar a dos outros 99% em 2016. Hoje, para cerca de 80% da população já restam apenas 6% da fortuna global, e 1 bilhão de pessoas vive com 3 reais por dia. (19.01.2015)
Procurador que denunciou Cristina Kirchner é encontrado morto
Alberto Nisman havia acusado, na semana passada, a presidente argentina de favorecer suspeitos iranianos de ataque a centro judaico com o objetivo de se aproximar de Teerã. Causa da morte ainda é desconhecida. (19.01.2015)